quinta-feira, 29 de setembro de 2011

VIVICA OBSESSIVA de Marcus Di Bello

TEMA: OBSESSÃO

(Vivica, senhor de sessenta anos, sentado numa poltrona. Um guardanapo de tecido cobre seu rosto. Dorme. Acorda num sobressalto. Limpa os óculos com o guardanapo. Levanta, com muita dificuldade, e tenta limpar a poltrona. Encontra um jornal em cima de uma mesinha, ao lado da poltrona. Folheia algumas vezes enquanto resmunga. Tosse. Pigarreia.)

VIVICA
Rita!
(Tempo)
Rita, o que teremos para o almoço?
(Tempo)
Que não seja aquela mesma porcaria do jantar. Rita, é sempre a mesma coisa. Ontem o macarrão não estava bom. Ficou um pouco amargo quando misturamos com os frutos do mar. E as verduras que compramos bem cedinho no mercado municipal não estavam tão frescas. E o pernil não estava muito bem assado e o queijo mussarela estava duro, e você sabe que eu gosto do queijo derretendo, escorrendo pelo garfo de prata que ganhamos de aniversário de casamento no ano de 1998. Já as almôndegas ao molho madeira estavam ótimas. Você fez com muito carinho, Rita, aposto. Também gostei do empanado de frango, as alcachofras, a lasanha, a batata recheada com moqueca, a abobrinha de forno, o lombo recheado, a picanha suína, a costelinha e o estrogonofe de carne com molho shoyu.
(Tempo)
Rita, me bateu uma dúvida agora. Jantamos costelinha?
(Tempo)
Claro que jantamos, nós jantamos a mesma coisa há trinta anos. O nosso cardápio não muda.
(Vivica continua lendo o jornal. Resmunga. Tosse. Pigarreia. Resolve limpar os óculos com o guarnapo)
Rita!
(Tempo)
Você me acha obsessivo? Aqui no jornal diz que tem um estudo realizado pela universidade da Espanha que comprova que a obsessão é uma doença. Você vive falando que eu estou doente.
(Tempo)
Rita! Não é porque você morreu há três meses que não vai me responder. Fala comigo, por favor.
(Tempo)
O que teremos para o almoço mesmo?
(Vivica tosse. Larga o jornal no chão e volta a dormir, com o guardanapo sobre o rosto)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

UMA OBSESSÃO de Kadu Veríssimo

(tema Obsessão) 
Personagens

Vera
Lúcia
Mulher

 ( No Elevador)

Lúcia
(nervosa) Vai pro último andar

Vera
A senhora pretende ir em qual loja?

Lúcia
(alterada)Sobe agora para o último andar...

Vera
Um minuto senhora, vou só esperar aquele senhor chegar ao elevador...

Lúcia
Não vai esperar nada, sobe já essa porra!(tira uma faca da bolsa)

Vera
Sim sra, mas por favor, não me machuque...

Lúcia
Aperta então esse botão, aperta...

Vera
Sim senhora, sim senhora...

Lúcia
Quantos andares tem esse prédio?

Vera
Vinte senhora...

Lúcia 
É pra lá que eu vou então...hoje eu vou me matar

Vera
Vai o que?

Lúcia
Vou me matar, me matar, você esta surda (aponta a faca)

Vera
Mas sra, ainda tão jovem, tão bonita...

Lúcia
Se soltar mais uma graça eu corto o seu pescoço

Vera
Eu estou falando a verdade senhora, jamais brincaria com a sua vida...não faça isso...

Lúcia
Cala essa boca, você nem me conhece, aperta isso pra subir direto hein, se parar em algum andar eu não sei do que sou capaz...

Vera
A sra tem filhos?

Lúcia
Não

Vera
É casada?

Lúcia
Não

Vera
Namora?

Lúcia
Não

Vera
Acredita em Deus?


Lúcia
Não

Vera
Assim fica difícil...


Lúcia
Não adianta falar nada, eu estou decidida a dar fim a minha vida

Vera
Mas porque?


Lúcia
A minha vida é um inferno, como é mesmo seu nome?

Vera
Vera

Lúcia
Quatro

Vera
Oi?

Lúcia
Quatro letras, seu nome tem quatro letras...

Vera
Sim mas o que...

Lúcia
Dez...dez, mais três pontinhos....

Vera
Eu não to entendendo?

Lúcia 
As reticências...essa última dezessete , eu conto tudo o que as pessoas falam , tudo...eu estou enlouquecendo por causa disso...quer saber quantas letras você já disse até agora desde que entrei nesse elevador? Quer? 787 palavras....eu estou enlouquecendo por causa disso e eu não consigo parar...

Vera
Já procurou um médico?

Lúcia
Dezoito, já sim...

Vera
E o que ele disse?

Lúcia
Treze e interrogação... que eu sofria de obsessão, eu sou obsessiva, minha vida toda, quando criança eu comecei contando os azulejos da calçada, os pretos, depois os brancos, depois, comecei a contar quanto arroz tinha nas panelas, depois comecei a contar quantos fios de cabelo tinham as bonecas, quantos grãos tinham no açucar, e eu não consigo parar, eu to sofrendo Vera, eu to sofrendo muito...


(vera fica em silêncio)

Lúcia
Você não vai me dizer nada? Fala alguma coisa

(Vera fica em silêncio)

Lúcia
Zero, fala alguma coisa...piscou uma, duas, três, quatro, cinco,seis,sete,oito piscadas...eu não consigo parar....( joga seu corpo contra o elevador) Eu quero morrer, eu quero morrer...

Vera
Para com isso, para...

Lúcia
Quinze...quinze....

(o elevador para)



Lúcia
Chegamos?

Vera
Sim

Lúcia
três...

Vera
Você vai mesmo se matar?

Lúcia
Dezenove...

Vera
Para!

Lúcia
Quatro, exclamação

Vera
CHEGA!

Lúcia
Cinco em caixa alta exclamação

Vera
Pensa bem...

Lúcia
Oito, reticências

Vera
É muito louca

Lúcia
Onze com pena

Vera
Quer saber, eu quero mais é que se dane

Lúcia
Trinta com deboche

Vera
Se mata mesmo sua maluca...que vida de cão...sai daqui miserável, vai se joga, mas se joga de cabeça...é cada uma...

Lúcia
Oitenta e cinco com raiva

(o elevador desce)

( Lucia caminha até o parapeito do prédio, olha para baixo e pensa em se jogar naquele momento, mas antes conta os carros estacionados, as cabeças que estão passando na rua e quantos azulejos brancos tem onde ela vai cair, prepara-se,ollha para o céu, conta as nuvens e pula)

Lúcia
(caindo) Meu deus não tinha reparado que  o prédio é de tijolinho....,um, dois três quatro, cinco, dezessete, quarenta e nove, trezentos e oito, nãoooooooo!

(Forte batida no chão)

(Passa uma mulher)

Mulher
(aos gritos)Meu deus que horror, uma mulher se jogou do prédio... caiu de cara no chão a coitada....

(começa a juntar gente)

Mulher
Nossa, olha em quantas partes o corpo dela ficou...que horror...

(uma força súbita faz aquela cabeça que não mais pertence ao pescoço virar rapidamente)

Lúcia 
Alguém conta  pra mim?

(Gritos)

(Trevas)


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

LUIZA CHEIA DE MANIA de Betinho Neto

Eu tenho uma obsessão meio que normal sabe? (ascende um cigarro) Uma não, algumas. A minha ultima moda e o incêndio. Isso mesmo, botar fogo em coisas! Eu ascendo meu cigarro, como quem não quer nada e pronto (pega uma almofada no Sofá e Poe fogo) deixo queimar até o fim. Outro dia entrou um gato aqui da rua, esses gatos da vizinha e eu botei fogo nele, tadinho... Queimou tanto que até a maluca da vizinha da frente chamou a policia. Gente! Eu tenho obsessão por morte? Só por que gosto de carne de gente maldita congelada? É só um tipo de gente, que saco!

Olha aqui essa linda estante que eu queimei ontem, não está uma beleza? Linda, linda... Eu também tenho uma nova mania, essa vocês vão gostar e aposto que não vão me recriminar, eu gosto de contar quantos milhos vem na lata ou então quantas ervilhas. A lata é minha e eu faço o que eu quiser com essa porra de lata! Não to podendo hoje com essa gente que não entende a necessidade de cada um, não acredito nisso! Eu conto milho mesmo e conto ervilha! Esses dias liguei no SAC das ervilhas por que era impressionante a diferença de uma lata para a outra, absurdo! O que? Eu to aqui abrindo meu coração e ainda por cima sou motivo de chacota!

A minha ultima mania (pega uma faca) e cortar a unha com faca! È tão perigoso e tão gostoso! Essa coisa perigosa é que nós faz (ouve vozes) eu não acredito que é a Laura (mais vozes) gente vou ali usar a faca para outros motivos...

Continua...

NÃO ENTENDE de Betinho Neto

Ella: É o teu cheiro, esse teu cheiro que impregna toda essa casa quando você vem me visitar...
Renato: Você que me convidou...
Ella: Convidei para sentir o teu cheiro, cansei de falsos odores pelas ruas, cansei de sentir você em algum lugar, procurar e me deparar com o que? Com um nada. Vazio. Meu coração vazio.
Renato: Que exagero!
Ella: Exagero? Não é exagero não, é a verdade, é a mais pura verdade! Você não vê? Não acredito que não veja!
Renato: Não to entendendo nada ...
Ella: O que é? Sou eu? Não pode ser, (andando de lá para cá) eu to velha, feia, enrugada? (Cheira o ar) Olha esse aroma, esse teu aroma. Sabe Renato, tez vezes que eu fico andando por ai procurando esse cheiro só para saber se eu te conheço ainda...
Renato: Que papo mais...
Ella: Fico pesquisando em minhas memórias frases e jeitos que você faz, como esse ou como aquele (imitando) eu te conheço, sei teu preço, teus valores, teu corpo. Ai teu corpo, tua boca, teu néctar, sou eu tua, tua mulher nua, pronta para ser amada...
Renato: Para com isso, eu não to entendendo...
Ella: O que você não ta entendendo? Ta se fazendo de besta agora Renato? Só pode, se fazendo de besta e de idiota! Não ta percebendo que as coisas aqui estão diferentes? Eu vejo você nos rostos das pessoas, eu sinto você quando corre uma brisa, eu ouço sua voz em musicas...
Renato: O que?
Ella: Olha, olha bem pra mim. Eu sou você, eu sou você, eu não existo mais, só existe você, dentro de mim, só você Renato! Eu respiro você.
Renato: Você ta maluca! Eu não quero nada contigo!
Ella: Nós somos como bichos, animais inconscientes . Eu sou tua! Eu sou somente tua e você é meu, Renato, eu sou tudo que você imagina que é, tudo que você pensa que pode ser, tudo que pode ser seu, eu sou você.
Renato vai saindo, ela sem perceber sobe na janela.
Ella: Vem Renato, vem... Vem ser meu para o resto do mundo, para o resto da vida.
Renato corre mais é tarde demais, ela se atira pela janela, se eternizando totalmente dele e ele... sem entender nada.

domingo, 25 de setembro de 2011

SHOW DE CIÚMES de Kadu Veríssimo

(Tema Ciúmes)

Personagens 
Homem
Mulher

Num Restaurante


Homem
Satisfeita?

Mulher
Não, não estou nada satisfeita! Cínico,  o que você quer dizer com isso?

Homem
Como ? eu quero saber se ...

Mulher
 Se o quê? fique quieto, que agora quem fala sou eu!  Eu estou cansada , cansada de sempre eu ter que ceder, eu que possa, eu que tudo. É sempre assim (respira fundo) Vocês homens são todos iguais, uns canalhas, CANALHAS (joga um prato e a bandeja no chão)


(comentários)

Mulher
(para os que olham) Podem olhar, olhem pra saber que esse homem não presta, aliás homem nenhum presta, olhem para este canalha que senta a mesa desse restaurante com você, ele traz você pra esse restaurante sem graça, mas a vagabunda, a amante, ele leva no motel, da calcinha, da jóia, e o pior, da prazer praquela vagabunda...isso mesmo eu encho a boca pra dizer V-A-G-A-B-U-N-D-A.porque todos esses homens tem amante...todos!


Homem
Silêncio por favor, isso aqui é um restaurante....

Muher
 E daí? E daí que é um restaurante? Podia ser a missa do Papa, eu iria falar do mesmo jeito, isso porque eu não sou ciumenta , sim, porque eu não sou de ter ciúmes , eu as vezes finjo que nem vejo, eu  faço vista grossa, mas não adianta, você é um miserável , ( num crescente) galinha, (explode) um pederasta!

Homem
Basta! Basta! Você foi longe demais....

Mulher
Eu ainda nem comecei, porque vou falar tudo que esta entalado aqui  ó na minha garganta, é como um catarro grosso que não desce, é uma bola gigantesca de pus entalada aqui, olha bem, aqui.....na minha garganta....e eu vou gritar, vou vomitar tudo....TUDO!

Homem
As pessoas estão comendo, estão com nojo, para com isso...

Mulher
Nojo? Eu que tenho nojo de todos...Nojo! Asco! Todos aqui são uns devassos, uns depravados que só pensam em sexo, que só furnicam fora do casamento, que transpiram prazer, e deixam suas esposas em casa, elas pobres mulheres como eu sofrem nas mãos de uns canalhas como você.

Homem
Alguém por favor...

Mulher
Alguém o que? Pensa que eu não vi você olhando praquela mulher ...confessa...

Homem
Sim eu olhei...

Mulher
canalha...

Mulher
E falou com ela...

Homem
Sim ,eu falei...

Mulher
Canalha!

Homem
Mas é o meu serviço...eu sou o garçom...


Mulher
Não  interessa, eu exigo tratamento diferenciado

Homem
Por favor senhora, a senhora esta muito exaltada, eu acho melhor...

Mulher
exaltada esta a sua mãe, eu estou é muito da puta!

Homem
Basta ! eu vou ser obrigado a chamar os seguranças...

Mulher
Os homens sempre apelam...diz que não me ama então, diz...

Homem
A senhora é louca...a sra esta espantando os fregueses, eu nem conheço a senhora...

Mullher 
(grita histérica) Cafajeste! (bate na cara dele)

Homem
Por favor se retire, e nunca mais volte a entrar nesse estabelecimento sua maluca...

Mulher
Isso, me trate assim, porque quem não volta aqui sou eu...

Homem
não precisa pagar nada, saia, saia, retire-se...

Mulher
Eu não vou pagar mesmo, porque eu acho um desaforo o homem não pagar a conta...

Homem
Sua louca varrida, saia, saia...

(todos olham)

Mulher
Vejam como esse canalha me trata depois de tudo...

Homem
é louca, é louca....

Mulher
(saindo) Meu Deus, o que a gente não faz quando não pode pagar a conta! Tempos Difíceis!

LIBRA de Betinho Neto

Meu amigo, não tenha ciúmes, eu ainda sou eu, o seu amigo. Não vá ali não, ali tem monstro que come gente, eu não te falei Fernando para não ir? Agora ta aí, chorando... Por que essa coisa de ser o mais forte? Você não é o ciclope de cima da colina que me olha com um olho só, você é você. O que foi? Deita então aqui no meu colo, me deixa te fazer uma cafuné? Não né? Você não pode... Por que? Eu não fiquei amigo dele, eu não fiz isso por causa dela, eu não quis aquilo... Fernando, olha... Para com esse ciúmes! Deixa eu falar? Para de ser assim, grosseiro! Fernando eu sou teu irmão e eu te amo, por que tá com isso agora? Para com esse bico, vem aqui em casa? Não... eu não vou ai! Te comprei um presente, um recorte de tudo que está vivo e que pode ser revisado enquanto estamos vivos. Te comprei uma lembrancinha, uma forma de lembrar o quanto eu te amo. Te comprei um som, o som da minha palavra para dizer.. Não Fernando, eu não vou sair com ele hoje, eu não vou ler as coisas dele, não vou fazer as artes dele... Hoje é seu parabéns e assim eu digo: parabéns ciumento eu te amo.

para Luiz Fernando Almeida o meu amigo mais ciumento que eu amo.

EM TERRA DE CEGO de Betinho Neto.

Claudio sai atrás de Ana Paula de uma balada, ambos já estão na rua, é fim de noite, ela de blusa rosa e saia preta, cabelos grandes e loiros está já com a maquiagem borrada, parece que chorou. Ele com as mesmas roupas de sempre, bermuda jeans e uma blusa qualquer que combina com o all star.

Claudio: Volta aqui, volta aqui...

Ana Paula: O que é? Você vai me bater agora Claudio é isso?

Claudio: Não, quero conversar.

Ana Paula: Me larga, ta me machucando!

Claudio: Pronto. Larguei. E agora?

Ana Paula: Agora o que? Olha o que você fez! Você ta maluco?

Claudio: Olha o que você faz comigo Ana Paula, isso que você deveria parar e pensar um pouco sobre como...

Ana Paula: Eu? Parar e pensar um pouco? Eu to ouvindo direito? Parece até mentira...

Claudio: Você não entende.

Ana Paula: Quem não entende é você Claudio, você sabe muito bem que eu não quero nada com você! Tinha que bater naquele cara lá no bar?

Claudio: Mas ele ia...

Ana Paula: Ele ia o que Claudio? Ia o que?

Claudio: Ele...

Ana Paula: Se eu quisesse beijar ele Claudio? Se eu quisesse trepar com ele, e daí? Você não percebe Claudio? Você é gordo, barrigudo... O que eu vou fazer com um cara barrigudo? Você me da nojo!

Silencio

Ana Paula: Não vai falar? Então já que você deu esse vexame eu vou! Eu nunca ficaria com você, por mais que você seja, divertido? Se eu quiser me divertir coloco no Zorra Total e fico dando gargalhadas. (Com raiva) Mas com um homem gostoso do meu lado, sarado...

Claudio: (Tímido) Mas eu to na academia...

Ana Paula: Problema é seu, espero que continue assim... Ou melhor, arranje uma namorada para você! Problema e saber quem vai te querer assim.

Ela sai andando e ele fica chorando

Amanda: O que foi Claudio? Ta chorando?

Claudio: A Ana Paula né Amanda, ela sempre me faz de idiota.

Amanda: Não fica assim, você não deveria ter tanto ciúmes dela também, você sabe que ela não quer nada com você, por que continua com isso? Parece que você é sadomasoquista!

Claudio: Eu não sou, eu não posso... Olha ela voltando...

Ana Paula: O que você ta fazendo aqui Amanda?

Amanda: To consolando o Claudio, ele ta arrasado!

Ana Paula: Ele te contou que ele deu um soco no cara que tava afim de mim la dentro?

Amanda: Eu já sei Ana Paula...

Ana Paula: Vaza daqui sua safada, o que você quer? Se aproveitar do Claudio? É isso?

Amanda: Safada é você sua maluca!

Ana Paula: Como que é sua vadia? Acha que eu não to vendo você toda querendo dar pro Claudio, sua piranha!

Amanda: E se eu quisesse? Você não é nada dele...

Ana Paula: Vem aqui sua vaca que eu vou te ensinar a respeitar as pessoas

(as duas ficam brigando, Claudio sentando olhando)

“Chorei, chorei
Até ficar com dó de mim
E me tranquei no camarim
Tomei o calmante, o excitante
E um bocado de gim

Amaldiçoei
O dia em que te conheci
Com muitos brilhos me vesti
Depois me pintei, me pintei
Me pintei, me pintei”

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O CIÚME DE EVA de Marcus Di Bello

TEMA: CIÚMES

(Adão e Eva sentados. Entediados.)

EVA
Adão.
(Tempo)
Adão!

ADÃO
Oi, Eva.

EVA
Você acha que eu ‘tô gorda?

ADÃO
Não.

EVA
Não acha ou não ‘tô?

ADÃO
Não ‘tá.
(Tempo)

EVA
Você ‘tá estranho.

ADÃO
Impressão sua.

EVA
Você tem outra!

ADÃO
Eva!

EVA
Não adianta, é perceptível.

ADÃO
Eva, pelo amor de Deus. Como posso ter outra se você é a única mulher existente?

EVA
Então é por isso que você ‘tá comigo, não é? Porque eu sou a única. Se tivesse mais oferta, coitada da Eva!

ADÃO
Eva, para com isso.

EVA
Se eu colocar silicone você vai gostar mais de mim?

ADÃO
Eu gosto de você do jeito que você é.

EVA
Isso foi muito bonito.
(Tempo)
Mas aposto que viu em algum filme.

ADÃO
Que filme, Eva? É verdade. Eu gosto de você, mesmo que existissem outras mil, eu só iria querer ficar com você.

EVA
Eu tenho uma ideia! Vamos casar.

ADÃO
Casar? Casar p’ra quê?

EVA
Como assim p’ra quê? A gente não vai ter que viver eternamente um ao lado do outro? O nosso amor não está destinado a nunca acabar? Então acho que devemos nos casar, para firmar essa união. Deixar a coisa mais esclarecida.

ADÃO
(Inconformado)
Tudo bem, Eva. A gente se casa.

EVA
Mas antes do casamento precisamos combinar uma coisa. Você vai parar de deixar a folha de bananeira molhada em cima da cama.

ADÃO
Eva!
(Tempo)

EVA
Pensando melhor, acho que o casamento não é uma boa ideia.

ADÃO
Por que, Eva?

EVA
As mulheres gostam de homens casados. Não sei de onde vem essa tara, mas é fato. E eu não quero ver ninguém te paquerando por estar usando uma aliança no dedo.

ADÃO
Eva, mas que mulher? Somos as únicas duas pessoas nesse lugar.

EVA
Ah, meu filho, Sirigaita você encontra em todo lugar, não duvido nada. Podemos nos casar sem aliança. Talvez essa seja a melhor solução.
(Tempo)
Eu sou ciumenta, você precisa entender isso.
(Tempo)
Eu vou tentar me controlar.
(Tempo)
Você vai chamar a sua amante para o casamento?

ADÃO
Que amante, Eva?

EVA
Tentei ver se você confessava algo.

ADÃO
Eva, faz o seguinte. ‘Tá vendo aquela árvore? É uma macieira. Vá, pega todas as maçãs que conseguir e fica por lá mesmo, comendo.

EVA
Mas é proibido.

ADÃO
Não, não é. Pode ir.

EVA
Mas juramos que não encostaríamos naquela árvore.

ADÃO
Sabia que maçã tira a celulite?

EVA
Bom, ‘tô indo lá então, até mais tarde.
(Eva sai)

ADÃO
Deus. Às vezes penso que a costela teria sido melhor aproveitada dentro de uma feijoada.

domingo, 18 de setembro de 2011

ONDE EU SOU MAIS EU De Ronaldo Fernandes

TEMA: BANHEIRO

NENA: Eu sou muito rica. Moro numa casa enorme, na verdade é uma mansão.  O projeto da casa foi realizado por um renomado arquiteto. A mansão ocupa dois lotes de mil metros quadrados, muito bem aproveitado com diversos ambientes e totalmente realizada com acabamento de primeira linha, automatizada eletronicamente, com sauna seca e a vapor, piscina com hidromassagem e cachoeira, jardim oriental com ofurô e espaço zen com lago de carpas japonesas, quadra de tênis, academia, piscina interna, garagem ampla com porcelanatto, sala com mármore italiano Botticino, banheiros em Nero Marquina e Travertino romano, cozinha em porcelanato, quartos com assoalho em madeira de primeira e cozinha equipada com forno elétrico, maquinas e equipamentos, geladeiras, microondas. O jardim tem um projeto de iluminação para festas e o salão principal tem iluminação embutida nas sancas.
Todos os ambientes possuem ar condicionados splits e painéis de controle de luz, som, TV e temperatura. Viram como a minha casa é grande?  Ela é dividida em três pavimentos. Sim. Três pavimentos. Eu sou muito rica meu bem. Vejam bem: No primeiro pavimento tem o jardim principal com uma piscina grande com cascata e hidromassagem; churrasqueira completa com bancadas em dois lados; armários, três pias, estrutura de lanchonete, banheiro feminino e masculino com vestiário, sala de jogos, academia, saunas seca e a vapor bem grandes com duas duchas, piscina interna com passagem submersa para a piscina principal. Tem também o jardim oriental e um reservado com lago de carpas japonesas, ofurô, futon, controle digital de luzes, som, TV, DVD, quadra de tênis com piso sintético, garagem para mais de seis carros com piso em porcelanato. Há ainda o jardim reservado de frente para a garagem, biblioteca, sala de TV, banheiro em mármore Travertino Romano e dependências de empregada com sala, dois quartos e banheiros e a lavanderia.  É um luxo só! É tudo muito lindo e de bom gosto. Imagino que vocês não conseguem alcançar nas suas mentes tamanho luxo. Mas ainda existem dois pavimentos. Espero não os estar chateando com a minha ostentação. Vou falar dos outros dois pavimentos: No segundo pavimento tem salão principal toda em mármore italiano Botticino, sala de jantar também em mármore italiano Botticino, lavabo em mármore Nero Marquina preto, duas suítes com hidromassagem e piso com assoalho em madeira de primeira, varandas privativas e mini hall entre as suítes, cozinha com copa em porcelanato, despensa e varanda com escada de acesso para o primeiro pavimento.  Agora só falta falar do último pavimento que é o terceiro, lá tem o Hall estilo mezanino com vista para o salão principal, a suíte master com dois Closets e dois banheiros e hidromassagem no quarto, suíte de hóspedes com Closet, escritório, roupeiro com banheiro completo. É uma maravilha não é? E ainda fica localizado em um condomínio só de casas e mansões e conta com uma equipe de segurança 24 horas e câmeras de monitoramento. É um dos condomínios de alto luxo. Eu adoro a minha casa, ela é muito confortável. Meus amigos a amam... Mas... Mas... Eu preciso confessar uma coisa aos senhores. É muito difícil dizer isso, mas eu preciso falar. Com todo esse luxo e todo esse conforto, eu não me sinto tão bem. Só tem um local onde estranhamente eu fico mais a vontade, é nesse local da casa onde eu sou mais eu, onde eu estou inteira. Se você quiser me conhecer de verdade, só me conhecerá se estiver nesse ambiente comigo. O local onde eu mais me sinto a vontade, onde choro as minhas dores, onde dou risada das minhas alegrias, onde lamento as minhas frustrações e grito de felicidade é um BANHEIRO bem simples e bem pequeno. Ele tem uma privada, um chuveiro e um espelho, só isso. Mas é nele que sou mais feliz. É nele que eu me despi de todo o verniz social.  Ele foi construído para o jardineiro, mas depois de um tempo eu o adotei como meu cantinho. Ele fica no quintal de casa e é nesse BANHEIRO onde eu sou mais eu.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

LEI DO BANHEIRO de Marcus Di Bello

TEMA: BANHEIRO

(Mictórios. Geraldo numa ponta. Rafael entra e fica ao lado de Geraldo. Silêncio)

RAFAEL
Grande, não é?

GERALDO
Como é que é?

RAFAEL
O bar. É grande.

GERALDO
Ah, sim.
(Alguns segundos de silêncio)

RAFAEL
Você costuma demorar?

GERALDO
No bar?

RAFAEL
Não, no mictório.

GERALDO
Ah, não. Não costumo.
(Mais alguns segundos de silêncio)

RAFAEL
Eu gosto de mirar na naftalina.

GERALDO
Cara, você tem algum problema?

RAFAEL
O quê? Tipo circuncisão?

GERALDO
Não, não é isso. É que você não para de falar. Vai contra a lei do banheiro.

RAFAEL
Existe uma lei do banheiro?

GERALDO
Claro que existe. E você está desrespeitando. Começando pela escolha do mictório. Eu estou nessa ponta e do meu lado tinha quatro mictórios livres, pedindo para serem usados. Ao invés de você pegar o da outra ponta, pegou justo o do meu lado.

RAFAEL
Fiz errado?

GERALDO
Claro que fez! E então começou a puxar papo. Homem não conversa no banheiro. É isso que faz com que o banheiro masculino seja melhor que o feminino. Nós somos eficientes. Entramos, fazemos o que precisa ser feito, lavamos a mão e saímos. Não há tempo para conversa, nem que seja o seu melhor amigo, o seu pai ou até a Lady Gaga vestida de homem.

RAFAEL
(Vira o rosto para Geraldo)
Olha, me desculpa, é que eu...

GERALDO
Não! Não olha para mim. Não pode existir, em hipótese alguma, contato visual. Olhar para qualquer parte do corpo de outro homem, aqui dentro, pode ser mal interpretado. É a lei do banheiro.

RAFAEL
Lei do banheiro, que besteira! E o que acontece se eu desrespeitar essa lei? Vou ser preso numa das privadas?

GERALDO
Fica quieto que eu acho que tem gente entrando!
(Silêncio)
Que susto, alarme falso.

RAFAEL
Você é muito encanado. Por que só as mulheres podem se divertir no banheiro? Por que podem organizar caravanas e nós não? Devemos lutar pelos nossos direitos, meu velho.

GERALDO
Devemos seguir os nossos deveres, isso sim.

RAFAEL
Bobagem! Esse é o único lugar em que você pode ser você mesmo, em que você entra em contato com as suas necessidades mais primitivas, onde você pode ficar longe dos olhares críticos. Não há distinção de pobre, rico, feio, bonito, bicha, musculoso, magro, gordo. Todos, sem exceção, usam o banheiro. Por que trazer as convenções do mundo exterior para um lugar que nos dá a possibilidade de sermos livres?

(Silêncio)

GERALDO
Acabou?

RAFAEL
De falar?

GERALDO
De urinar.

RAFAEL
Acabei.
(Puxa o zíper e vira de frente para a plateia)

GERALDO
Sabe, o que você disse até faz sentido. Gosto dessa coisa de lutar pelos direitos. Mas não consigo dar razão para um homem que fala comigo segurando o próprio pau.

RAFAEL
Você fala tanto sobre a lei do banheiro, mas em nenhum instante parou de conversar.

(Geraldo vai embora furioso)

RAFAEL
Ter uma lei do banheiro não representa uma conquista,
Afinal, essa lei representa apenas a sociedade machista.

(Blackout)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A DAMA DO BANHEIRÃO de Kadu Veríssimo

(tema banheiro)

Personagens

Ele
Ela

( Ele esta no banheiro, Ela entra desesperada e bate na porta)

Ela
(bate na porta) vai demorar?

Ele
um pouco...

Ela
moço, por favor, não demora muito...

Ele
mas é mulher? Esse aqui é o banheiro masculino...

Ela
ah é? Eu entrei tão depressa que nem percebi, mas deixa eu usar moço pelo amor de Deus, eu vou explodir...

(ouve-se a descarga)


Ela 
(esmurrando a porta) por favor moço, não demora...

Ele
vá no banheiro feminino...

Ela 
(chutando a porta) seu canalha, miserável, abre essa merda de porta, eu to apertada...

Ele
eu não vou abrir...

Ela
(desesperada) eu vou mijar , eu vou mijar...

Ele
problema seu, vá no banheiro feminino...

Ela
eu não vou conseguir andar, se eu der mais um passo eu mijo....(esmurra a porta) abre essa porta seu cagão dos infernos...

Ele
agora que eu não abro mesmo...

Ela
não! Não faz isso por favor...abre sim...

Ele
me pede desculpas...

Ela
(grita) desculpaaaa

Ele
sua cínica, eu não vou abrir...

Ela
pelo amor de Deus, abre essa porta, eu vou mijar, não to agüentando mais...


Ele
então fala direito comigo...

Ela
desculpa, perdão, mas abre essa porta...

Ele
eu vou abrir mas se a sra me atacar...

Ela
eu não vou fazer nada, abre pelo amor de deus...

(ele abre a porta, ela entra apavorada e tropeça nele, os dois caem no chão)


Ele
meu Deus, calma moça...

Ela
minha nossa senhora , eu...eu mijei...


Ele
o que? Em cima de mim?

Ela
a culpa foi sua que demorou pra abrir essa porta...

Ele
eu estou todo mijado , e agora? Como que vou sair do banheiro assim?


Ela 
eu também estou, olha pra mim...não posso beber cerveja, é nisso que dá...

Ele 
e é xixi de cerveja? Em dois minutos vou ficar com um fedor desgraçado...

Ela 
pois muito bem feito, isso é pra aprender a respeitar uma mulher

Ele- quer fazer o favor de sair de cima de mim? Já não basta a mijada ainda tenho que agüentar seu peso todo...

Ela 
ta me chamando de gorda? 

Ele 
eu não disse nada...

Ela 
você é um canalha, que homem rude, pré histórico...

Ele 
e você é uma desequilibrada mijona...

Ela 
por favor me respeite...(levanta)

Ele 
deixe eu ir antes que você ...(mexe na porta do banheiro) Mas ...está trancada...

Ela
 o que? Não é possível...

Ele 
como assim trancado? Quem trancou isso?

Ela 
maldito restaurante, bem que me falaram que era mau freqüentado...

Ele
(grita) por favor...alguém abre essa porta...

Ela
deixa eu tentar abrir...(ela puxa e a porta não abre) ta trancada mesmo (chuta e grita) abre essa merda aqui...

Ele 
ninguém ouve...

Ela
como ninguém deu falta de mim ainda?

Ele 
no mínimo seus amigos devem ter bebido bem mais do que você...

Ela
os seus também não deram sua falta ta bom?

Ele 
eu não estou com ninguém...eu estou sozinho...

Ela 
mas como uma pessoa vem a um restaurante sozinho?

Ele 
eu marquei um encontro...

Ela 
e ela não veio? Bem feito pra você...

Ele 
cala sua boca...

Ela 
não me mande calar a boca seu ordinário...

Ele 
mijona

Ela 
desequilibrado cagão...

(a luz se apaga)

Ele 
meu Deus, apagaram a luz...

Ela 
vão esquecer a gente aqui...

Ele 
(grita) alguém por favorrrrrrr

Ela 
silêncio total, esqueceram a gente aqui, e nesse escuro...

Ele
e mijados...

Ela 
será que tem um chuveiro por aqui...

Ele 
acho difícil...

Ela 
você fuma? Tem um isqueiro ou  algo que possa dar a luz...

(ele acende um isqueiro)

Ele 
mas você está pelada?

Ela 
você acha que eu vou ficar toda mijada até amanhã?

Ele
até amanhã?

Ela
claro, o restaurante só abre amanhã, e nem adianta ligar do seu celular que no banheiro não tem cobertura...

Ele 
ai meu deus...e agora...

Ela
o jeito é relaxar meu bem...tira essa roupa também...

Ele
como assim?

Ela
assim ó...

( ela pega o isqueiro dele e apaga, ouve-se sons de beijo, passa o tempo)

(a luz do sol entra pela pequena janela do banheiro, Ele esta semi nu dormindo no chão, ela fuma um cigarro ao seu lado)

Ela
eu me surpreendo cada vez mais comigo...(levanta pega sua bolsa , pega uma chave e abre a porta do banheiro) o que eu não faço pra arrumar um homem nesses dias difíceis.

(pega sua roupa , enrola-se e sai, ele permanece dormindo no chão)

Black-out

Vá procurar suas melhoras de Ronaldo Fernandes


Tema: Mãe
Entra mãe, está com um vestido simples, de sandália baixinha, de lenço na cabeça. Está com cinqüenta e cinco anos. Vem com um pano e limpa a mesa. Arruma os banquinhos e os coloca do outro lado da mesa. Olhando da platéia vêem-se os banquinhos atrás da mesa. Ela sai e volta com uma garrafa de café e três copos. Sai e retorna com pães, queijo e presunto. Ela acaba de preparar uma mesa para um lanche. Senta-se no banquinho do meio e aguarda.
MÃE: Eu nunca fui uma mulher forte! Sou daquelas que acha que um homem, é o esteio na vida de qualquer mulher... E pensando assim, larguei marido, filhos, pai e mãe e fugi pra São Paulo com um homem... Com ele tive duas filhas... Ele vivia bêbado e me batia toda noite. Fiquei com ele vinte e cinco anos. É tão engraçado... Porque eu fugi com ele, pra fugir do meu marido, que só vivia bêbado e me batia. Com meu marido eu tive um casal de filhos... Que sina a minha não é? Sabe que eu nunca estudei! Sou analfabeta de pai e mãe... Tenho tantas saudades da minha mãe... Eu tenho uma irmã chamada Miriam... Ela tem uma sina melhor do que a minha: Ela tem cinco filhos: Quatro meninas e um menino... Largou do marido, mas nunca largou dos filhos! Ela os criou até eles ficarem adultos... Ela vendeu as carnes pra criar aqueles filhos... Eu nunca vendi minhas carnes pra ninguém! (Ouve-se de palmas) São eles! (Num tom mais alto) Entrem!... Podem entrar! (Entra Filha e Filho) Eu os estava esperando...
Filha está muito arrumada. É um vestido de festa. Está de salto alto. Usa relógio, brinco, pulseira, anel. Não está exagerada, mas com acessórios com combinam. É preciso que o público perceba que a filha se arrumou pra ver a mãe. É uma forma de estar mais segura.
FILHO: A benção mãe!
MÃE: Deus te abençoe! (Olha para filha. Filha não diz nada.) Não vai pedir a benção da tua mãe filha? (Silêncio. Filha não responde) Mesmo assim eu te abençôo... Que Deus te abençoe minha filha! (Silêncio). Você está muito bonita filha! (Silêncio) Está linda!
FILHA: (Sem demonstrar emoção) Obrigada!
MÃE: (Com alegria) Vamos sentar minha gente... Eu preparei um lanche!  
A Mãe senta-se no banquinho do meio. O Filho senta-se no banquinho do lado direito da Mãe. A Filha fica parada.
MÃE: Senta aqui Filha.
Mostra o banquinho do lado esquerdo dela. Ocorre um Silêncio. Filha vai até o banquinho e senta-se. Ninguém come nada. Ninguém se move.
MÃE: Quando te vi filha... Lembrei de uma noite que Bilita, o pai de vocês, chegou bêbado... Não que ele chegar bêbado fosse uma surpresa, porque eu só lembro dele chegando bêbado... Eu estava grávida do teu irmão... Chovia muito naquela noite! Você era de colo... Quando ele chegava bêbado assim, eu te colocava no colo, pois eu pensava que assim ele não levantava a mão para bater em mim... Mas naquele dia ele estava muito violento... Ele queria que eu fizesse sexo com ele e eu não quis! Ele então quis me bater... Eu corri com você no colo... E nós duas ficamos embaixo de uma jaqueira que tinha por ali perto... Eu tentava proteger você dos pingos da chuva, mas de nada adiantava... Porque os pingos caiam entre as folhas da jaqueira... Passamos um bom pedaço da noite ali... Até que ele dormiu e nós voltamos pra casa... Eu acendi o fogão a lenha... Nossa foi difícil fazer aquele fogo pegar, pois as lenhas estavam úmidas, mas graças a Deus pegou! Eu esquentei água e te dei um banho quente... Você dormiu o restinho da noite, mas no outro dia você estava com uma febre medonha... Fiz chá de colônia e te dei um banho, mas a febre não passava... Corri até a maternidade de Limoeiro e você estava com pneumonia... Depois virou bronco-pneumonia! Eu nem sabia que doença era aquela. Passei uma semana na maternidade com você... Você quase morreu... Eu chorava toda hora... Mas milagrosamente, num domingo, você melhorou e, os médicos disseram que eu podia voltar pra casa com você... Nunca mais eu usei você como escudo... E toda vez que o Bilita quis me bater, ele me bateu!   
Filha vai mudando de atitude durante a fala da Mãe e ao final da mesma, todos estão emocionados. Não há choro, mas há uma sensação de pesar. Silêncio.
FILHA: Durante todo este tempo, eu queria te encontrar pra fazer uma pergunta: Por que você foi tão covarde?
MÃE: Quando eu nasci a minha sina já estava escrita! Eu nunca fui uma mulher de força... Eu fui vivendo conforme a vida foi acontecendo... E quando eu vi... A vida tinha passado por mim... Eu não sei o que eu vim fazer nessa vida!... Quando eu fugi pra São Paulo com o Neco... Eu pensava que depois nós fossemos buscar vocês. Foi isto que ele me disse! Mas quando eu cheguei aqui... Nada foi como eu pensei! Eu não sabia nem pegar ônibus! Eu dependia dele pra tudo! Ele não me deixava sair... Ele dizia que assim como eu coloquei chifre no pai de vocês com ele, eu podia colocar nele com outro.  Eu fiquei trancada durante seis meses naquele porão... Só ia ao quintal pra lavar e estender a roupa...  (Numa lembrança) Quando chovia, o porão enchia de água... Nós tínhamos uma galocha pra andar na água... Levava dois dias pra secar! Depois de um tempo ele me deixou ir a feira... Ao supermercado... A igreja... Mas logo eu fiquei grávida da Soraia e depois da Verônica... Eu não sabia nem lê nem escrever! E assim o tempo foi passando... Passando... E quando eu vi fazia dez anos que eu não tinha nem noticia de vocês... Um dia, do nada, o tio de vocês, o Mansinho, bateu aqui na minha porta... Que surpresa pra mim! Fiquei tão atarantada... Tão atarantada que nem dei muita atenção a ale... Fiquei com vergonha! Inventei uma desculpa que estava muito ocupada... Queria que ele fosse embora logo! Quando ele foi embora... Eu me desesperei!... Como eu podia ter feito aquilo? Era meu irmão! Um ano depois bateu na minha porta o Filho... Aquele homem na minha porta, dizendo que era meu filho... Eu não acreditei! Mas quando ele me chamou de mãe... Eu pensei... É meu filho sim!  Graças a Deus!...  Era a minha chance de recuperar o tempo do amor perdido... Mas eu não fui acostumada a dá amor...  E quem não recebe amor... Não sabe dá amor!
FILHA: Será mesmo mãe? (Surpresa) Mãe? Eu te chamei de mãe! Eu nunca pensei que fosse te chamar de mãe. (Num transporte) Será que quem nunca recebeu amor, não pode dá amor? (Num desabafo) Eu te perdôo! Eu te perdôo... Eu te perdôo pelos medos que eu tive quando estava sozinha... Pelas vezes que eu quis passear e você não me levou... Pelas conversas que eu tive comigo mesma... Pelos afagos que você não me fez... Pelas decisões que eu tomei sozinha... Pelas vezes em que eu odiei ser negra... Mas eu te perdôo... Eu te perdôo principalmente, porque a minha vida sem você (Pausa) Foi melhor que a sua vida sem mim. (Silêncio)
FILHO: (A Filha) Entende agora Filha?
FILHA: (Ao Filho) Entender?
FILHO: (A Filha) Sim! Agora você entende?
FILHA: Agora eu quero ir embora. É melhor!
FILHO: É! (Pausa) É melhor mesmo! (Pausa) Já está na hora! (Os dois olham pra Mãe)
FILHA: (Ao Filho) Então... Vamos?
FILHO: Vamos! (Os dois não saem do lugar. Silêncio.)
MÃE: Qual dos senhores aqui presentes... Pode me dizer... O que é o amor... Será que os senhores sabem? Alguns dos senhores sabem! Outros não! Por que para saber o que é o amor, é preciso amar?  Hoje estou aqui, diante dos senhores e confesso: Eu não sei o que é o amor! E olhando no espelho da minha vida, eu vejo refletida a imagem de alguém que eu não queria que fosse eu!... E me pergunto: Quem sou eu?  Quem sou seu? Se algum dos senhores puder dizer quem sou eu... Não! Só eu tenho a resposta. (Pausa) Eu sou alguém... (Pausa) Que tudo o que fez para o amor ... (Pausa) Foi procurar as minhas melhoras... (Silêncio)
FILHA e FILHO: Então mãe... Vá procurar as suas melhoras!