terça-feira, 29 de novembro de 2011

JÚLIA de Marcus Di Bello

TEMA: NOVELA

(Interior de um quarto de menina. Uma cama muito bem arrumada e uma porta ao fundo.)

ANA
Júlia.
(Tempo)
Você consegue me ouvir?
(Tempo)
As coisas aqui em casa não andam bem. Mamãe foi internada de novo. Estou tão preocupada, Júlia. Sabe, eles não tratam bem os pacientes naquele lugar. Só tem gente malvada naquela clínica. Eu sei disso, eu vi em sonhos. Meus sonhos não mentem, você sabe. Ela pode estar sofrendo agora.
(Desvia o olhar).
É.
(Tempo)
Semana passada o vovô morreu. A família toda tá brigando pela herança agora. Eles nunca se importaram quando ele tava vivo, por que agora se importam? Não devia ser assim, Júlia. Quando uma pessoa morre, ela devia levar tudo com ela. Mesmo o que fosse ruim. Levando coisa ruim o mundo ficaria melhor. Levando coisa boa ninguém brigaria por herança.
(Tempo)
É, não faz muito sentido.
(Tempo)
Contar um sonho meu? É claro que eu conto. O de ontem foi bem legal, você vai gostar. Eu tava num gramado, muito verde. O céu brilhava tanto que chegava a doer a vista. Mas era bom, sabe. Então chegou um palhaço com um chapéu enorme, que dava umas cinco de você.
(Ri)
Ele era muito grande e tinha uma voz engraçada. Então ele falou “me abrace, diga coisas boas, fique aqui comigo”. Mas eu não fiquei. Eu disse “infelizmente não posso, seu palhaço, mas qualquer dia eu volto”. Então eu fui embora. Na saída tinha duas portas. Eu sabia que cada uma levava para um destino diferente. Aí eu acordei.
(Tempo)
Não sei qual escolheria. Achei estranho, porque a vida não dá apenas duas opções, não é, Júlia? Por que escolhemos entre extremos se entre eles existe algo? Eu sei que a vida não é assim. Eu vejo nas novelas.
(Tempo)
Sabe o que eu queria mesmo? Viver numa novela. Seria o máximo. Você não gostaria também? Já pensou em ter aqueles cafés-da-manhã enormes e sempre ser feliz no final. Seria bom se eu tivesse uma novela. “A Vida de Ana”. O que acha? Você também estaria na novela. Seria tão legal.
(Tempo)
Escrevi um poema, Júlia. Quer ouvir?
(Sorri)
Está bem
(Pega um papel dobrado)
Se alguém, um dia, me der amor
eu juro que adiciono uma letra
ou duas, transformando em clamor
porque amor não se aceita
amor se conquista
seja numa troca de olhares
seja nos versos de um artista.
(Tempo)
O que você achou? Bonito, né? Ah, você sempre soube que eu escrevia. Eu faço isso o tempo todo. É o momento em que eu viajo. É o momento em que sou completamente livre, o momento em que posso expressar o que sinto. Não existem limites na escrita. Ninguém te obriga a escolher uma porta, ninguém briga por herança. É quando posso ter uma vida de novela. É quando sou feliz.
(Tempo)
Claro que eu te ensino a escrever, Júlia. Quando você quiser! Vai ser um prazer enorme. Um dia eu te dou uma aula. Vai ser demais!
(Tempo)
Eu também te amo, Júlia.
(Batida na porta. Ana se assusta)
Deve ser papai.
(Outra batida)
Eu já estou indo dormir, pai.
(Desesperada. Black out. Ana começa a gritar. Barulho de cinto. De repente o barulho cessa e ouve-se o choro baixo da menina)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

“DOCUMENTÁRIO EM FAMILIA”, de Junior Texaco.



Tema: cinema.
Personagens: Geraldinho, o filho.
                          Walter, o pai.
                          Clorinda, a mãe.   

(Walter está no banheiro, sentado na privada e entra Geraldinho, com uma câmera filmadora, dessas modernas, hd e tal.)

Geraldinho (entra filmando)– Sorria papai, você está sendo filmado.
Walter – Mais essa agora. Essa câmera na sua mão é um perigo seu demoniozinho. Quer que eu faça o que agora? Que limpe a bunda? (faz isso), levante?(faz isso) e me arrume? (arruma as calças).
Geraldinho – Isso papai, se entrega.
Walter – Escuta Geraldinho, acho bom você parar com isso e apagar o que você filmou senão não sei o que faço!
Geraldinho – Boa papai, põe pra fora. Vai surtando enquanto eu rodo em volta de você. Vai ficar um luxo! Bem Glauber Rocha.
Walter – Clorinda! Ô Clorinda! Venha cá por favor ver o que seu filho está aprontando dessa vez. Para de rodar em volta de mim, diabo. Tá me deixando zonzo!
Entra Clorinda.
Clorinda – Que que foi. Que está acontecendo?
Walter – Seu filhote doido com essa câmera na mão, me filmou cagando e está dizendo que é Glauber Rocha, depois não querem que eu beba.
Clorinda – Mas você ainda não contou pro teu pai, coisinha linda fofa da mamãe...
Walter (reparando melhor) – Mas escuta. Onde você vai assim emperequetada a essa hora da manhã? Que roupa é essa? E essa maquiagem?
Clorinda – Ontem ele me filmou passando a chapinha no cabelo. Eu deixei por dez por cento de cachê, ameacei dar um sumiço na câmera de surpresa, coisa que você não é capaz de fazer. Mas agora não me pega mais.
Walter – Pois eu faço, viu? Se ninguem me explicar o que significa essa câmera na mão desse menino, olha lá Clorinda ele não para de filmar. Está me assustando, e você tambem com essa cara esquisita.
Geraldinho (sempre filmando)– Calma papai, estou fazendo um documentário sobre a minha vida como ela é.
Walter – Mas o que tem de interessante a tua vida menino? Você só faz é atormentar a gente com as suas loucuras.
Geraldinho (sempre filmando) – Isso papai, jóia. É dizer o que pensar de mim. Desabafa. Assim o filme vai arrasar.
Walter – Ah vai mesmo. Mas sem o papai cagando, senão não tem filme, viu?
Clorinda – Filhinho, olha, conta pro teu pai a sua ideia conta…conta pra ele o que você vai fazer…(ri baixinho meio histeica)
Walter – Clorinda você está me assustando. Já tomou os remedios?
Geraldinho (sempre filmando) – Nossa mamãe, a senhora assim toda maquiada fica mais falsa. Fica só assim, quero fazer umas cenas com a senhora com essa cara de maluca. Tão Hitchcockeana.  Um luxo , mãe.
Walter – Mas onde esse menino inventa essas palavras?
Geraldinho (sempre filmando) – Hitchcockeana pai, de Alfred Hitchcock. Aquele diretor de filmes de suspense, que tinham sempre uma personagem que era doida e fazia umas caras assim igual a mamãe quando fala comigo dizendo que gosta de mim. Falsa e com cara de louca.
Clorinda – Me respeita coisa do demo. Que eu acabo com a tua festa já.
Geraldinho (sempre filmando) – Isso mamãe, bota pra fora essa angustia da hipocrisia, mostra a tua cara Brasil.
Clorinda – Você vai ver o Brasil no meio do teu focinho!
Walter – Me tira essa minha cena cagando eu não quero que você tenha isso!
Geraldinho (sempre filmando) – Mas papai é pra dar um toque surreal ao filme.
Walter – E desde quando cagar é surreal? E pra que esse filme? Nem celebridade você é.
Geraldinho – É um documentário sobre minha vida, com você, a mamãe, a vovó, a tia Noêmia…
Clorinda – Conta logo coisinha endiabrada da mamãe, conta o que você vai fazer….(ri meio louca)
Walter – Estou assustado.
Geraldinho – Não precisa agir assim mamãe. Como uma retardada mental.
Clorinda – Que é isso menino? Mais respeito. Estou aqui colaborando com essa sandice porque é capaz de dar um dinheirão e você fica dando uma de ignorante comigo. Foi essa a educação que te dei?
Geraldinho (sempre filmando) – Foi. Sua interesseira!
Walter – Podem parar os dois. Eu quero saber dessa estória já. Tintin por tintin.
Geraldinho (sempre filmando) – É para um festival de cinema de diversidade sexual. Vou fazer uma operação…
Walter – Operação?
Geraldinho – Depoimentos da familia, dos amigos…
Walter – Que operação?
Geraldinho – Já tem até patrocínio, uma emissora de tv paga. Vou pra Tailândia e me deram carta branca. Vai ser tipo um reality show. Vou ganhar um dinheirão. Participação nos lucros e tudo.
Walter – Que operação, vai operar o quê?
Geraldinho – Vou trocar de sexo. Vou me chamar Geraldine. No final do documentario eu serei mulher finalmente. E rica. Livre de vocês. Meu filme vai ser um sucesso.
Walter – Tô besta. Com a minha cara no chão. Vou mudar de nome e desaparecer.
Clorinda – É meu querido. Nós criamos filhos para o mundo. Mas em muitos casos o mundo cria filhos pra gente.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O CONTRATO de Marcus Di Bello

TEMA: CINEMA

(Mesa de restaurante. Andréa, produtor e produtora estão conversando)

PRODUTORA
O diretor gostou muito da sua leitura.

PRODUTOR
E olha que tinha atriz mais experiente no páreo, se me permite falar assim.

ANDRÉA
Sem problema algum. Estou feliz em poder fazer esse filme. É ótimo para a minha carreira.

PRODUTOR
Leu bem o contrato?

ANDRÉA
Sim, entendi tudo. Não tenho problemas quanto a ele.

PRODUTORA
Excelente! Vocês poderiam me dar licença? Preciso usar o toalete.

ANDRÉA
Claro.

PRODUTOR
Vou aproveitar para lavar a minha mão, antes que as bebidas cheguem. Andréa, você se importa em ficar alguns segundos sozinha?

ANDRÉA
De jeito nenhum, por favor, fique a vontade.

PRODUTOR
Com licença.

(Os dois produtores saem. Andréa lê o contrato. Fagundes se aproxima. Encara Andréa por alguns segundos antes de abordá-la)

FAGUNDES
Com licença, você é atriz, não é?

ANDRÉA
Sim. (Desconcertada)

FAGUNDES
Que maravilha. Nunca achei que encontraria alguém como você. Vi todos os seus filmes.

ANDRÉA
Todos? Mas eu só fiz um até agora, um dos últimos do Selton Mello. Deve estar me confundindo.

FAGUNDES
Esse do Selton Mello eu não vi. Estou falando dos seus outros.

ANDRÉA
Que outros? (Sem graça)

FAGUNDES
Odara Pacheco, atriz pornô, não é?

ANDRÉA
(Quase dando um salto no pescoço dele)
Fala baixo, pelo amor de Deus!

FAGUNDES
Eu adoro os seus filmes, assisto até hoje. Vi o Senhor dos Anais e o Quem Quer Ser um Encaralhado. Mas o meu preferido, sem dúvida, é o Tetanic.

ANDRÉA
Tá bom, tá bom. Chega. Eu já não faço mais pornô e agora não é um momento bom para encontrar um fã. Estou assinando um contrato para uma mega produção nacional.

FAGUNDES
Qual? Foda de Elite?

ANDRÉA
Você não entendeu, eu parei com pornô. Agora, por favor, dá o fora daqui, logo mais os produtores voltam. Eles não podem saber que eu já fiz filmes assim.

FAGUNDES
Preciso de algo pra ir embora.

ANDRÉA
O quê?

FAGUNDES
Pode ser fazer um filme adulto com você, que tal?

ANDRÉA
Já disse que eu não faço mais isso.

(Produtores voltam)

PRODUTOR
Quem é o senhor?

FAGUNDES
Olá, sou Fagundes, o empresário da Pacheco.

PRODUTORA
Pacheco? Não era Andréa Lima?

ANDRÉA
(Desesperada)
Andréa Lima Pacheco, é isso.

FAGUNDES
É tanta intimidade que só a chamo pelo último nome.

PRODUTOR
Andréa, por que não contou que tinha um empresário? Facilitaria as coisas.

ANDRÉA
Pois é, né. Às vezes nem eu lembro que tenho um.

FAGUNDES
Vamos fechar negócio então.

PRODUTORA
Claro. A Andréa já deve ter passado todas as informações ao senhor. Essa grande produção será gravada a partir de maio, com um grande elenco. Já firmamos o cachê semanal de quatro mil reais, e como ela....

FAGUNDES
Um minuto. Quatro mil reais por semana? É isso?

PRODUTOR
Pouco?

FAGUNDES
Muito!
(Andréa põe a mão na cabeça, sem saber o que fazer)
Pode reduzir isso para dois mil. A Pacheco aqui já fez muito filme por muito menos que isso.

PRODUTOR
Muito filme? Mas no currículo dela só consta um filme.

FAGUNDES
É que ela não coloca as produções na internet, não é verdade, Pacheco?

ANDRÉA
Produções na internet, claro.

PRODUTORA
Nunca vi nada.

ANDRÉA
É que... foram em outros países!

FAGUNDES
Vocês não conhecem quem estão contratando. Ela já fez filme em Senegal, Gana, Zimbábue e até no Pólo Norte.

PRODUTORA
No Pólo Norte?

ANDRÉA
(Para Fagundes)
Pólo Norte?

FAGUNDES
(Para Andréa)
É. O Era do Grelo.

PRODUTOR
Podemos fechar por dois mil então?

FAGUNDES
Podemos.

PRODUTOR
Bom, continuando. As cenas de ação deverão ser feitas por ela, porque somente os dois protagonistas terão dublês.

ANDRÉA
Isso era algo que eu queria falar. Acho que preciso de dublê.

FAGUNDES
Sem problemas, nada de dublê. Ela é uma mulher de peito, enfrenta o perigo de frente.

PRODUTORA
Ótimo, nesse caso só falta assinar o pré-contrato.
(Entrega o contrato para Andréa. Ela está irritada. Assina)
Ótimo. Tudo certo então.

PRODUTOR
Vou conferir o que aconteceu com as nossas bebidas. Fagundes, quer alguma bebida?

FAGUNDES
Um stanheger com uma raspinha de limão, por favor.

PRODUTOR
Com licença.
(Sai)

PRODUTORA
Preciso ir ao toalete mais uma vez, com licença.
(Sai)

ANDRÉA
Mais que merda foi essa que você fez? Abaixou o meu cachê e não me deu chance de brigar por um dublê.

FAGUNDES
Calma, pense pelo lado bom.

ANDRÉA
Qual?

FAGUNDES
Eu ganhei um emprego. E não ouse dizer que isso é sacanagem, porque você é expert nisso. Cada um tem o empresário que merece. E só mais uma coisa...

ANDRÉA
O quê?

FAGUNDES
Pode me dar um autógrafo?

(Fade-out)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

MAMÃE É DE MORTE de Kadu Veríssimo

(tema Cinema)
Personagens

Mãe
Filha
Lanterninha

(Mãe e Filha entram no cinema, está lotado, elas procuram um lugar, sentam, a luz diminui, inicia o trailer)

Mãe
Essas atrizes são tudo prostituta, só pode, porque elas não tem talento né Clotilde, só beleza...uma Beleza Americana ,tudo de peito gigante, e a bunda uma tábua né?... Clotilde minha filha to falando com você...

Clotilde
Pode falar mamãezinha querida...

Mãe
Deixa pra lá, onde já se viu, vir até o cinema, me faz comprar o ingresso pra dormir? você acha que meu dinheiro nasceu em árvore Clotilde, eu não cago dinheiro não...

Clotilde
Por favor mamãe, mais educação, olha as pessoas já estão começando a olhar...

Mãe
Pois que olhem, eu paguei ingresso e nem foi meia entrada, foi inteira, a minha e a sua, porque eu não pertenço a máfia da falsificação da carteirinha de estudante, não sou professora do estado e nem aposentada,  eu, que ganho apenas dois salários mínimos, que sou uma fodida, tenho que pagar dois, eu disse DOIS ingressos inteiros, sim porque você também não é nada né Clotilde, só fica aí curtindo a vida adoidado, te falei pra fazer magistério, pelo menos eu pagava meia entrada pra você, mas ta tudo errado nesse país, ah se eu pudesse era Bye Bye Brasil viu...

(alguém manda calar a boca)

Mãe
O que que é? (vira) Quem foi que me mandou calar a boca? Pois agora eu vou falar no filme inteiro...vou cantar, e vou falar tudo, porque essa daí é uma refilmagem vagabunda de um clássico, e eu sei tudo, sei como vai acabar, e se você me irritar eu conto tudo seu bosta...

(povo se exalta)

Clotilde
Mamãe por favor, senta que o filme vai começar...

Mãe
Mas ta no trailer ainda Clotilde, que mania feia essa sua de querer mandar em mim, eu sou sua mãe Clotilde, eu, e mais ninguém, eu que te pari, que te joguei nesse mundo, que te carreguei nove meses na barriga, fiquei marcada com uma cicatriz aqui (bate no ventre) por sua culpa, meus peitos foram ao chão, tive varizes, sim, elas nasceram por sua causa,sua Malvada,  logo eu, que tinha as pernas mais lindas do mundo hoje parece uma raiz de uma árvore, um tomate verde frito colado atrás do meu joelho, minha perna inteira parece um...

(alguém joga uma lata de refrigerante)

Mãe
Que absurdo? Me jogaram uma lata Clotilde, uma lata de refrigerante, (levanta) quem foi o marginal que jogou isto em mim...

Lanterninha
Olá, por favor a sra pode sentar o filme vai começar...

Mãe
Ah não vai, não vai mesmo,manda parar essa joça, que você tá pensando? Que eu vou deixar isso barato, eu quero saber quem foi que jogou isto em mim...

(platéia faz psiu, manda sentar, xinga, etc )

Lanterninha
Se a sra não sentar eu vou ser obrigado a pedir pra sra se retirar...

Mãe
O quê é isso companheiro???

Clotilde
Senta aí mãe, que vergonha...

Mãe
Você ouviu isso Clotilde, ele vai mandar eu sair...que país é este? É 2012? O fim do mundo?é o Apocalipse só pode , eu pago entrada inteira, me jogam uma latinha de refrigerante, e eu que tenho que sair?

Lanterninha
A sra está fazendo confusão, é uma arruaceira...

Mãe
Mais respeito seu merda, seu grande monte de bosta, olha lá como fala comigo...

Clotilde
Mãe, senta logo, ou vamos embora...

Mãe
Eu não vou sentar Clotilde, e eu não vou embora, eu quero saber quem me jogou essa latinha...

Lanterninha
Eu vou chamar o segurança...

Mãe
Chama, chama o segurança,chama a Dilma, chama o Papa,a Rainha, chama o Lula o filho do Brasil, chama quem quiser, que agora daqui eu não saio, que eu to com a chama da vingança nos olhos

(jogam um saco de pipoca nela)

Mãe
Olha isso, olha isso...

Clotilde
O filme já começou...

Mãe
Veio do fundão ... 

(começa a caminhar por cima das cadeiras, bagunça geral)

Clotilde
Mãe, desce daí

Lanterninha
Sra é proibido subir nas cadeiras...

Mãe
Vai a merda....foi aqui nesse fundão não foi? fala quem foi o Alien que fez isso? O ET filho da puta que me jogou essa pipoca e essa lata que eu faço engolir tudo isso de uma vez...

(lanterninha chama no rádio)

Lanterninha
Por favor manda um segurança para a sala dois...

(ela ouve e vem com rapidez e fúria pra cima do lanterninha que cai no chão)

Mãe
Você ta querendo me desafiarnão é? mas eu assisti kill bill

Lanterninha
Eu vou processar a sra...

Clotilde
Chega mãe, vamos embora....

Mãe
Quem tu pensa que é? O Poderoso Chefão? Tu não passa de um lanterninha de merda, tua vida é no escuro porque tu é feio feito o Freddy Krueger, e tu não me toca Clotilde...

(platéia faz barulho indignada)

Mãe
Para esse filme que eu não peguei do comecinho e eu paguei inteira...para esse filme...

(vai para perto da tela de projeção)

Mãe
Eu mandei parar essa projeção,  volta esse filme, eu quero ver do comecinho, volta agora

(todos vaiam)
(lanterninha pega o rádio novamente)
(a mãe tira um revólver da bolsa)

Mãe
Pode parar...

Platéia
 Oh!

Mãe
Joga esse rádio no chão e senta aí bem quietinho...

Clotilde
Mãe, eu não sabia que a sra tinha uma arma...

Mãe
Você não sabe nada sobre mim Clotilde, nada, você é muito burra, nem parece minha filha....

Clotilde
Abaixa essa arma

Mãe
Eu vou dar um tiro em quem me jogou essa latinha e esse saco de pipoca, me diz quem foooooiiiii? 

(enlouquecida)

Clotilde
Chega mamãe, chega....

Mãe
Eu não sou sua mãe

Platéia
Oh!

Clotilde
O que?

Mãe
Você é Orfã

Clotilde
Não acredito...

Mãe
Isso que você ouviu, eu tenho o ventre seco, você foi ADOTADA! Não foi esta mão que balançou seu berço, eu te peguei com três anos já...

Platéia
Oh!

Clotilde
Porque nunca me contou?

Mãe
Porque não quis, agora chega Clotilde, senta aí e vamos assistir esse filme  (aponta o revólver para a sala de projeção) Volta essa merda agora....

Clotilde
(tira um revólver da bolsa) Não volta nada, deixa como está....

Mãe
Clotilde minha filha, você tem um revólver?

Clotilde
Eu não sou sua filha, como você disse, e também não sou essa boba e ingênua que você pensa que eu sou, eu sou Clotilde F. drogada e prostituída...

Mãe
Filha minha puta jamais....minha filha é uma linda mulher...

Clotilde
Eu tenho ódio e vergonha da senhora, eu sempre tive, você pra mim não passa de uma bolha, um filme de terror na minha vida....

(uma esta apontando o revólver pra outra)

Mãe
Isso esta parecendo cena de filme Clotilde

Clotilde
Filme contigo só se for pornochanchada, ou uma bela comédia...tipo o gordo e o magro

Mãe
Quem é o gordo?

Clotilde
Você

(tiro) (Clotilde cai no chão) (gritos e correria no cinema)

Mãe
Me chama de puta , mas não me chama de gorda....(atira pra cima) (chega perto de Clotilde)É minha filha, a Morte lhe cai bem....volta pra onde tu nunca devia ter saído sua chata, volta pro Planeta dos macacos, quem sabe lá vá para a luz...(cinema vazio) Agora sim , vou poder ver meu filme sossegada...nunca pensei que ver os Smurfs daria tanto trabalho....(senta, pega um saco de pipoca do chão e começa a comer e assistir ao filme)

Black-Out

VIDA E OBRA de Regina Célia Vieira

Tema: Cinema

A- Acho que eu vi um Chico Buarque!

B- Que?

A- Acho que eu vi um Chico Buarque.

B- Não seria, o Chico Buarque?

A- Não! É um Chico Buarque! O cara é muito parecido com o Chico! Tem aquele olhão verde e tudo. Só que é mais novo, assim que nem o Marcelo Antony!

B- Pera aí! Ele parece com o Chico ou com o Antony?

A- O Marcelo Antony é a cara do Chico! Nunca reparou, não? Tem aquele olhão verde e tudo! Só que o Chico é mais velho.

B- Eu não acho o Marcelo Antony parecido com o Chico!  Nem um pouco! Você tá é doida!

A- E você tá é míope! O Marcelo podia ser filho do Chico! Se eu fosse cineasta, eu faria um filme sobre o Chico e chamaria o Marcelo pra protagonizar.

B- Meu Deus! Acho que não estamos falando da mesma pessoa! Esse seu filme seria um desastre! O ator não tem nada a ver com a personagem em questão.

A- Eu chamaria, também, a Marieta pra fazer a mãe do Chico. Não seria engraçado? A ex-mulher fazendo a mãe dele? Tá certo que ela é um pouco nova pra ser a mãe do Antony, mas ele não parece ter a idade que tem.

B- Quantos anos ele tem?

A- Acho que 47. A minha idade.

B- Você não aparenta a idade que tem.

A- Obrigada!

B- Aparenta bem mais!

A- Por favor!  Não  estrague o meu dia! Mas continuando...! Eu vou chamar a Silvia Buarque pra fazer uma das trinta e cinco irmãs dele.  Sabe que o Chico tem irmã pra caramba, né?! Legal a filha do Chico fazendo a irmã dele.

E tem aquela ministra da cultura que é uma irmã dele.

B- Vai dizer que vai colocar ela no filme também? Ela não é atriz, não! Ela pensa que é cantora!

A- Eu posso colocar ela pra cantar no filme.  E tem a Miucha, que também é famosa!

B- Mas também não é atriz.

A- Não importa! Tem o Carlinho Brown que é genro...

B- Também não é ator...

A- Mas já foi pra Hollywood! E tem a namorada do Chico!  A Thais Gullin!

B- O que é que a Thais Gullin vai fazer na história?

A- Ela pode fazer o papel da Marieta!  Não seria engraçado?  A atual fazer o papel da ex?  Seria muito engraçado!

B- Você tá viajando! Metade desse elenco não é de atores! Só tem cantor!

A- E desde quando precisa ser ator pra fazer cinema no Brasil?   Haja vista, Sidney Magal, Ivete Sangalo, Daniel, Tony Garrido...

B- Ah! E você vai querer nivelar por baixo, o seu filme?

A- A Marieta, o Marcelo e a Silvia seguram na interpretação! O importante é contar a história do Chico. Sabe que eu sou fã dele né?

B- Nossa! E a trilha? Como vai ser?

A- Iniciamos com “Alegria, alegria” e fechamos com “O Quereres”.

B- Mas essas músicas não são do Chico!

A- Não?

B- São do Caetano Veloso! Você sabe muito é da vida do Chico, mas da obra...

A- Vem cá!  O Caetano tem o olho verde?

A CULPA É DO VOVÔ de Regina Célia Vieira

Tema: Greve.



Orlando- Como ele está?
Cacilda- Mal! Muito mal! Vovô Antares está morrendo!
Orlando- Há dois meses que ele está morrendo!
Cacilda-  Que falta de respeito! É nosso avô!
Orlando- Ah! Cacilda! Me poupe! Vovô já tá nesse morre, não morre, há um tempão! Aposto que ele tá louco pra ir embora e você é que não deixa! Fica aí chorando, pedindo pra ele ficar. Desapega mulher!  
Cacilda- Você não tem sentimentos? Só pensa na herança que ele vai deixar!
Orlando- Que herança?  Aquele fusquinha 68? Pode ficar pra você! Aproveita e fica com as dividas, também! Essa herança, sim, é bem valiosa.
Cacilda- Fica quieto Orlando, ele tá ouvindo!
Orlando- Oh! Minha irmã! Ele já se desligou daqui! Ele quer mais é descansar das suas lamurias! E é bom ele ir embora hoje mesmo, porque os coveiros estão ameaçando entrar em greve.
Cacilda- Orlando, por favor!
Orlando- Só estou sendo prático!  Se os coveiros entrarem em greve antes dele desencarnar, aí sim, teremos problemas!
Cacilda- Parte pra cima dele. Seu desgraçado!  Eu aqui sofrendo pelo vovô e você preocupado com greve!
Orlando- Cacilda!  Tenha dó! O vovô tá com 105 anos! Não sei como alguém aguenta viver tanto! Eu já estaria enjoado! Daqui a pouco ele entra pro Guinness!
Cacilda- (Se aproxima do avô)- Vovô! Ele não sabe o que diz.  Perdoa ele, vô! Perdoa...  Vovô! Vovô Antares!  Enfermeira! Enfermeira!
Orlando- O que foi?
(A enfermeira entra correndo.)
Cacilda-  Meu avó!  Parece que parou de respirar!
(Enfermeira verifica o estado do paciente.)
Enfermeira- Vou chamar o médico!
(Médico entra e examina Antares. Balança a cabeça!)
(Cacilda se desespera.)
(Orlando fica em silêncio.)
(Enfermeiros levam o corpo de Antares.)
(Orlando e Cacilda se abraçam.)
(Antônia, a outra irmã, entra no quarto.)
Antônia- Oi gente! Oi vovô...  Não!
Orlando- Sim! Vovô se foi.
Antônia- Meu Deus! Que o senhor faça uma boa passagem, vovô! Mas foi melhor assim...
Cacilda- Melhor pra quem? Pra você, Antônia? Pra você, Orlando? Só se for pra vocês que foi melhor! Pra mim, que cuidei dele esses anos todos, está sendo difícil demais! Eu é que levava ele ao médico.
Orlando- Eu é que dirigia o carro!
Cacilda- Eu dava a comida dele!
Antônia- Eu fazia a comida!
Cacilda- Eu dava os remédios!
Antônia e Orlando- Nós comprávamos os remédios!
Cacilda- Eu sempre me dediquei muito mais a ele, seus egoístas!
Orlando- Tá bom, Cacilda! Você é ótima! Só que agora o vô Antares partiu e todos nós estamos desolados, mas já esperávamos por isto! O que temos que fazer agora é cuidar do enterro.  Entendeu?
Antônia- Vai ser difícil!
Orlando- O que?
Antônia- Quando estava vindo pra cá, deu no rádio que os coveiros acabaram de entrar em greve!
Orlando- Não! Eh! Vô! Enrolou, enrolou...
Cacilda- Você é inacreditável, Orlando!
Orlando- Vai te catar Cacilda! O vovô tinha senso de humor! Não enche? O que vamos fazer?
Cacilda-  Nosso avó vai ser enterrado no jazigo da família! Fica no necrotério até a greve acabar.
Antônia- A greve é por tempo indeterminado! Nossa mãe não vai gostar nada, nada, de deixar o pai dela na geladeira por tempo indeterminado!
Orlando- Podemos leva-lo para outra cidade.
Antônia- A greve é nacional!
Cacilda-  Então a única solução viável vai ser cremá-lo!
Antônia- Esqueceu? Vovô sempre dizia que tudo menos ser cremado! Morria de medo de ir pro outro lado e ver o corpo dele pegando fogo!
Orlando- O vovô era ateu!
Antônia- Sabe como é, né?! Ateu, graças a Deus!
Orlando- Estamos num impasse!
Antônia- Eu estive pensando... O vovô era médico. Bebia e fumava. Só deixou esses vícios quando soube que estava doente. Ainda assim,  viveu até 105 anos. Vovó morreu, bem antes, como fumante passiva.  Vovô Antares é um caso a ser estudado pela ciência. Tenho certeza que ele ficaria muito feliz se doássemos seu corpo para a faculdade de medicina, mais precisamente, a faculdade onde se formou.
Orlando- Nossa! Que ótima ideia Antônia! O que acha Cacilda?
Cacilda- Se não tem outro jeito!
Orlando- E como a gente faz? A gente leva pra faculdade?
Antônia- Não precisa! Eles retiram no local.
Cacilda- Que maneira de falar!
 Antônia- (Discando o celular) - Aquele corpo que saiu daqui, não é mais o vovô! Ele está em um lugar muito melhor agora! Ele não acreditava, mas eu acredito! Alô! Boa tarde! Eu preciso de uma informação. Meu avô acaba de falecer e o grande desejo dele, era doar seu corpo para faculdade de medicina onde ele estudou e se formou. Você deve até conhecer, o Dr. Antares... Pois, é !... É, foi hoje, sim... Obrigada!  Nós já estávamos preparados... Bom,  eu gostaria de saber se vocês poderiam pegar o corpo aqui no hospital! Qual o procedimento?... Sei... Entendo... Certo.... Muito obrigada pela sua atenção! Até logo!
Orlando- E aí?
Antônia- Ela disse que justamente hoje, várias pessoas tinham familiares que desejavam doar o corpo á ciência após a morte e que até depois de amanhã não teriam mais horário para buscar corpo algum. Mas que poderíamos entrega-lo lá.
Orlando- Vou cuidar da burocracia.
Cacilda- Que situação! Não podemos nem nos despedir de nosso avô direito!
Antônia- Eu já me despedi dele há dois meses, atrás, desde que ele entrou em coma e não se podia fazer mais nada! Temos que aceitar!
Cacilda- A mamãe é que não vai aceitar o fato de não poder dar adeus a ele, temos que falar com ela.
Antônia- Vou ligar pra ela! Alô mãe! Tenha calma, mãe! Mas, o vovô não está mais aqui no quarto!... Não! Ele não foi fazer nenhum exame!... Não! Ele não foi tomar banho!... Não! Ele também não foi transferido de quarto.  Então...!  Como, o que aconteceu? Ele morreu, mãe! Morreu!... Eu tentei te contar com jeito, mas a senhora também... Não, mãe! Não chora... Calma, desculpa! Olha! Presta atenção! Está tendo uma greve dos coveiros! A greve é nacional e por tempo indeterminado! O vovô não queria ser cremado. E como a senhora não gostaria que ele ficasse numa geladeira por muito tempo, a gente decidiu doar o corpo dele á ciência.  Tudo bem?... Então? A senhora quer vir aqui no hospital se despedir dele?... Tá bem, mãe!... Não, pode deixar.  A gente vai mesmo doar pra faculdade. Ele não vai ficar na geladeira, não. A senhora vai ficar bem?... Desculpa, mãe! Te amo, viu! Tchau! (Desligando o telefone)  Ela não vem! Diz que prefere lembrar do vovô, vivo! Acho que ela quis dizer, vegetando! Enfim...!
(Cacilda olha para Antônia com ar de reprovação.)
Antônia- O que?
Cacilda- Definitivamente você e o Orlando não são meus irmãos!
Antônia- Bom, acho que você tem que checar isso com a mamãe e não comigo.
Orlando- Tudo certo! Podemos ir!
Cacilda- Vamos os três?
Antônio- Claro, até o fim.
Já no carro a caminho da faculdade.
Orlando- Ainda bem que eu vim com a van hoje. Parece que estava adivinhando. Mas que trânsito é esse?  Será que Aconteceu algum acidente?
Cacilda- Logo agora que a gente está quase na porta da faculdade.
Antônia- Espera aí! Parece que essa fila de carros dá na faculdade! Vou perguntar pro motorista da frente. (sai do carro) Esperem!
Orlando- Nem que a gente não quisesse, tinha que esperar né, Cacilda?
(Cacilda olha com desdém pra Orlando.)
Antônia- O cara da frente disse que não sabe dos outros, mas ele quer deixar o corpo do amigo na faculdade.
Cacilda- Não é possível que todos esses carros tenham gente morta dentro!
Orlando- Mas, metade do planeta resolveu morrer logo hoje?
Antônia- O jeito vai ser esperar!
Cacilda- Me acorda desse pesadelo, meu Deus! Me acorda desse pesadelo!
Orlando- Eu estou aqui pensando... Como alguém consegue colocar uma pessoa morta dentro de um carro pequeno?
Antônia- Não sei, mas o cara da frente tava com o amigo sentadinho do lado dele. Levei até um susto!
Cacilda- (Chorosa)- Ainda bem que o nosso avô tá esticadinho!
Antônia- Olha lá! Alguém da faculdade vai falar no microfone!
Homem- Senhores! Por favor, ouçam! Não poderemos mais aceitar corpos aqui na faculdade!
(Burburinho.)
Homem- Não! Não é por causa da superlotação e sim pelas péssimas condições de trabalho. O sindicato dos cientistas determinou em assembleia extraordinária, que entrássemos em greve a partir de agora.  A greve é nacional e por tempo indeterminado!
Orlando e Antônia- Essa não!
Cacilda- Pesadelo! Pesadelo!
Homem-  Os corpos que já estão aqui, ficarão. Aconselho que os demais retornem de onde vieram! Sinto muito!       
Antônia- Não acredito que o nosso avô vai ter que ficar na geladeira! Mamãe não vai gostar nada, nada, disso!
Cacilda- Pelo menos vovô será enterrado no jazigo da família!
 Orlando- Música é o que me resta pra salvar este dia!
Rádío-  Plantão extraordinário! Operários das companhias elétricas acabaram de entrar em greve. A greve é nacional e por tempo indeterminado! Voltaremos a qualquer mo....(Blecaute) 
Os três _ NÃÃÃÃÃÃO!!!!!






 
 




domingo, 20 de novembro de 2011

VAGINAS EM GREVE de Kadu Veríssimo

(tema Greve)
Personagens

Val
Gina
Jeba

(cena para bonecos, Val e Gina são dois bonecos de vagina)
( temos de cenografia  duas grandes calças jeans,os bonecos entram pelo espaço do zíper. Val abre o zíper rapidamente e grita)
Val
Ginaaaaaaaaaaaaaaaaaa !!!!!

(Gina abre o zíper devagar)

Gina
Porra Val aquieta essa periquita...

Val
Hoje eu to acesa, tô que tô! vamos Gina dá um tapa nessa cara , capricha nesse corte, me joga um talquinho, que hoje a noite vai ser boa...

Gina
Eu não vou ousar sair desta calcinha, to aqui tão aconchegada...

Val
Pelo amor né Gina, hoje é sábado, dia de por a perereca pra pular...

Gina
Pois eu estou em greve

Val
Ta louca, greve...greve do que?

Gina
Greve de fome, a partir de hoje não como mais nada, aqui não entra mais nada, só sai...

Val
E sua dona já sabe disso

Gina
A dona dela sou eu, é a vagina que manda na mulher e não o cérebro você não sabia? E além do mais ela ta fraca na praça...

Val
Ainda bem que a minha dona é descolada, curte de tudo...

Gina
Deus me livre, por isso você vive toda estrupiada, ontem quando te vi, você parecia ter pego um sol de 40° por horas...

Val
É que ela foi num clube de suruba , aí já viu né...

Gina
Aquele monte de amiga se esfregando em você, eu não gosto....

Val
Eu curto, sou livre de preconceitos Gina, aproveito pra por a conversa em dia...tem umas que tem a língua tão comprida....me falaram que a Margarete, lembra dela?

Gina
Sei

Val
Mudou de sexo

Gina
Passada!

Val
O mundo ta girando e se você não for no ritmo meu bem, você fica para trás...

Gina
Atrás eu também não deixo, fiz um acordo com o ânus, e nós dois entramos em greve...

Val
Coitada da sua patroa....mas ela ainda tem a boca...

Gina
Pensa que não pensei nisso? Toda vez que ela ousa fazer isso, quando ela ousa cair de boca por aí, eu me mijo na hora...se ela insiste passo um nextel pro ânus e ele se borra inteiro...aí não tem jeito né...ela tem que correr, porque o futum fica forte...

Val
Que maldade...

Gina
Maldade não, é a luta de classes, tenho os meus direitos... eu quero o que é meu de direito, quero deixar meu cabelo crescer, cansei deste mesmo corte por anos...quando ela não inventa de jogar aquela cera quente e me deixar em carne viva, ou me vem com aquela gilete quando tá com pressa, porra Val, eu sou alérgica a gilete....

Val
Sabe que você tem razão...

Gina
Eu quero respirar, quero ficar sem calcinha, quero e exijo um bom sabonete íntimo, e outra coisa, exijo um pouco de respeito, não quero ninguém entrando na minha casa assim, sem me conhecer direito, to ali dormindo, quando de repente sou invadida ...isso é um absurdo...Por isso mesmo a partir de hoje, eu estou em greve.

Val
Acho que vou aderir, já pensou em formar um sindicato? o que tem de vagina infeliz por aí...

Gina
E eu não sei? mas a maioria é por falta de trabalho mesmo, não estão na ativa né...você  sabe, tá faltando homem no mercado....

Val
 Minha patroa ultimamente anda me botando só pra conversar com minhas amigas, faz tempo que não encontro um rapaz alto e elegante por aí...

Gina
Fim dos tempos

Val
Não, sinal dos tempos...eu até gosto sabe, mas detesto quando ela fica me passando aqueles óleos que esquentam sabe, aquilo coça, e acabo sempre fedida e meio amortecida, não consigo sentir mais nada....

Gina
Vamos fazer o seguinte, reúna o número máximo de vaginas que você encontrar e podemos organizar uma passeata, um protesto....

Val
Ótimo hoje a noite terá festa na casa da Regina

Gina
Muito bom, hoje é um dia que elas iam nos botar pra trabalhar....

Val
Vou mandar mensagem de texto pra todas as minhas amigas avisando do nosso protesto de hoje então

Gina
Isso, faremos minutos de silêncio...greve geral...

Val
(enche as bochechas) Hora de ir...nossa to apertadíssima, nos encontramos mais tarde na fila do banco...(sai)

Gina
Não esquece de fazer parceria com a sua bunda também...o mundo é feito de parcerias Val...Val...já foi...

(entra uma calça jeans masculina)

Jeba
Oi

Gina
Jeba? O que você ta fazendo aqui?

Jeba
Saudades...

Gina
Não quero mais saber de você, já disse

Jeba
Poxa, eu gosto tanto de você...

Gina
Não adianta vir crescendo e encostando em mim, eu já disse que não quero nada...

Jeba
Não é o que os nossos patrões acham...

Gina
Aquiete-se, eu estou em greve...

Jeba
Quebra um pouco essa greve vai Gina...tenho tanta saudade de você, te acho tão especial....

(Gina deixa cair um pouco de água, fica atordoada)

Jeba
Viu, você está excitada...

Gina
(sem graça) Tô nada, eu...eu...tô transpirando só isso, essa calcinha de lycra não deixa a gente respirar...

Jeba
Vem aqui comigo vem, só um minutinho...

Gina
Eu não posso, eu estou em greve já disse...

Jeba
Eu te amo Gina...

Gina
o que você disse?

Jeba
Eu te amo Gina

Gina
(rápida)venha aqui agora Jeba, e me possua, Me possua!

Jeba
Assim que eu gosto....meu amor

Gina
Eu estou louca, louca por você,chega mais perto vai, vem que eu tô louca de tesão, tô louca de .... de....RAIVA pô Jeba....já dormiu?

(Jeba ronca)
(Gina chora)

sábado, 19 de novembro de 2011

FOFA de Marcus Di Bello

TEMA: GREVE

(Música sensual. Renata usa espartilho e está com os cabelos soltos. Passa creme no corpo. Entra Ricardo de jeans e camiseta branca. Abraça Renata por trás)

RICARDO
(Sensual)
Olá.

RENATA
Olá, bonitão.
(Beija pescoço dele)

RICARDO
Isso, me beija. Vai, assim mesmo. Vai fofa, faz assim que eu gosto.

RENATA
Fofa? Você me chamou de fofa?

(Entra Tulho)

TULHO
Corta! Porra, Rick, fofa não dá. O que deu em você?

RICARDO
Desculpa.

TULHO
Tá escrito no roteiro “vai, assim, assim que eu gosto”, então ela tem mais uma fala e já começa a transa. É simples. Não tem fofa no texto.

RICARDO
Desculpa, não vai mais acontecer.

TULHO
Então vamos do começo. Sete, oito.

(Mesma cena do começo)

RICARDO
(Sensual)
Olá.

RENATA
Olá, bonitão.
(Beija pescoço dele)

RICARDO
Isso, me beija. Vai, assim, assim que eu gosto.

RENATA
Me põe na caminha, põe?

RICARDO
Então Tulhão, essa fala eu não curto.

TULHO
Parou a gravação de novo, Rick? Por que não curte?

RICARDO
“Me põe na caminha”. Qual é, lembro da minha filhinha com essa fala. Brocha total! Assim não dá.

TULHO
Assim não dá digo eu! Vocês são pagos para seguirem o roteiro, apenas para isso. Tem um texto, vocês falam e fazem.

RICARDO
Mas eu cansei de seguir o roteiro. Por que não posso colocar a minha marca pessoal? Como vou crescer na carreira de ator?

RENATA
Eu faço crescer rapidinho.

RICARDO
Não é isso. Sabe, a gente não pode nem acrescentar uma fala. Preciso sempre seguir essa merda de roteiro. Eu tenho personalidade. Eu fiz teatro, sabe. Eu já montei Brecht, exijo reconhecimento. Quer saber, a partir de hoje estou de greve.

TULHO
Greve de sexo?

RICARDO
Greve de trabalho mesmo. Estou em busca dos meus direitos. Se os bancários podem fazer greve, por que eu não posso?

TULHO
Porra Rick, bancário faz greve porque é babaca. Só começa a trabalhar as nove horas da manhã, tem ar condicionado, segurança, salário bom e todos os direitos possíveis e imagináveis.

RENATA
(Para Ricardo)
A diferença é que lá o banco coloca na bunda da população, aqui você coloca na minha.

RICARDO
Renata, para e pensa um pouco. Não te irrita ficar nessa rotina? Ser um produto ao invés de um ser humano?

RENATA
Sinceramente? Enquanto eu continuar pagando a minha faculdade de relações públicas, estou feliz.

TULHO
Está vendo, Rick? Larga mão dessa greve. Você é o meu melhor homem aqui. Você é, literalmente, do caralho.

RICARDO
Eu não sei, Tulhão. Estou pensando nos meus direitos e na minha liberdade de expressão. O mundo não ‘tá fácil para ninguém. Se eu não pensar nisso agora, o que será de mim em dez anos? Preciso gritar hoje pelos meus direitos, para colher amanhã.

TULHO
O que eu posso fazer? Não podemos alterar as falas, isso realmente não dá para ser feito. Mas Rick, se você finalizar essa greve eu posso inserir uma cena de sexo oral da Renata com você.

(Ricardo olha para Renata, que faz cara de santinha)

RICARDO
Que se foda a greve!

TULHO
Esse é o Ricardão que eu conheço. Os dois, corram para a sala de maquiagem, refaçam tudo em cinco minutos que às vinte e uma e cinquenta quero voltar a gravar.
(Os dois saem)
Pois é. Se boquete fosse usado como moeda de troca ainda estaríamos na porra do feudalismo.

(Fade out)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A GREVE DE ROSY de Ronaldo Fernandes

TEMA: GREVE
ROSY: Sim, é isto mesmo. Claro. Pode discorrer com todas as acusações ditas ao meu respeito. O senhor pode as ler em voz alta. Por favor. Pode começar. O senhor pode aumentar um pouco a sua voz, pois nem eu, nem ninguém as ouvimos. Um pouco mais alto por misericórdia. Pelo amor. O senhor sussurra quando deveria gritar com todo o ar de seus pulmões. Já que o senhor insiste nesse pavio de voz, só me resta escutar. É que o senhor deve ser de boa educação. Só pode ser. Por isso fala tão baixo. Mas no pouco que eu consigo escutar as acusações são verdadeiras. É isto mesmo! O senhor tem toda a razão. Nossa, o senhor saber de todas essas coisas. Talvez seja porque o senhor é o senhor de todas as coisas. Pode começar. Sim, é isto mesmo. Claro. Talvez seja porque o senhor é o senhor de todas as coisas e pode discorrer com todas as acusações ditas ao meu respeito. Para o senhor saber de todas essas coisas deve ser porque o senhor é de boa educação. Por isso o senhor sussurra quando deveria gritar com todo o ar de seus pulmões. No pouco que eu consigo escutar, as acusações são verdadeiras. É isso mesmo! O senhor tem toda a razão. Mas o senhor pode as ler em voz alta. Por favor. Se o senhor aumentar um pouco a sua voz, já que nem eu, nem ninguém ouvimos seria melhor. O senhor insiste nesse pavio de voz. Só me resta escutar. Um pouco mais alto. Por misericórdia. Pelo amor. Claro. Por favor. Pode começar. Nossa o senhor realmente sabe de todas essas coisas. Sim, é isto mesmo. No pouco que eu consigo escutar, as acusações são verdadeiras. É isso mesmo! O senhor tem toda a razão. Já que o senhor insiste nesse pavio de voz, só me resta escutar. Um pouco mais alto por misericórdia. O senhor aumentaria um pouco a sua voz, já que nem eu, nem ninguém aqui ouvimos. Pelo amor. O senhor sussurra quando deveria gritar com todo o ar de seus pulmões. Talvez seja porque o senhor é o senhor de todas as coisas e pode discorrer com todas as acusações ditas ao meu respeito. Deve ser porque o senhor é de boa educação. O senhor pode as ler em voz alta? Pode discorrer com todas as acusações ditas ao meu respeito? Por favor? Pode começar? O senhor pode aumentar um pouco a sua voz, pois nem eu, nem ninguém as ouvimos? O senhor deve ser de boa educação? Nossa como pode o senhor saber de todas essas coisas? O senhor é o senhor de todas as coisas? Por que fala tão baixo? O senhor tem toda a razão? Sim? É isto mesmo? Qual a razão do senhor sussurrar quando deveria gritar com todo o ar de seus pulmões? Pode ser um pouco mais alto? Misericórdia?  O senhor insiste nesse pavio de voz? Só me resta escutar? No pouco que eu consigo escutar as acusações são verdadeiras? É isso mesmo?  Pelo amor? Não? Não pode ser pelo amor? Sim. É isto mesmo. O senhor tem razão. Não pode ser mais pelo amor. O amor está em greve. Vivemos a greve do amor. É uma greve permanente. A greve do amor.
A minha greve. Eu coloquei o amor em greve. Essa é a minha greve. A greve da Rosy.  A greve do amor. A minha cabeça está muito confusa. Eu não falo nada com nada. Tudo que eu falei antes não tem sentido. Mas eu vivo uma greve. A greve do amor. A minha greve. Eu coloquei o amor em greve. E todos deveriam me seguir. Vamos. Vamos lá. Coloquem esse tal de amor em greve. Vamos todos fazer a greve do amor. Só assim seremos salvos. Esta decretada a greve do amor. Que cabeça confusa a minha. No pouco que eu consigo escutar, as acusações são verdadeiras: Eu matei a todos que amei. O amor está em greve.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O ENCONTRO COM CHICO BUARQUE de Ronaldo Fernandes

TEMA: Chico Buarque
CÉLIA: (Em um telefonema nervoso): Ele não atende. (Disca novamente)
TEOBALDO: (Em outro local, atende o celular): Alô. Oi Célia. Tudo bem?
CÉLIA: (Falando ao celular) Teobaldo, você precisa me ajudar.
TEOBALDO: O que foi?
CÉLIA: Amanhã vai ter uma gravação de um clipe do Chico Buarque eu ganhei a promoção.
TEOBALDO: Que promoção?
CÉLIA: A do extrato de tomate.
TEOBALDO: Extrato de tomate?
CÉLIA: Sim. Você não lembra?
TEOBALDO: Não.
CÉLIA: Aquela do extrato de tomate que era pra mandar uma frase falando de alguma música do Chico Buarque e o prêmio, caso a sua frase fosse a mais criativa, é participar da gravação de um clipe dele.
TEOBALDO: E o Chico grava clipe?
CÉLIA: Eu ganhei.
TEOBALDO: Ganhou a promoção?
CÉLIA: Sim. A minha frase foi considerada a mais criativa.
TEOBALDO: Eu amo o Chico Buarque?
CÉLIA: Sim. Foi considerada a mais criativa.
TEOBALDO: Que bom. Parabéns.
CÉLIA: Foi a única frase que falava de amor. Por isso foi a mais criativa. Eu amo Chico Buarque. Não é tudo?
TEOBALDO: Pelo menos você ganhou. E agora?
CÉLIA: Agora é o seguinte. Eu comprei as passagens para ir ao Rio de Janeiro e...
TEOBALDO: Comprou as passagens?
CÉLIA: Sim.
TEOBALDO: Mas você não ganhou o concurso?
CÉLIA: Mas o concurso é só para participar do clipe. Os custos todo é por minha conta.
TEOBALDO: Como é?
CÉLIA: Que foi Teobaldo? Está com inveja? Eu vou participar da gravação do clipe do Chico Buarque meu filho. Não vejo a hora.
TEOBALDO: Ok. Você que sabe.
CÉLIA: Eu preciso de um favor seu.
TEOBALDO: Diga.
CÉLIA: Eu comprei as passagens para ir ao Rio de Janeiro, mas amanhã tem uma reunião super importante lá na empresa e eu preciso faltar. Eu não sei o que dizer. Preciso de sua ajuda. Eu não vou deixar de ver o Chico Buarque por causa de uma reunião de planejamento...
TEOBALDO: O que você quer que eu faça?
CÉLIA: Que me ajude. Eu não sei o que dizer. Mas eu preciso ir ao Rio ver o Chico Buarque. Não vejo a hora. Comprei as passagens pela Azul. Sai de Campinas. Vou acordar as três horas da manhã, dirijo até Campinas e lá pego o vôo para o Rio de Janeiro, chego no Rio as oito horas, pego o taxi la no Santos Dumont, vou até a Niterói...
TEOBALDO: Niterói?
CÉLIA: Sim. É lá que será a gravação do clipe. Chegando em Niterói corro até o estúdio e espero o Chico que deve chegar as duas horas da tarde, participo da gravação do clipe, depois pego o táxi até o Galeão, lá pego o vôo de volta, desço em Campinas por voltas das onze horas da noite, dirijo até a minha casa e vou dormir feliz por volta das duas horas da manhã...
TEOBALDO: Feliz?
CÉLIA: Sim meu filho, afinal não é todo dia que participo da gravação de um clipe do Chico Buarque.
TEOBALDO: É clipe de alguma música nova?
CÉLIA: Nada de música. É um poema.
TEOBALDO: Não entendi.
CÉLIA: Ele vai recitar um poema.
TEOBALDO: E a sua participação?
CÉLIA: Vou ouvi-lo recitar o poema e depois vou embora.
TEOBALDO: Todo esse trabalho para ouvir o Chico recitar um poema? Compra o DVD depois é menos trabalho...
CÉLIA: Imagina se eu vou deixar de ver o Chico Buarque ao vivo.
TEOBALDO: E o que você precisa de mim?
CÉLIA: Que você me ajude a inventar uma desculpa para eu faltar na reunião.
TEOBALDO: Liga dizendo que está com diarréia.
CÉLIA: Já usei isso a semana passada.
TEOBALDO: Que não dormiu a noite toda com mal estar.
CÉLIA: Dei essa desculpa a semana retrasada.
TEOBALDO: Que faleceu alguém.
CÉLIA: Já matei todos os parentes próximos.
TEOBALDO: Fiquei sem saída.
CÉLIA: Já sei. Você vai dizer que o Renato te ligou dizendo que eu tive uma crise de enxaqueca, que ele estava ligando porque eu não podia nem falar, e você diz na reunião, pede mil desculpas em meu nome, mas que eu não vou trabalhar por causa da minha enxaqueca, que eu devia estar muito mal mesmo, porque quem ligou foi o Renato, então é sinal que eu estou péssima.
TEOBALDO: Enxaqueca?
CÉLIA: Enxaqueca é ótimo. Basta a gente ficar quietinha, no escuro e tomar cafiaspirina que no dia seguinte está tudo bem...
TEOBALDO: Enxaqueca é uma boa.
CÉLIA: E no dia seguinte eu ainda vou chegar sonolenta, depois de dormir pouco, vou chegar com cara de pós-enxaqueca. Ótimo. Ninguém nem vai desconfiar. Posso contar contigo?
TEOBALDO: Claro.
CÉLIA: Obrigado amigo. Depois te conto tudo. Beijos. (Desligam o fone).

DIA SEGUINTE, NA REUNIÃO.
TEOBALDO: (Fala como se estivesse na frente de várias pessoas) O Renato, marido da Célia, acabou de ligar dizendo que ela teve uma crise de enxaqueca por causa do Chico Buarque... Digo... Porque ela ouviu música alta do Chico Buarque... E acabou tendo uma crise de enxaqueca. Uma vez aconteceu comigo em um show. Aquele som alto, me deu crise de enxaqueca. Já aconteceu com algum de vocês? Mas então ele ligou porque ela não pode nem falar de tanta enxaqueca que ela está. Ela pede mil desculpas em meu nome... Não. Eu peço mil desculpas por ela. Eu não. O Renato pede mil desculpas por ela, mas ela não vem trabalhar por causa do Chico Buarque... Não. Por causa da enxaqueca causada pela música do Chico Buarque... É isso. Ela deve estar muito mal mesmo, porque quem ligou foi o Renato né? Quando não é a própria pessoa que liga ela, é sinal que está péssima.

DIA SEGUINTE, DEPOIS DO DIA DA REUNIÃO.
TEOBALDO: (Ao ver Célia) Que cara é esta?
CÉLIA: Estou péssima. Morrendo de sono.
TEOBALDO: Enxaqueca é assim mesmo.
CÉLIA: Que enxaqueca que nada.  Acordei as três horas da manhã, dirigi meu uninho até Campinas, as seis horas peguei o vôo da azul para o Rio de Janeiro, cheguei no Rio as nove horas, pois o vôo atrasou muito, peguei o taxi la no Santos Dumont, pedi para ele voar até a Niterói... Cheguei a Niterói  as onze horas, fui até o estúdio e esperei o Chico. Ele chegou as três horas da tarde, recitou o poema, me olhou, disse assim: Que moça bonita. Parece a Carla Bruni. Depois foi embora. Eu peguei o táxi até o Galeão, lá peguei o vôo de volta, desci em Campinas por voltas da meia noite, dirigi até a minha casa e fui dormir cansadíssima as três horas da manhã e hoje acordei as seis e estou aqui morrendo em pé. E ainda por cima recebi uma suspensão por ter faltado na reunião de ontem e meu dia foi considerado falta.
TEOBALDO: Por quê?
CÉLIA: Eles não engoliram a estória das músicas do Chico Buarque terem causado a minha enxaqueca.
TEOBALDO: Mas eu... Eu disse isso?
CÉLIA: Deixa pra lá. O que importa é que eu estou feliz.
TEOBALDO: E feliz?
CÉLIA: Sim meu filho, afinal não é todo dia que o Chico Buarque diz que eu pareço a Carla Bruni.