terça-feira, 17 de julho de 2012

FREE E MARLBORO de Kadu Veríssimo


Personagens

Lucia
Pedro
Carol
Paulo
Garçom 1
Garçom 2

Um restaurante 

(Lucia esta sentada com Pedro em uma mesa, Carol e Paulo em outra ao lado , ambos os casais no mesmo restaurante,mas eles não se conhecem...ainda...)

Lucia
Você já escolheu o que vai pedir amor?

Pedro
Não sei, decide você

Lucia
Como assim decide você? Será possível que até a comida eu tenho que decidir? além do que, você só come essas merdas verdes
 ----
Carol
Paulo , eu falei pra você não falar daquele jeito, ela apesar de tudo é a minha mãe...

Paulo
Eu sei, por isso que não disse mais nada...mas nunca mais eu volto naquela casa...
 ----
Pedro
Não começa, se for começar eu levanto e vou embora...

Lucia
Se você levantar dessa mesa trate de ir direto pra casa e fazer a sua mala...
 ----
Carol
É assim que você quer ficar comigo ? se você me ama, vai ter que aguentar a minha mãe...
 ----
Pedro
É impressionante como você consegue estragar qualquer momento nosso junto

Lucia
Eu?
----
Paulo
Eu amo você, não a sua mãe...

Garçom1 e Garçom 2
Já fizeram o pedido?

Lucia e Carol
Ainda não...estou escolhendo...

(nesse momento os casais se olham)

Lucia
Você viu?

Pedro
O que?

Carol
A gente falou a mesma coisa , ao memso tempo, que engraçado...que coincidência

Paulo
Coincidência não existe

Carol
 Você é um chato...

Paulo
Vou fumar...

Carol
Vai...foge como sempre de qualquer conversa...

(Paulo sai)

Lucia
Cadê meu cigarro?

Pedro
Já falei pra parar com essa merda

Lucia
Não enche meu saco, você fica com essa história de ser vegetariano e eu não falo nada...só de raiva hoje vou pedir um bife mal passado...(ri) achei...vou fumar... escolhe algo ae...pra mim com muito sangue por favor...(sai gargalhando)

(Lucia sai)

Pedro
Daí-me paciência...(pega o cardápio)

Garçom 1
O Sr já se decidiu? 

Garçom 2
E então senhora?

Carol e Pedro
Quero essa salada de rúcula com tomate seco...

(se olham)

Carol
Que engraçado...nós falamos juntos...

Pedro
De novo né...coincidência...

Carol
Você acredita em coincidência?

Pedro
Sim muito...

Garçom 1
E o da senhora?

Pedro
Quando ela chegar ela escolhe

Garçom 2
E o do Sr?

Carol
A mesma coisa que ele...

Garçom 2
Salada?

Carol
Não quando ele chegar ele escolhe...

Garçom 1 e 2
Fiquem a vontade (sai)

(Carol e Pedro ficam se olhando)

Carol
Eu adoro salada...

Pedro
Eu também, sou vegetariano

Carol
Nossa, eu também

Carol e Pedro
Que coincidência !(risadas)

(Fora do restaurante)

Lucia
Um absurdo, nesse frio eu ter que vir fumar aqui fora...você não acha?

Paulo
Oi?

Lucia
Nesse frio ter que sair do restaurante pra fumar, com o preço que cobram eles bem que poderiam construir uma área de fumantes você não acha?

Paulo
Poderiam mesmo...

Lucia
Você fuma free?

Paulo
Sim, porque?

Lucia
Sempre achei que free era cigarro de mulher...

Paulo
E marlboro de homem né...

Lucia
Ah eu prefiro coisas fortes...pegava escondido do meu pai, ai viciei...nunca experimentei outro

Paulo
Eu também gosto, mas é que minha namorada implica com o cigarro, se fumasse igual o seu, ela me encheria o saco...porque diz que esse é mais forte e coisa e tal...

Lucia
Meu noivo também implica, mas eu quero que se dane...minha mãe quando era viva fumava três desses por dia, três maços...

Paulo
Nossa...sua mãe morreu de que?

Lucia
Atropelada...achou que era por causa do cigarro né?

Paulo
Pô, três maços....

Lucia
Mas foi...ela foi atravessar pra comprar cigarro na banca , quando voltou, foi acender o cigarro não olhou e zap , o carro pegou ela...morreu com o maço na mão e o cigarro aceso na outra...

Paulo
Nossa, ficou falando, me deu vontade, me arruma um cigarro seu...

Lucia
Claro, da um do seu também, deixa eu sentir como é...

(trocam de cigarros, começam a fumar o outro)

(No restaurante)

Carol
Sério? Que delicia... e tudo isso você faz com soja?

Pedro
Sim, é só temperar que fica uma delicia, o segredo é o tempero...

Carol
Aqui perto tem um vegetariano você sabia?

Pedro
Sabia, a comida de lá é uma delícia...

(pausa...tempo....Carol e Pedro se  olham )

Pedro
Carolina , é esse seu nome né?

Carol
Pode me chamar de Carol

Pedro
Carol...você....é...eu...será que a gente...

Carol
Pedro....seu nome é Pedro né?

Pedro
É

Carol
Eu aceito....

Pedro
Aceita mesmo?

Carol
Sim, vamos nesse vegetariano agora, vem...vamos sair por essa porta aqui, vem...

Pedro
Meu deus que loucura...

Carol
Vem...eu gostei de você...

Pedro
E eu de você...

Carol
Adoro essas coincidências...

Pedro
Eu também...

( dão as mãos e saem pelos fundos)

(entram Lucia e Paulo)

Lucia
Ué, cadê o Pedro?

Paulo
Carol também sumiu...

Lucia
Devem ter ido ao banheiro...

Paulo
Mas e a bolsa dela? não esta aqui...

Lucia
Cadê o casaco dele?

(chegam os garçons)

Garçom 1 e 2
Aqui esta a salada de rúcula com tomate seco

Lucia e Paulo
O que?

Lucia
Eu não pedi isso

Paulo
Nem eu...

Lucia
Cancela isso, eu vou embora daqui...Paulo me acompanha num rodízio?

Paulo
De carne ou de pizza?

Lucia
De carne, claro!

Paulo
É pra já...

Lucia
Gostei do free viu...

Paulo
Toma é seu...

Lucia
Pega, fica com o meu marlboro...

(dão as mãos e saem)

(os garçons permanecem em choque com a bandeja na mão)

Fim

sexta-feira, 13 de julho de 2012

E FOI ASSIM de Betinho Neto


Ele calmamente pegou seu cigarro no bolso, acendeu ,tragou, sentiu uma felicidade percorrendo seus pulmões, parou de pensar um momento e então olhou profundamente nos olhos de seu amigo e chorou, chorou um choro de verdade, sentido, doido e assim colocou sua mão encima do joelho de Marcus que estava sentado no chão com e ele e tragou.

Renato: Não liga para as minhas lagrimas, ela saem assim, sem ter por que sair.

Marcus: Você parece que é maluco, até ontem tinha parado de fumar e hoje... olha lá. Fumando de novo!

Renato: To me acalmando Marcus, você sabe o quanto eu ando nervoso ou não sabe, a vida da gente anda muito maluca, ninguém mais cuida de nada e de ninguém, é logico que você não percebeu que eu estou mal, ninguém mais percebe nada, somos todos maquinas, domesticados para apenas aguentar e não sentir nada, por isso...

Foi então que Marcus pegou Renato e o colocou em seu colo, Renato não disse nada, apenas abaixou sua cabeça no ombro do seu amigo e por um minuto pode se sentir confortável, seguro e dono do mundo.

Marcus: Melhorou agora?

Renato: Nunca melhora, tá aqui dentro...

Marcus: Apaga esse cigarro.

Renato, calmamente olho o céu, a rua, as pessoas passando, se lembra de quando era criança, jovem... Lembra dos seus amigos, seus amores, seus defuntos e agora pega o cigarro e apaga em seu peito, Marcus se surpreende com o que o amigo faz, fica sem palavras, sem voz, sem entender.

Renato: Apaguei .

Marcus: Reparei, por que ?

Renato: Apaguei em meu coração gelado que deixou de amar.

Ele levanta e sai caminhando, sem direção, fumando outro cigarro e tragando um minuto de vida.

CIGARROLÓGICO de Marcus Di Bello

TEMA: CIGARRO

(Em cena, dois escravos tecnológicos. Os olhos piscam numa velocidade acima do permitido. Barulho de trânsito. Pouca luz. Buzinas. Gritaria. Caos. Buzinas. Faz frio. Agem de maneira mecânica.)

SATIR
Aos treze anos teve seu primeiro porre alcoólico, causado por vodka barata com suco de caixinha.

CARRARI
Nunca saiu de casa durante fins de semana, exceto para visitar a avó nos últimos domingos do mês.

SATIR
Treinava beijo com uma pedra de gelo dentro de um copo d’água.

CARRARI
Jogava GTA Vice City com o padrasto enquanto a mãe esquentava a água do café.

SATIR
Primeira transa aos quinze anos, na casa de um amigo do colégio. Não sabia o que fazer. Suou muito.

CARRARI
Primeiro celular: azul. Primeira internet: America Online. Primeiro contato social: Chat UOL.

SATIR
Se masturbava assistindo desenho japonês na televisão.

CARRARI
Uma vez limpou a bunda com uma revista Veja.

SATIR
Primeiro cigarro: marlboro vermelho, fumado às duas e meia da manhã na esquina daquela estação de metrô.

CARRARI
Estações de metrô preferidas: Trianon, Praça da Árvore e Alto do Ipiranga.

SATIR
Foi Alto do Ipiranga.

CARRARI
Milhões de seguidores no twitter, mesmo sendo um fracassado na vida.

SATIR
Começa a se prostituir aos dezoito para pagar marlboro vermelho que está cada vez mais caro.

CARRARI
Moreno, completo, massagem alto nível.

CARRARI
Presidente da república, em entrevista, diz que uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz pelas suas crianças e adolescentes, e não pelo PIB.

SATIR
Caga para o PIB.

CARRARI
O custo das doenças relacionadas ao cigarro reduz a riqueza de um país em 3,6% do PIB.

SATIR
Passa a fumar dois maços de cigarro por dia. 3,6% a mais do que fumava anteriormente.

CARRARI
Compra últimos avanços tecnológicos.

SATIR
Seu corpo é um mouse óptico sem fio.

CARRARI
Bebe uísque quando está sozinho.

SATIR
Assiste lutas de UFC.

(Ficam menos mecânicos. O trânsito aumenta. Caos. Barulhos misturados)

CARRARI
Vinde a mim, todos os nico-dependentes-de-uma-figa!

SATIR
Vai, Anderson!

CARRARI
Por que não fuma lá fora?

SATIR
Perda de sinal. Perda de sinal.

CARRARI
Seu bosta, por que não fuma lá fora?

SATIR
Perda de sinal.

CARRARI
Eu sou obrigado a fumar com você?

SATIR
TV a cabo de merda!

CARRARI
Eu vou fumar do teu! Vai, otário. Eu vou fumar do teu.

SATIR
Fuma ele, vai!

CARRARI
Meu corpo é um mouse ópti/

SATIR
Filtro vermelho!

CARRARI
/com essas vidas entrelaça/

SATIR
Não quero azul!

CARRARI
/dá-me um cigarro, pelo amor de/

SATIR
Sinal recuperado!

CARRARI
/dê-me um cigarro, pelo amor de/

SATIR
Deixa disso, companheiro. Pega essa porra.
(Satir e Carrari começam a fumar. Cada um o seu cigarro. Silêncio. Fumam até o fim. Silêncio. Buzina solitária)
E Anderson ganha.
(Eles se desfazem da bituca. Silêncio. Som de internet discada sendo conectada. Continua fazendo frio. Mais uma buzina solitária. Blackout.)

domingo, 8 de julho de 2012

SANGUE DE TRAVESTI de Kadu Veríssimo



(tema Cigarro)

Personagens

Fulvia
Livia
Homem

(Lívia caminha pela rua deserta, acende um cigarro)
Livia
Todo dia essa mesma merda, com essa merda de grana não dá nem pra comprar um cigarro bom, vou morrer de câncer na terceira tragada...

(ao final da rua comendo um mistinho está Fúlvia)

Fulvia
 Livia, Livia, to aqui, vem aqui rapidinho...

Lívia
Merda, lá vai a outra me pedir cigarro...

Fúlvia
Me dá um cigarro?

Lívia
Pega...

Fúlvia
Desse? Afe Maria Lívia ta na miséria amiga...

Lívia
Não vem com graça , foi o que deu pra comprar...

Fúlvia
(pega o cigarro) esse cigarro é tão vagabundo que nem filtro deve ter, ainda mata um...Quer um pedaço de mistinho?

Lívia
Não valeu...ta indo pra casa?

(nesse momento encosta um carro)

Homem
Ei, psiu...

Fúlvia
Começou....

Homem
Psiu, vem cá...

Lívia
Que que é?

Homem
Entra aí...

Lívia
A gente não é puta não...

Homem
Eu sei, é travesti...

Lívia
Isso, mas não fazemos programa meu amigo...

Homem
Ah, corta essa, entra ae...

Fúlvia
Você não escutou minha amiga falar...

Homem
Vocês querem que eu me irrite, deixa de onda e entra aí...

Fúlvia
Vai tomar no seu cú, ninguém vai entrar nessa merda...vem Livia...

Homem
Pode parando ae seus putão...

Fúlvia
Vai pra merda seu otário, a gente não faz programa, você ainda não entendeu...

Homem 
(desce do carro)Ah corta essa,para com isso,  pode vir as duas aqui com o papai ...

Lívia
Vamos Fúlvia esse cara quer confusão...

Fúlvia
Ah você quer as duas...curte dupla penetração no seu cú ?

Lívia
Para Fúlvia , vamos embora...

Homem
Olha que a travesti tá nervosa...vou te mostrar uma coisa que você vai te acalmar já já...

Fúlvia
Ai, vai mostrar o que? O seu pauzinho pequeno? Ou que tá de calcinha? 

Homem
Isso aqui ó...(mostra um revólver)

Lívia
Guarda isso...

Homem
Olha, tá com medinho é...

Fúlvia
Corre Lívia corre...

(Fulvia corre, o Homem atira, Fúlvia cai no chão)

Homem
Você, entra comigo agora no carro...

Lívia
(nervosa) calma, eu entro...calma...deixa eu chamar a ambulância, ajudar a minha amiga, pelo amor de deus...

Homem
Entra aí caralho...vai... 

(puxa ela)
(eles entram no carro, Lívia esta nervosa)

Homem
 Podia ter sido mais fácil...mas as putinhas ficam de doce...

Lívia
Guarda essa arma...

Homem
Calma gatinha, eu vou ser rápido contigo... 

(rasga a blusa de Lívia)

Lívia
Para com isso, Guarda essa arma...

Homem
(da um murro com o revolver na cabeça de Livia) ta com medo é?

Livia
Para com isso, por favor, me deixa ir embora...

Homem
Só mais tarde, agora eu vou brincar um pouquinho...(bate na cara dela) você gosta de apanhar que nem cachorra , gosta? (bate de novo)

Livia
(chorando)Por favor, guarda essa arma, por favor...

Homem
Pronto (guarda no porta luvas)... 

Lívia
Não me machuca muito por favor...

Homem
Ah, só mais um pouquinho...

(começa a rasgar a roupa de Lívia)
(na janela do carro)

Fulvia
Oi moço, tem fogo?

(o Homem vai olhar,  Fulvia enfia o cigarro aceso no seu olho, o homem grita de dor)

Fulvia
Aprende a atirar seu merda...

Homem
Eu vou matar vocês

(Lívia esta com o revolver na mão apontando para o Homem)

Lívia
Desce do carro...

Homem
Para com isso, me dá essa arma...

Lívia
Desce da merda do carro agora...

(ele desce)

Lívia
Encosta nesse poste, vai,  encosta logo...

Homem
Não faz nada comigo...pelo amor de deus...

Lívia
Cala a boca seu merda, tira a roupa...

Homem
O que?

Lívia
Tira a roupa toda...entra no carro Fúlvia...

Homem
Não, eu não vou...

Lívia
Tira a roupa toda eu já disse  

(atira pra cima)
(o Homem fica de cueca )

Lívia
Tudo... tira tudo...

(ele tira)

Livia
Prepara o carro pra gente sair Fulvia...

(pega as roupas dele e joga dentro do carro)

Livia
Me acende um cigarro Fulvia...

Fúlvia
Vamos embora daqui que vai dar merda, quem se fode na história é sempre a travesti...

Lívia
Me acende um cigarro...

Fúlvia
Não é hora de fumar essa merda...

Lívia
Vai logo...

(Fúlvia acende e passa para Lívia) 

Livia
Você não se mexe, se não eu explodo sua cara...vira de costas vai...

Homem
Para com isso, deixa eu ir embora...

Lívia
Vira...(ele vira) liga o carro Fúlvia , eu não vou sair daqui sem dar pra você o que você tanto queria ...

 (enfia o cigarro aceso na bunda do Homem) 
 (ele grita)
(Lívia entra no carro) 

Lívia
Sorte a sua que eu não dei um tiro na sua cara, (atira no pé dele) Isso é pra você não sair correndo por aí... 

Fulvia
Nesse corpo corre sangue meu amor...SANGUE DE TRAVESTI TEM PODER...

(sai cantando pneu, o homem nú grita de dor no chão)