sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A LUZ DE JESUS De Ronaldo Fernandes

Tema: MADONNA
Personagens: Madonna e Lourdes Maria. 

Um tempo fictício. Lourdes Maria com 08 anos de idade. Está com Madonna em seu castelo de verão em um café da manhã. A paisagem é do interior da Inglaterra.
MADONNA: (Sentada. Vê Lourdes Maria aproximar-se). Bom dia Lourdes Maria. Já rezou hoje?
LOURDES MARIA: (Com cara de sono) Sim. Rezei duas novenas e um terço.
MADONNA: Isso mesmo. Parabéns.
LOURDES MARIA: A semana que vem tem a trezena que você me obriga a rezar de dois em dois meses.
MADONNA: Não gosto quando sou chamada de você. Sou sua mãe. Gosto de ser chamada de mamãe. 
LOURDES MARIA: (Sentando-se a mesa e com cara de tédio) Está bem mamãe.
MADONNA: Não faça essa cara com a sua mãe. Você sabe que eu posso pegar o chinelo e lhe dá umas chineladas na bunda.
LOURDES MARIA: Que saco! Isso tudo é um saco!
MADONNA: (Nervosa) Que jeito é esse de falar a mesa? Estamos no café da manhã. A hora da refeição é sagrada. Eu quero respeito.
LOURDES MARIA: (Com deboche) Está bem mamãe. Prometo ser a mais santa de todas as filhas de super estar.
MADONNA: (Muito nervosa) Eu exijo respeito!
LOURDES: Como eu posso te respeitar depois de assistir na cama com Madonna? Ou seria na cama com mamãe?
MADONNA: (Em choque) O que você disse?
LOURDES MARIA: Nada não.
MADONNA: Eu não admito que você fale assim comigo.
LOURDES MARIA: Ok.
MADONNA: Aquele filme é arte.
LOURDES MARIA: E o livro Sex também é arte?
MADONNA: (Quase caindo da cadeira) Menina, eu exijo que você me respeite. Eu sou sua mãe.
LOURDES MARIA: Mas eu vi o livro Sex. 
MADONNA: Você viu?
LOURDES MARIA: Relaxa mamãe. (Risos) Aquele livro é bem quente.
MADONNA: Quem te mostrou o livro?
LOURDES MARIA: Os seus dançarinos.
MADONNA: Heim?
LOURDES MARIA: Os dançarinos gays dos seus shows
MADONNA: Vou demitir todos eles.
LOURDES MARIA: Por que? Se eles não me mostrassem, basta procurar no Google imagens ou nos sites dos seus fãs. Eles publicam várias fotos lá.
MADONNA: Eu era muito nova. Queria provocar o mundo.
LOURDES MARIA: Nossa e aquele clipe... Como é mesmo o nome? Justify my Love. Mamãe eu adorei. Aquela parte...
MADONNA: (Louca) Pára. Pára de me torturar. Eu levo você a missa e também ensino a ler a  bíblia, escrevi livros infantis e você não me respeita. Eu sou uma mãe a moda antiga. Eu sempre quis ser. Na minha juventude eu precisava firmar meu nome como super estar.
LOURDES MARIA: Mas que a senhora fez umas coisas loucas, a senhora fez heim?
MADONNA: (Quase chorando) Me respeita que sou tua mãe.
LOUDES MARIA: E aquela masturbação no Blond Ambition Tour, a turnê que promovia na cama com Madonna. Choquei. Demais. Você sentiu prazer?
MADONNA: Eu não acredito que a minha filha de oito anos me faz esta pergunta.
LOURDES MARIA: É isso que dá viver no meio desses artistas todos. Eu acho tudo isso muito natural.
MADONNA: Eu não quero que você assista mais os meus clipes e filmes.
LOURDES MARIA: Mas você autoriza que eu tenha uma cópia do livro Sex?
MADONNA: (Gritando) Não!
LOURDES MARIA: Nossa como você está nervosa.
MADONNA: Senhora! Me chame de senhora! Eu sou sua mãe.
LOURDES MARIA: Gente a senhora precisa de luz.
MADONNA: No show?
LOURDE MARIA: Não estou falando do show. Falo em luz divina. Precisa se acalmar. Precisa de luz.
MADONNA: Você acha?
LOURDE MARIA: Sim. A senhora anda muito descontrolada. Precisa da luz de Jesus.
MADONNA: Mas eu rezo todos os dias pedindo luz.
LOURDES MARIA: Mas ainda não encontrou. Talvez não esteja fazendo a reza certa.
MADONNA: Reza certa? Que estória é essa?
LOURDES MARIA: Tem essa luz aqui na terra mesmo.
MADONNA: A luz de Jesus na terra? Onde eu encontro?
LOURDES MARIA: No Brasil.
MADONNA: No Brasil?
LOURDES MARIA: Sim. Eu li na internet que no Brasil tem um tal de Jesus Luz. Ele deve ter a luz que você tanto precisa.
MADONNA: No Brasil?
LOURDES MARIA: Sim. No Brasil. Aquele país ao sul do equador.
MADONNA: Eu preciso encontrar essa luz de Jesus.
LOURDES MARIA: Vá ao Brasil.
MADONNA: Mas ir assim sem motivo?
LOURDES MARIA: Faça uma turnê lá. Una o útil ao agradável.
MADONNA: Ótima idéia. Você as vezes me surpreende. Faz tempo que não faço shows no Brasil.
LOURDE MARIA: Vá lá. Faça shows. Ganhe dinheiro. E encontre a luz de Jesus.
MADONNA: Que bela idéia.
LOURDE MARIA: Enquanto todo mundo enlouquece com seus shows, você encontra a luz.
MADONNA: Me chame de senhora.
LOURDES MARIA: E então?
MADONNA: É isso mesmo. Vou ao Brasil encontrar a Luz de Jesus, quem sabe assim você  passa a me respeitar como a sua mãe.
LOURDES MARIA: Quem sabe.
MADONNA: Vou resolver isso agora. (Pega o celular e ligar) Hi Sthefany. Here is Madonna. All right, honey. Please select a tour in Brazil. I want to do four shows there. And arrange a meeting with a guy named Jesus Luz. Yeah, Jesus Luz .Yes He's the reason for me to do this tour in Brazil. Thank you so much. Now I'll take the Mary inLourdes school. Check these shows as soon as possible. Kisses.
LOURDES MARIA: Brasil, lá vamos nós. Gente, eu sempre quis conhecer o Rio de Janeiro.
MADONNA: Jesus Luz que me aguarde. Lá vou eu ao Brasil.

"A NOITE DA MADONNA", de Junior Texaco.



Tema: Madonna
Personagens:  Walter, o pai.
                           Geraldinho, o filho.

(Walter está na sala assistindo TV, e toma um susto ao entrar Geraldinho pronto pra sair. )

Walter – Mas o que é isso menino? Carnaval está longe ainda. Tira isso, que coisa feia!
Geraldinho – Que que tem? Vou sair. Estou até bem básico.
Walter – Olha aqui, na rua assim você não sai. Pode ter certeza porque eu não deixo, ouviu? Não deixo!
Geraldinho – Ah, vou sim pai. Hoje é a noite da Madonna, na boate. As bichas estão me esperando, não começa! O senhor disse que me aceitava papai.
Walter – Aceitar você vestido desse jeito é que não, onde já se viu? E pode ir tirando essa roupa senão te arranco na base da porrada! Anda Geraldinho não me provoca! Garoto mau caráter!
Geraldinho – Não tiro não, tá pensando o que? Esse modelo eu mesmo que fiz. Tive que usar muita criatividade, né, porque a mesada que o senhor me dá é uma vergonha.
Walter – Pois olha, vou te dizer, esse esforço não adiantou muito não, viu? Se a Madonna te visse agora ia ser uma desgraça.
Geraldinho – Olha aqui pai, não começa. O senhor disse que me aceitava, é ou não é?
Walter – É…
Geraldinho – Que gostava de mim do jeito que eu sou…
Walter – É…
Geraldinho – Que não ligava para as minhas amizades…
Walter – Humm…é.
Geraldinho – Que não ligava nem que eu fumasse maconha…
Walter – Epa, ah, isso eu não disse não.
Geraldinho – Pois é, mas das minhas roupas não falou nada. E agora vem com estória.
Walter – Vem com estória não que eu nem sabia que você tinha virado travesti. Cada dia é uma novidade meu Deus.
Geraldinho – Drag papai, sou uma Drag.
Walter – Drag ainda por cima! Meu filho, escuta o papai. Olha, Drag é uma vergonha, é menos que travesti, não faz isso não…
Geraldinho – Chega papai estou atrasado. A Lucimara, a Katia e a Rose estão me esperando.
Walter - Quem? Essas amigas suas não conheço…
Geraldinho – A Lucimara é o Luiz papai. E o Kadu é a Katia e a Rose também, que ele tem dupla personalidade.
Walter – Meu pai eterno, parece que eu estou vivendo num daqueles episódios do ‘além  da imaginação’. Olha aqui moleque sem vergonha, vai já tirar essa roupa e pronto! Assim você não vai.
Geraldinho – Não, não e não. Assim sou e assim eu vou.
Walter – Peraí  que eu já te pego! (e passa a mão num chinelo)
Geraldinho – Isso, me bate papai! Me espanca! Mostra sua cara! Dê seu exemplo de intolerância papaizinho querido, vai!
Walter – Deixa de ser imbecil, moleque maluco dos infernos! Eu só quero que você tome vergonha na cara , deixe de andar como uma bichinha desclassificada e seja um gay homem pelo amor de Deus! Vai já tirar essa roupa senão não respondo por mim!
Geraldinho – Mas papai, eu já disse. Hoje é a noite da Madonna na boate. É uma festa em homenagem a ela.
Walter – Coitada. Deve estar se revirando no tumulo.
Geraldinho – Tá louco pai? A Madonna não morreu.
Walter – Não morreu porque não te viu. Senão ia ter um troço, coitada! A mulher passa a vida se dedicando à carreira tentando passar uma mensagem positiva através da sua musica e o que acontece senhoras e senhores? (…) Atrai um bando de viadinho fubá com uma maquiagem igual a do Bozo e dizendo que querem ser como ela. E o pior, sem entender picas do que a coitada canta. O que se prova pelo tipo de comportamento que essas criaturas têm.
Geraldinho – Que que é isso papai? Está me chamando de burro?
Walter – Estou te chamando de viadinho burro, Geraldinho.
Geraldinho – Você vai ver papai, vou ser famosa! Rica! Vou fazer shows no exterior! Na Europa!
Walter – Quem faz show na Europa é travesti Geraldinho! Travesti! E olha, só se tiver samba no pé e pagar uma comissão pra Sonia Macaca, que travesti na Europa não é bagunça, não.
Geraldinho – Ah, me deixa papai! Você não entende. Me deixa ir que eu já estou atrasado, senão chego tarde pro concurso.
Walter – Concurso?
Geraldinho – É pai. De bate-cabelo. Dublando a Madonna.
Walter – Nunca! Isso nunca! Filho meu batendo o cabelo na boate. Era só o que me faltava, onde já se viu? Vai acabar dando problema no pescoço, ficar tetraplégico. Deu no fantástico.
Geraldinho – Mas papai quem ganhar o concurso vai até Londres, conhecer a Madonna.
Walter – Mas nem se fosse pra conhecer a Tina Turner! Drag não! Não, não e não. Ene A Ó Til!
 Geraldinho – Vou me vingar papai, você não compreende minha essência feminina. Minha feminilidade.  Você me humilhou, riu de mim, zombou do meu modelo, vai pagar caro. Vai ser briga de foice papai!
Walter – Filho, não faz assim, estou sendo bem bacana com você, olha, te empresto minha camiseta da Madonna, aquela que tem a estampa do Erótica. É só pôr um jeans, tirar essa peruca fedida, essa maquiagem do Bozo, pôr um tênis e você vai ficar lindão, te empresto até meu perfume.
Geraldinho – Não quero. Quero ir assim.
Walter – Se for arrumadinho como eu falei é capaz até de arrumar um paquera, um namoradinho, legal, de família.
Geraldinho – Não quero caralho! Quero ir assim papai. O concurso…
Walter – Não tem concurso nem mané concurso. Desse jeito você não sai de casa. Vai me matar de vergonha. E a vizinhança vai dizer o que? Assim não vai. Só se for por cima do meu cadáver!
Geraldinho – Não brinque comigo papai.
Walter – Não brinque comigo você moleque maluco dos infernos! Bicha retardada, vai pro teu quarto já, anda! Não sai. Assim você não sai.
Geraldinho – Eu vou papai. Vou mas volto. Pra me vingar.
(um estouro, uma fumaça e o menino sumiu)
Walter – A gente faz de tudo pra aceitar um filho gay, mas tem certas coisas que o bom senso não aceita…filho gay, vai vendo, um dia você também vai ter um.  

                                                                Blackout

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

COMO UMA VIRGEM de Marcus Di Bello

TEMA: MADONNA

(Dois amigos na mesa do bar. Bebem cerveja e comem uma porção de batata frita)

CÉSAR
O Tarantino estava errado.

RÔMULO
(Com uma batata na boca)
Como é?

CÉSAR
O Tarantino. Ele estava errado. Sabe o começo de Cães de Aluguel?

RÔMULO
Lembro pouco. É aquela conversa sobre a Madonna?

CÉSAR
Exatamente. Na verdade é uma conversa sobre a música Like a Virgin.

RÔMULO
E o que está errado?

CÉSAR
No filme ele diz que a música inteira é uma metáfora para pênis grandes. Que não é nada daquela besteira de que é uma garota vulnerável que conhece um rapaz sensível. Ele explica que, na verdade, é sobre uma mulher muito experiente na cama, que transa muito. Quando acorda, quando está tomando café, quando está no banho, quando está no trabalho.

RÔMULO
No trabalho?

CÉSAR
É só um exagero para mostrar o quanto ela transa.

RÔMULO
É uma máquina de sexo então?

CÉSAR
Isso! Uma máquina de sexo. Então ela transa muito, com os mais variados pênis. Até que ela conhece um cara, que possui a piroca de ouro. Sabe, os Beatles do pênis. O Albert Einstein da metida. O Charlie Sheen da grossura.

RÔMULO
Isso soou estranho.

CÉSAR
Enfim, então o Tarantino chega a essa conclusão de que quando ela conhece esse cara e, consequentemente, transa com ele, acontece algo que nunca havia acontecido antes: dói. Dói muito. Não deveria doer, porque ela está acostumada com isso, mas dói. Então é como se fosse a primeira vez. Like a virgin.

RÔMULO
Lembrei do filme agora. É aquele que tem o negrão, né?

CÉSAR
Samuel L. Jackson? É esse mesmo.

RÔMULO
Então o Tarantino estava errado? Parece tão certo para mim.

CÉSAR
Não! Está errado. A música não é sobre pênis grandes.

RÔMULO
É sobre o que então?

CÉSAR
Lesbianismo.

RÔMULO
Que besteira.

CÉSAR
Ouve o que eu ‘tô falando. Eu ouvi a música bastante quando era novo e faz umas duas semanas que venho analisando a letra. Trata-se de lesbianismo. Ela diz que foi enganada, que ficou triste e deprimida. Ela está falando dos homens. De todos os homens do mundo. É claro que a Madonna pensou nisso quando escreveu a música. Ela já gostava de mulheres na época, por isso escreveu Like a Virgin.

RÔMULO
Na época ela estava com o Sean Penn, não faz sentido.

CÉSAR
Faz todo o sentido. Foi um casamento de fachada. Isso acontece, os famosos fazem com mais naturalidade do que a gente imagina. Sean Penn era o amigo gay da Madonna.

RÔMULO
Sempre percebi um jeitinho afeminado nele mesmo. Principalmente depois que ele fez Milk.

CÉSAR
Tanto que eles se separaram dois anos depois de terem casado.

RÔMULO
É verdade.

CÉSAR
Então ela assina um contrato com a Pespi, que é uma marca de refrigerante para o público GLS.

RÔMULO
Espera, eu bebo Pepsi.

CÉSAR
Certo, vamos pular esse fato então. Mas lembra o que ela fez com a Britney?

RÔMULO
O beijo de língua?

CÉSAR
O beijo de língua! Like a Virgin se trata de lesbianismo. É uma mulher que está acostumada em trepar com homens, mas quando descobre a outra fruta se sente como uma virgem.

RÔMULO
A Madonna parece gostar de ninfetas.

CÉSAR
A Madonna se acha uma ninfeta, isso sim. Ela queria mesmo é se chamar Lolita.

RÔMULO
Mas e o Jesus Luz?

CÉSAR
Outro bicha. Foi desculpa para a Madonna vir ao Brasil e se encontrar com a Ivete.

RÔMULO
Você quer dizer que...
(César afirma com a cabeça)
Que mundo doido. Devia é acabar em 2012 mesmo.

CÉSAR
A Madonna não me engana, meu amigo. Pode enganar metade do mundo, mas a mim não.

RÔMULO
Realmente, o Tarantino estava errado.

CÉSAR
É tudo sobre lesbianismo.
(Silêncio na mesa. Cada um bebe uns dois goles de cerveja)

RÔMULO
Você estava falando sério quando disse que ouvia a música quando era mais novo?

(Blackout)

sábado, 22 de outubro de 2011

DESMONTAÇÃO de Junior Texaco.


Tema: assalto
Personagens : ladrão
                          Drag-queen

A drag está na rua tentando achar um taxi. Está atrasada. Chega o ladrão:
Ladrão – Perdeu putão, perdeu! Passa tudo e bem quietinha senão quiser levar pipoco nessa bunda feia. Vai travecão do caralhoi, rapido!
Drag – Não sou travecão sou drag-queen.
Ladrão – Drag quem? ( E gargalha.)
Drag - Mas eu nem tenho dinheiro, nada de valor…
Ladrão – Quem disse que eu quero dinheiro dona Drag quem?
Drag – Não?
Ladrão – Eu quero é tudo. Pode começar tirando as botas. Vai, rapido, caralho, não tô brincando te meto bala porra!
Drag – Ai, espera, deixa eu tirar. Pronto.
Ladrão – Passa pra cá, dá essa bolsa ai, e vai tirando o resto.
Drag – O resto?
Ladrão – É caralho, tá me tirando? Tira tudo. A saia, a jaqueta, esse collant de puta, não tem vergonha de usar isso não? Tem gente que acha bonito? Alguem te come?
Drag – Não precisa humilhar e tem homem que come sim.
Ladrão – Cala a boca perobo do caralho, não mandei falar, vai tirando tudo. Age!
Drag – Calma se ficar mais nervosa me atrapalho, não precisa gritar, vou dar tudo.
Ladrão – Fala direito puto de merda. Que nem homem! Não sabe falar que nem homem? Nervosa é o caralho putão!
Drag – Sou assim mesmo.
Ladrão (fazendo uma vozinha) Sou assim mesmo ai ai ai. Puta merda viu? Por isso que tem uns que matam.
Drag – Não sei pra quê tanto ódio num coraçãozinho tão pequeno.
Ladrão – Isso é problema meu porra, tenho ódio de tu e está acabado, não mandei falar, cala a merda dessa boca se não quiser morrer.
Drag - Pronto. E agora?
Ladrão – Essa calcinha tá muito xexelenta, hein. E esses peitos e essa bunda ai?
Drag – Que que tem?
Ladrão – São de verdade?
A drag não responde.
Ladrão – Responde viado do caralho, quer morrer? Vou perguntar de novo pra mocinha entender. Esses peitos e essa bunda são de verdade? Ou são pireli? (…) São pireli, né  viadinho fajuto. Bicha fraca dos infernos. Passa pra cá, rapído.
Drag – E agora?
Ladrão – E agora o cabelo minha santa. Passa pra cá, isso. Agora sai correndo sem olhar pra trás viado feio, pau no cú dos infernos, vai, corre.
O ladrão dá uns tiros pro alto e a drag corre.
Ladrão – (rindo) Vai! Corre Drag quem, corre bastante que eu também vou. Que ainda dá tempo de eu me montar pra ir pra boate. Hoje aquele show é meu! Meu! Vou bater muito o cabelo caralho!
Pega o celular da drag e liga pra alguem enquanto vai embora:
Ladrão – Olha, pode ir lá em casa me maquiar?
                                                               blackout

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

CELULAR DO DOCE De Ronaldo Fernandes

Tema: Assalto
NEIDE: (Pra ela mesma) Será que é por aqui?   Será que eu estou perdida meu Deus? Mas eu lembro direitinho. Eu vi no street view com aquele bonequinho que vamos posicionando e ele vai mostrando a foto. Lembro daquela padaria. Daquele banco. Daquela loja. Eu fiz a rota pelo Google maps e fui confirmando rua a rua pelo street view. Eu lembro bem. Eu tenho uma memória fotográfica e ela nunca falha... Bem não é bem assim... Eu sou péssima para fisionomia. Esses dias um cara chegou perto de mim e falava todo sorridente: Oi Neide, quanto tempo. Você continua com a mesma cara. E o Rivaldo como está? E eu com aquele sorriso aberto, sem nem saber com quem estava falando. Eu nunca tinha visto mais gordo, nem mais magro. - Neide você está mais bonita até, esse cabelo ficou ótimo. E eu me perguntando quem era e falando: Que nada, obrigado. Obrigado, nada, eu falei obrigada, porque mulher diz obrigada e homem diz obrigado, e eu disse obrigada. Mas não adiantava dizer obrigada porque eu nem sabia com quem estava falando. Fiquei meia hora conversando com o cara e nem sei quem era. Ele me deu dois beijinhos e foi embora e eu me perguntando quem era. Coisas de dona Neide. Mas porque que eu falei isso tudo mesmo? Ah lembrei. É por causa da minha memória fotográfica. Eu tenho a memória fotográfica. Isso é certo como dois e dois são quatro. Outro dia me levaram o celular. Eu estava no ponto de ônibus, tinha acabado de sair da diária que eu faço. Sim eu sou diarista. Qual o problema? Diarista não pode fazer rota no Google maps e consultar o street view não é? Eu sou diarista e consultei tudo isso no computador da casa de uma diária que eu faço. Eu não gosto de falar faxina. Eu não faço faxina, eu faço diária. Como eu estava dizendo, me levaram o celular. Eu estava no ponto do ônibus...
Um flash back
NEIDE: (No ponto de ônibus) Esse ônibus que não chega. Que saco. Odeio ficar esperando ônibus tanto tempo. Bairro chique é assim, ônibus demora mesmo. Eles nunca se lembram das diaristas, devem pensar que diarista de bairro chique vem trabalhar de carro popular. Carro popular sim meu bem. Porque carro popular aqui eu não vejo nenhum, só carrão. (Toca o celular e ela atende) Oi Luani. Tudo bem menina? Eu tô nesse maldito ponto de ônibus esperando adivinha o que? Adivinha? Não. Não é um táxi. É um ônibus! Essa porra desse busão que não passa. Não menina aqui não tem perigo de ficar no celular, aqui é bairro chique, não é desses lugares que tu freqüenta não. Imagina se um ladrão vai querer pegar esse meu celular do doce. (Risos) Coitado do bichinho. Ele é do doce, mas eu escuto bem. Está bem então Luani. Me liga mais tarde, vamos combinar de assar aquelas carninhas. Falou. Beijos. (Desliga o celular e quando coloca na bolsa surge um ladrão com uma arma)
LADRÃO: Passo o celular ae que você colocou na bolsa.
NEIDE: Nossa, mas esse celular é do doce.
LADRÃO: Que porra do doce que nada. Não fala nada e me passa o celular ae.
NEIDE: Mas moço, esse celular é do doce. Não vale nada.
LADRÃO: Passa a porra do celular e cala a boca.
NEIDE: Nossa, companheiro que jeito de falar.
LADRÃO: Passa a porra do celular.
NEIDE: Tá bom. (Mexe na bolsa)
LADRÃO: (Nervoso) Tá pegando o que na bolsa? Ta procurando o que?
NEIDE: Calma ae. Estou pegando o celular do doce.
LADRÃO: Pára de falar que essa merda é do doce e me passa a porra do celular.
NEIDE: (Tirando um celular da bolsa) Toma. Mas vou falando que esse celular é do doce.
LADRÃO: (Pega o celular) Vai tomar no cu. (Sai correndo)
NEIDE: (Som de um ônibus chegando) Agora chega esse ônibus. Não to nem ae, aquele celular era do doce mesmo.
Volta ao tempo presente
NEIDE: (Mostrando a bolsa com vários celulares dentro) Eu cansei de ter celulares roubados. Nem era pelo celular. Era pela agenda com os números de telefone das minhas diárias. Eu não gosto de falar faxina, falo diária. A partir daí comecei a andar com vários celulares. O meu e o do doce: Eles parecem de verdade, mas não são. E eu sou honesta e sempre digo pro ladrão, mas eles não acreditam.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

NA HORA DO ALMOÇO de Kadu Veríssimo

(Tema Assalto)

Personagens

Cida
Laerte

(toca a campainha)

Cida
Mas será possível? É hoje que eu não consigo fazer nada...

(toca novamente)
Cida
Já vai, já vai... (bufa)( chega no portão e abre) Pois não?

Laerte
Abre esse portão ae Tia, isso é um assalto!

Cida
Não obrigada

Laerte
(dando um chute no portão) Tá maluca tia, não escutou eu falar que isso é um assalto?

Cida
Mas o que que isso? Chutando o meu portão? Eu já falei não, eu não quero muito obrigada...e agora dá licença que eu tenho o almoço pra fazer ainda...

Laerte
A tia ta tirando uma com a minha cara? Qualé? Dá uma olhada aqui no trabuco 

(mostra o revólver)
Cida
Meu Deus! É um assalto?

Laerte
Não tia , vim pedir doce de Cosme e Damião, é claro que é um assalto, to falando a meia hora pô, dá licença que eu vou entrar que não posso me expor com essa arma aqui na rua...

Cida
Fica a vontade, me desculpa sabe, é que foi tanta gente tocando essa campainha essa manhã...foi a mulher do Yakult, foi uns mendingos pedindo comida,  um pessoal de uma igreja aí pedindo dinheiro, outros pra eu ajudar um hospital, outros pra eu ajudar um lar de crianças cegas, outros um bando de gente maquiada vendendo cartão, umas vendendo maquiagem, o homem do gás, o homem da net, o homem da pamonha, a mulher do quebra queixo, a tia da tapioca, o caminhão das verduras, e agora você...

Laerte
Mas eu vim te assaltar...

Cida
Tudo bem, entra um pouco, não repara a bagunça, que eu ainda tive que ir na feira, e com tanta coisa não deu tempo de arrumar...

Laerte
Eu vou ser rápido...

Cida
Não precisa ter pressa, meu marido chega com as crianças só meio dia, e ainda são dez e meia...

Laerte
(estranhando) Olha, eu não vou demorar não, quero que a sra me passe todo seu dinheiro...

(Cida gargalha)
Laerte
Qualé tia, ta debochando da minha cara? Passa a grana ae...

Cida
Eu to sem um tostão meu filho, o que eu tinha eu gastei na feira, ali sim eu fui assaltada, você sabe quanto ta o preço dos legumes?

(empurrando ele pra sentar)
Laerte
(sem entender nada) Não...

Cida
Tá pela hora da morte, mas deu pra comprar umas frutas, olha fiz um suquinho de laranja, ta uma delicia...

(vai buscar um  copo de suco)
Laerte
Muito obrigado mas eu...

Cida
Não vai me dizer que não quer? Assim eu fico ofendida...(traz o suco) Toma, é de laranja fresquinha...

Laerte
Quero não, quero dinheiro e se não tiver eu...

Cida
Vai tomar sim senhor, onde já se viu, que desfeita, isso é falta de educação, sua mãe não te deu educação não?

Laerte
Eu não tenho mãe não...

Cida
Bem se vê, coisa feia, toma essa suco (enfiando na boca de Laerte, ele bebe) Mas mãe você tem sim porque você não saiu da barriga de uma cadela, você só não a conhece...

Laerte
Muito Obrigado (devolve o copo)

Cida
Desculpa não te servir nada pra comer  é que ainda não tive tempo de fazer...

Laerte
Chega porra , cala essa boca tia que saco, isso aqui é um assalto tá tirando com a minha cara?

(Cida mete um tapa na cara de Laerte)
Cida
Olha como fala comigo seu marginal, eu tenho idade pra ser sua mãe

Laerte
Ta me tirando vagabunda? Te meto bala na fuça...

Cida
Vai meter bala na fuça da sua vó aquela cadela desgraçada

Laerte
Tu é muito maluca tiazona, vou te meter bala e roubar toda essa casa

Cida
Vai roubar o cacete, seu pivete filho da puta, se manda da minha casa que tenho o feijão no fogo, e todo um almoço pra acabar...

Laerte
Eu vou acabar com a tua vida piranha, tu ta pedindo velha, agora tu vai tomar na....

( desmaia e cai no chão)

( Cida olha e chuta devagar com a ponta do pé)

( Vai chutando mais forte)

(respira aliviada)
Cida
Eu pensei que essa merda desse Racumim não ia fazer efeito nunca...quase levei bala na cara...seu pivete desgraçado, esse racumim misturado com diabo verde, cloro, sapólio, e óleo de fígado de bacalhau vai te mandar direto pro lugar de onde tu nunca devia ter saído seu condenado...

(vai puxando ele pelos braços , arrastando seu corpo até uma buraco no fundo da casa)

Cida
Fica aí e faz companhia pra essa palhacinha chata dos cartões e pro homem do gás que eu hoje tava sem dinheiro pra pagar...

(puxa uma tampa grande de cimento por cima)

Cida
Vamos ver se agora finalmente eu consigo terminar esse almoço...

(volta pra cozinha)

(Toca a campainha)
Cida
Puta que pariu !

 (pega o revolver do chão e sai) 
(ouve-se um tiro)
(Black-Out)

ASSALTO À MÃO (INVERSA) ARMADA de Marcus Di Bello

TEMA: ASSALTO

(João Carlos, rapaz alto, vestindo uma calça jeans desbotada e camisa rasgada na lateral. Sentado no ponto de ônibus. Entra Altamiro, estatura mediana, vestindo paletó e gravata. Segura uma pasta.)

ALTAMIRO
Ganhou, ganhou, ganhou!

JOÃO CARLOS
Como é?

ALTAMIRO
Você ganhou e eu perdi. Não se preocupa que eu não vou chamar a atenção. Pode me assaltar.

JOÃO CARLOS
Mas quem disse que eu vou te assaltar?

ALTAMIRO
Não vai? Você tem a maior cara de bandidinho. Olha, eu tenho um celular muito bom, modelo do mês passado, com acesso às redes sociais, agenda, câmera digital e rádio. Até ligação ele faz.

JOÃO CARLOS
Você realmente está me confundindo com um ladrão?

ALTAMIRO
Eu juro que não vou fazer nem B.O. Eu tenho trezentos reais na carteira. Só vou pedir para que você deixe os meus cartões de crédito e os documentos.

JOÃO CARLOS
Eu não quero te assaltar, amigo.

ALTAMIRO
Sou bem medroso, vou entregar tudo o que eu tenho e não comentarei com ninguém. No máximo contarei à minha esposa, mas não entraremos em muitos detalhes. Veja bem, me assaltar é um bom negócio. Aproveita que não tem ninguém na rua, apenas nós dois. E caso alguém veja, estou carregando dentro da minha pasta outra roupa. Você pode trocar de camisa na próxima esquina, assim a polícia não te encontra.

JOÃO CARLOS
Você está me confundindo. Não sou de fazer essas coisas.

ALTAMIRO
Ladrão de primeira viagem, não é? Tudo bem. Vou fingir que o seu dedo por baixo da camisa é sim uma arma de verdade. Prometo que não vou reagir. Vou agilizar para você.

JOÃO CARLOS
Mas eu não sou ladrão.

ALTAMIRO
Tudo bem, eu disfarço.

JOÃO CARLOS
Qual é o problema? As minhas roupas que não são tão boas assim, os meus olhos que não são claros ou o meu cabelo que não é liso? Por que está me tratando como um ladrão?

ALTAMIRO
Eu o chamo de senhor se quiser. Aproveitando que falou da roupa, pode levar o meu paletó, não tem problema nenhum. Não vamos criar caso.

JOÃO CARLOS
Você ‘tá me deixando irritado.

ALTAMIRO
Se o problema é fugir, tudo bem. Meu carro está estacionado na rua do lado, você pode levar a chave.

JOÃO CARLOS
Eu não quero te assaltar, você consegue entender isso? Vou para o meu trabalho. Estou aqui parado esperando pelo ônibus.

ALTAMIRO
(Surpreso)
Você está esperando ônibus?

JOÃO CARLOS
Isso!

ALTAMIRO
Desculpa, confundi o senhor. Realmente me perdoa.
(Olha o relógio)
Com licença, estou atrasado para ser atropelado. Tenha um bom dia.
(Sai)

JOÃO CARLOS
Vê se pode, me confundir com um ladrão! Com o preço da passagem de ônibus, eu é que serei assaltado em instantes.

(Luz apagando em fade out)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A DEMISSÃO de Kadu Veríssimo

(Tema : Desculpas Esfarrapadas)

Personagens

Matilde
Solange

Matilde
Isso são horas de chegar Solange? Você está muito atrasada, esta quase três horas atrasada...

Solange
Eu sei, me desculpa

Matilde
Desculpa? hoje você só vai pedir desculpa? Ou vai inventar mais uma das suas desculpas esfarrapadas? Sim porque você esta chegando atrasada demais, e você não era assim, era boa, chegava no horário, era prestativa,era....

Solange
Eu posso falar?

Matilde
Deve!

Solange
Não vou inventar mais desculpas não sra, fiz uma promessa que não ia mais mentir, e não vou, porque desculpa esfarrapada é mentira...

Matilde
Então quer dizer que você sempre mentiu pra mim?

Solange
Sempre não, mas na maioria das vezes sim...

Matilde
E qual foi o motivo de hoje posso saber?

Solange
Não, não pode

Matilde
Mas é muito abuso, eu sou sua patroa Solange,você me deve uma explicação...

Solange
Pode me mandar pra rua, se quiser, mas não conto não...

Matilde
O que você estava fazendo de tão grave que não pode me contar?

Solange
Olha aqui dona Matilde, eu to cansada da sra se meter na minha vida, quer mandar embora manda, quer descontar desconta, mas da minha vida eu não conto não...

Matilde
Sua abusada, olha o jeito que você fala comigo, eu que sempre fui tão boa pra você

Solange
Boa é o cacete, sempre me tratou com desprezo, como se eu fosse um bicho

Matilde
Que mentira, você é como se fosse parte da família

Solange
Não me faça rir dona Matilde, por favor

Matilde
Agora eu quero saber o porque do atraso Solange...

Solange
E eu já disse que não vou contar...dona Matilde , por acaso a sra tem alguma coisa pra reclamar do meu serviço?

Matilde
Não, você é uma excelente doméstica, cozinha muito bem, cuida bem das coisas, é de confiança...sei que não vou arrumar outra como você Solange, não quero te perder, mas quero que confie em mim...

Solange
Eu confio

Matilde
Então me conta, o que você estava fazendo?

Solange
Eu tava transando...

Matilde
(constrangida) Credo Solange que jeito de falar...

Solange
Tava num motel dando mais que chuchu na serra

Matilde
Ah é? Bom, então esta bem, mas veja se não chega mais atrasada, ou liga quando acontecer algum imprevisto (desconcertada, tenta sair)

Solange
Mas tem mais...

Matilde
O que?

Solange
Era com o seu Carlos

Matilde
O meu marido?

Solange
Isso, ele me come faz uns dois anos , já até transamos na sua cama...

Matilde
Solange, que horror, pare de me contar essas coisas...

Solange
Não a sra pediu, e eu vou falar, inclusive já transei com o Serginho também

Matilde
O meu filho? Mas ele só tem dezesseis anos...

Solange
E foi na sua cama também, e em cima da maquina de lavar...

Matilde
Chega Solange, chega...

Solange
Não, eu vou continuar, transei com o seu Ari também...

Matilde
Meu deus, o meu pai....

Solange
E foi no tapete da sala, depois da festa de ano novo...

Matilde
Eu estou em choque...pare por favor...

Solange
Quero falar tudo que esta engasgado aqui, sempre fiquei inventando desculpa, agora não quero mais, quero falar tudo...eu já usei seu perfume, seus vestidos, suas jóias...

Matilde
Cachorra

Solange
Já levei muito congelado pra minha casa...

Matilde
Não basta transar com toda a minha família, ainda me rouba comida?

Solange
E eu não acabei, eu transei com a dona Margarida também...

Matilde
É mentira! Não pode ser...mamãe...(em estado de choque)

Solange
Foi no tapete depois da festa de ano novo, junto com o seu pai...eles são muito loucos...

Matilde
Estou arrasada

Solange
Pode me mandar embora dona Matilde...me demita!

Matilde
Eu vou, eu vou te demitir...você vai para o olho da rua, mas antes você vai ter que fazer uma coisa...

Solange
Pode pedir dona Matilde, a sra ainda é a patroa...

 (tempo)

Matilde
Transa comigo?

(Black-out)

VERDADES ESFARRAPADAS de Marcus Di Bello

TEMA: DESCULPAS ESFARRAPADAS


(Lobato arma o tripé e deixa a filmadora na posição certa. Começa a gravação. Ele caminha até uma cadeira e senta. Está em frente à filmadora. Pisca os olhos lentamente.)

LOBATO
Oi Rita. Meu amor.
(Tempo. Olha o relógio)
São duas e vinte e cinco da manhã. O seu aniversário foi ontem e eu deveria ter ligado até meia noite para dar os parabéns. Não o fiz. Não tive tempo. Fiquei o dia inteiro na empresa, aliás, é onde estou agora. Tentei ligar para você depois da meia noite, mas você não me atendeu. Deve estar com raiva. Então resolvi gravar esse vídeo, porque sei que você não vai querer olhar na minha cara.
(Ajeita-se na cadeira)
Rita, sei que você não vai acreditar que fiquei trabalhando a noite inteira. As minhas verdades são sempre vistas como mentiras por você. Então vou realmente contar uma bela mentira.
(Respira fundo)
Passei a noite toda trepando. É isso mesmo. Acabei agora, antes de fazer esse vídeo para você. Até usei essa filmadora para filmar a trepada. Foi com a Marta, aquela estagiária loira que tem uma tatuagem no pescoço e que você odeia. Você sempre diz que ela dá em cima de mim, não é? Hoje ela deu em cima, embaixo, de lado, de joelhos, de bruços. Sinceramente, foi um show de foda. Trepamos sobre a máquina de Xerox, sobre a mesa do café, sobre o balcão do hall de entrada e até sobre a mesa do chefe. Ela falou para eu te ligar, mas eu não dei ouvidos porque estava muito ocupado lambendo a barriga dela. Se a empresa fosse um reinado, com certeza hoje eu me tornaria o rei da fodelança e ela a rainha da bocaça. E é claro que nada disso aconteceu, Rita, mas você nunca acredita quando eu digo a verdade. Para você sou cheio de desculpas esfarrapadas. Você acha que invento, não é? Está aqui a invenção completa para você.
(Tempo)
Desculpa por não ter ligado. Eu te amo muito.
(Levanta e desliga a filmadora. Entra Marta, a estagiária, de lingerie)

MARTA
Acha que ela vai cair?

LOBATO
Talvez, Marta. Ela nunca acreditou nas mentiras, então pode ser que não acredite na verdade também.

MARTA
Agora liga a câmera de novo para fazermos aquela posição que você prometeu.

(Luz caindo em fade enquanto ele liga a câmera e eles começam a se beijar)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

COZINHANDO A RELAÇÃO de Marcus Di Bello

TEMA: COZINHA

(Paulo e Renata, lado a lado, atrás de uma mesa cheia de ingredientes, utensílios de cozinha e receitas)

RENATA
Alcança a salsinha p’ra mim.
(Paulo esticando o braço)
É aquela do lado do sal.

PAULO
(Já com a salsinha em mãos)
Eu sei qual é.

RENATA
Agora pega aquela panela.

PAULO
(Mostrando desconforto)
Está na mão.

RENATA
Começa a ler a receita.

PAULO
Meu amor, eu preciso mesmo fazer isso com você?

RENATA
Paulo, é melhor você parar de reclamar. Às vezes o marido ajuda a mulher na cozinha. Qual é o problema?

PAULO
Eu falo qual é o problema. E se os meus amigos descobrem?

RENATA
Acha que é só encostar num fogão que você já fica afeminado?

PAULO
Não, não é isso. Fogão é normal. Não tem problema em fazer um miojo de vez em quando. Mas essas palhaçadas todas não tem nem como explicar. Suflê, rocambole, moqueca.

RENATA
O seu machismo me assusta às vezes.

PAULO
Não é machismo.

RENATA
O seu amigo Roberto não pensa desse jeito. Ele não se importa de cozinhar com a Aline.

PAULO
Mas é outro caso.

RENATA
Que outro caso? Eles também são casados há quatro anos, como nós.

PAULO
É que o Roberto é estiloso na cozinha.

RENATA
Que estilo ele tem? Usar bandana na cabeça saiu de moda no começo dos anos 2000.

PAULO
O que eu quero dizer é que ele prepara pratos exóticos.

RENATA
Se fosse a Aline te convidando para cozinhar com ela você não recusaria.

PAULO
Que bobagem, Renata. Eu não estou me recusando a cozinhar com você.

RENATA
Você tem uma puta má vontade comigo, Paulo. Acha que eu não percebo? Mas se fosse a exótica da Aline, então você seria o mestre cuca.

PAULO
Eu não acredito no que estou ouvindo.

RENATA
É que a Aline é linda, então tudo bem o Roberto cozinhar com a mulher. Você disse que é outro caso, não é? Realmente, é outro caso. Ela é a maior gostosona, então é estiloso o Roberto cozinhar com a mulher. Mas se souberem que você, Paulo Vieira Lima, cozinha comigo, o que será da sua reputação?

PAULO
Renata, para com isso. Não falei com essa intenção. O que eu quis dizer é que o Roberto teve essa formação desde pequeno. Sempre ajudou a mãe na cozinha, então para ele é fácil cozinhar com a mulher. Eu nunca tive isso. Minha mãe sempre me mimou. Eu sou um verdadeiro nó cego na cozinha. Não sei nem diferenciar uma colher de um garfo. Mas agora eu quero aprender a cozinhar com você. Eu nunca iria querer a Aline como professora. Acredita em mim. Desculpa se eu estava com má vontade, isso tudo é cansaço. O que eu mais quero agora é continuar com essa receita de moqueca. Podemos fazer isso juntos. Por favor, me ensina.

RENATA
(Tempo)
Está bem.
(Posiciona alguns ingredientes e panelas)
É bom saber que você não gostaria de aprender com a Aline.
(Tempo. Renata franze a testa)
Paulo.

PAULO
Diga.

RENATA
Sabe quando eu pedi a salsinha e você disse que sabia qual era.

PAULO
Sei.

RENATA
Com quem você aprendeu?

(Luz apagando em fade out)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

DOMINGO EM FAMÍLIA” de Junior Texaco.


Tema: Cozinha
Personagens: Walter, o marido
                          Clorinda, a esposa
                          Altanira, mãe de Walter

(Clorinda está na cozinha preparando o almoço, quando entram Walter e Altanira.)

Walter – Olha Clorinda, mamãe chegou pro almoço.
Clorinda – Oi dona Altanira, como vai a senhora, sente ai um pouco.
Altanira – Hum ta bom o cheiro hein?
Walter – Olha benzinho vou lá na sala beber uma cerveja com o pessoal. Fica ai com a mamãe, qualquer  coisa ela te ajuda, né mamãe? (pega uma cerveja na geladeira e sai)
Altanira – Pode deixar meu filho.
Clorinda – Não estou precisando de nada está tudo direitinho.
Altanira – O que vai ter de gostoso hoje posso ver? (abre o forno)
Clorinda -  É pernil. Está uma delicia. Estou experimentando um tempero novo.
Altanira – ah, ma eu não como pernil, não vai ter outra coisa?
Clorinda – Mas eu fiz com tanto capricho. Olha a farofa como está caprichada e o arroz fresquinho do jeito que a senhora gosta.
Altanira – Deixa eu ver a cara desse arroz…
Clorinda – Mas olha, não fica mexendo nas minhas panelas que eu não gosto dona Altanira. Fico nervosa e me atrapalho toda. Aqui na minha cozinha mando eu.
Altanira – Mas o que é isso? Quanta estupidez! E o Waltinho ainda me disse que se eu quisesse eu podia ajudar.
Clorinda – A senhora pode ajudar sim, ficando sentadinha ai enquanto eu penso em alguma coisa diferente pra fazer pra senhora. Que tal um macarrão à bolonhesa?
Altanira - Macarrão eu como todo domingo. Puff!
Clorinda (suspira e muda de assunto) - A senhora aceita um licorzinho? Eu que fiz.
Altanira – Fez é? Hum….
Clorinda- Gostou?
Altanira- Bonzinho, dá mais um pouco…
Clorinda- fique a vontade é pra abrir o apetite.
Altanira- Pra deixar a comida gostosa.
Clorinda – O que foi que a senhora disse?
Altanira (mudando de assunto) - Pra que todo esse azeite nessa panela? Um azeite caro ainda, dos bons…
Clorinda - Ah, mas é almoço em familia, né. Tenho que caprichar no seu molho.
Altanira - Mas faz com óleo mesmo, vai gastar um azeite bom, num molho que nem se vai sentir o gosto…
Clorinda - Imagina. Um bom azeite, dona Altanira deixa a comida mais gostosa.
Altanira - Vai é me desarranjar o estômago.
Clorinda - Olha me faz um favor? A senhora pode pegar um pirex ali no armário, eu vou botar o pernil  fatiado. Enquanto cozinha o macarrão e o molho eu vou arrumando direitinho. Já estou atrasada com esse almoço. Aproveita e bebe mais um licorzinho, tá?
Altanira – Mas olha só o que eu achei aqui?
Clorinda – O que?
Altanira – O meu pirex que a Marilu me trouxe de presente do estrangeiro! Sumiu desde a festa de ano novo na casa dela. Como é que veio parar aqui a senhora pode me explicar dona Clorinda?
Clorinda – É seu? Veio no meio das minhas coisas nem lembro como, achei que era da Marilu. Estava esperando pra devolver pra ela.
Altanira – Além de não saber de quem levou não tem nem a decência de esconder pra gente não ver.
Clorinda – Olha aqui dona Altanira a senhora está me chamando de ladra? O que é isso agora?
Altanira – Estou dizendo que se veio no meio das suas coisas e você não sabe de quem é não devia ficar usando devia era devolver.
Clorinda – Dona Altanira eu não quero me aborrecer. Hoje eu só quero passar um domingo tranquilo e feliz com a minha familia, pelo amor de Deus deixa eu fazer o nosso almoço em paz.
(Entra Walter e vai até a geladeira)
Walter – tudo bem vocês duas ai?
Altanira – Waltinho, ela não me deixa por a mão em nada
Clorinda – Ela diz que agora não come pernil.
Altanira – Me deixa mal do estômago.  Ela está esbanjando aquele seu aceite caro.
Walter – Mas que que é isso agora mamãe? A senhora sempre gostou de pernil. Para de encher a Clorinda e ajuda ela. Meu bem qualquer coisa estou na sala e olha, se der põe mais bebida na geladeira, está bem?
(Walter  pega mais uma cerveja, sai e Clorinda suspira estressada)
Altanira – Nem vou comer essa farofa, você encheu de páprica e toucinho. Vai me matar!
Clorinda – Olha aqui dona Altanira, eu me lembro muito bem que no ano novo a senhora se empanturrou de pernil com farofa até dizer chega e que foi servido nesse pirex que a senhora diz que eu roubei.
Altanira - Eu?
Clorinda - Se empanturrou tanto que chegou a dormir de boca aberta embaixo da mesa.  
Altanira – Disso você se lembra, mas não lembra que roubou o pirex.
Clorinda – Eu não vi que trouxe, estava no meio das minhas coisas, levei  quase toda a comida pra festa como eu ia lembrar depois? E a senhora nem levou nada. Só a boca grande.
Altanira – Mais respeito menina! E eu levei o pirex pra Marilu. Ela me pediu emprestado. Alem de ladra é desbocada.
Clorinda – Olha aqui agora, a senhora foi longe demais, ou sai da minha cozinha agora ou eu faço uma besteira. (pega o martelo de bater bife)
Altanira – Que é isso? Vai me agredir? É louca.
Clorinda – Sai da minha cozinha agora!
Altanira – Não saio! Depois você vai dizer pro Waltinho que eu não ajudei nada.
Clorinda – E não ajudou mesmo, velha chata dos infernos, olha só já queimei o arroz por sua causa.(corre pra salvar o arroz)
Altanira – Por minha causa não, você não presta atenção na cozinha, se atrapalha toda depois quer botar a culpa na gente.  
Clorinda – (avança pra cima da sogra com o martelo de bife)Sai daqui!
Altanira – Socorro! Ai!
(entra walter)
Walter – Que é isso vocês duas, que gritaria!
Clorinda – Sua mãe é louca, Walter me fez queimar o arroz!
Altanira – Ela ia me agredir com o martelo de bater bife Waltinho!
Clorinda – Imagina se eu ia fazer isso, estou aqui me virando pra fazer o almoço e ela fica me enchendo me dizendo que eu roubei o pirex da Marilu, a queridinha dela!
Walter – Vamos lá pra sala mamãe vem, deixa a Clorinda terminar o almoço em paz.
Clorinda – Ou o que restou dele,  ela me desconcentrou tanto que desandou tudo.
Walter – Não tem problema querida a gente come o macarrão que você está fazendo pra mamãe. E olha capricha no tempero, faz igual o da Marilu sabe como é, ela põe manjericão fresquinho depois do molho pronto, pode ser?
Altanira – A Marilu cozinha muito bem e nem é trouxa de ficar cozinhando no domingo.
Walter – Chega de implicância mamãe, venha. Deixa a Clorinda quieta.
(Saem)
Clorinda – Deixa estar velha dos infernos. Vou caprichar no seu molho a bolonhesa, ah vou, olha aqui, o que vou pôr, meia duzia de cartelinhas de imosec e quero ver probleminha no estômago. (começa a rir) Gente desgraçada, quero ver se a Marilu cara de cù faz um macarrão desses. Vão ficar sem cagar um mês! (e gargalha).
(Vai abrindo as cartelinhas de comprimidos, mexendo na panela e gargalhando.)
Blackout