domingo, 31 de julho de 2011

MANO A MANO de Betinho Neto

(Estão os dois dentro de casa tomando algum tipo de bebida, Marcelo está muito sem jeito e José com raiva, porem uma raiva contida. Ambos não trocam olhares e conversam de futilidades...)

Marcelo: Desculpa José, eu não tive a intenção de te magoar, perdão...
José: Perdão?
Marcelo: Eu não fazia idéia que eu iria te magoar dessa forma (desesperado) Olha... Calma (Ele fica olhando para o lado) Olha pra mim, pelo amor de Deus.
José: Marcelo, você me magoou, me usou para conseguir esse teu capricho. Não sei da onde eu tirei a idéia que você iria querer ficar comigo.
Marcelo: Grande idéia a minha de te procurar e vir me humilhar, você não entende Jose? Tudo mudou. Eu não sou mais aquele menino, eu sou um homem, eu sei o que quero para a minha vida.
José: Nada mudou, as pessoas não mudam, as coisas não são assim.
Marcelo: Você tem que acreditar, eu mudei, eu mudei sim, é passado!
José: Presta atenção! Ninguém muda, as pessoas só se camuflam, ficam um pouco mais calmas e quando você vê? Já ta lá, fazendo tudo de novo, tudo igual.
Marcelo: Dessa vez vai ser diferente, eu me apaixonei por você.
José: E a Sonia?
Marcelo: O que tem ela?
José: Como assim o que tem ela? Ela é sua namorada! “O que tem ela?” Como você pode falar isso Marcelo,  meu Deus.
Marcelo: Você ta dizendo que...
José: Que idéia de merda eu ter me envolvido com você que tem namorada  e ainda por cima, o que é o pior, a sua namorada  é minha prima. Que desgraça (ele começa a chorar)
Marcelo: Eu posso ficar...
José: Sai, sai daqui. Olha ai, você dizendo que mudou e voltando atrás, você não mudou, ninguém muda.
Marcelo: Vamos fugir, ir para longe...
José: (Debochandio)E minha vida? Minha casa?
Marcelo: Você não me ama? Se você me ama deveria me entender ou pelo menos gostar das minhas idéias.
José: Eu te amo Marcelo, te amo mesmo, acho que é o meu amor mais verdadeiro, o sentimento mais puro que existe dentro de mim, só que infelizmente você não me ama e não ama a Sonia, não ama o Tadeu, não ama nem a você. Você não sabe de nada da vida e não entende o que é amor.
Marcelo: Por que você sempre me julga Jose?
José: Por que você está comigo e está com a Sonia e com todas que te dão bola, por que suas idéias são imaturas, você não tem grandes idéias, você não é nada e eu um pobre coitado que se apaixonou por você.
Marcelo: Por que você fala assim? E você que idéias que você tem?
José: Tive essa. (Mostra Veneno de Rato)
Marcelo: O que é isso, ta tirando uma onda?
José: Não, só resolvi que as coisas vão mudar, voce prefere que eu va de preto ou de vermelho no seu enterro?


quinta-feira, 28 de julho de 2011

A GRANDE IDÉIA de Ronaldo Fernandes

(Cada um toma uma posição e simplesmente fala. Não deve haver interação entre eles). 

UM: Numa quarta-feira, em um momento de desespero, catei uma corda e amarrei meu filho para impedir que ele atacasse o pai com uma faca. Ele é viciado em drogas desde os treze anos de idade.  Foi preciso amarrá-lo ao pé da cama, para depois transportá-lo até uma clínica, mas mesmo com as pernas e os braços amarrados ele chutava a tudo e a todos em sua volta.  Antes de amarrá-lo, eu pedi ajuda de várias formas: Liguei para os bombeiros e eles disseram que já estavam a caminho, mas depois, surgiu um acidente de trânsito e eles não puderam ajudar. Eu liguei para o Samu, mas as atendentes disseram que antes tinham que falar com um médico, pois o Samu não atende casos psiquiátricos. Eu fiquei numa situação de desespero e sem ter o que o fazer, eu peguei meu filho que estava amarrado e resolvi eu mesma por fim aquele sofrimento. Sim eu mesma fiz. Foi melhor pra todo mundo. Eu ainda não sabia dessa idéia. Eu não sabia mesmo. Eu juro que não sabia... Se eu soubesse eu não teria agido assim. Tudo teria sido tão diferente. É uma pena que só agora eu tenha tido essa idéia. Essa idéia vai mudar o meu mundo. É uma idéia pra vida toda.

(Silêncio.)

DOIS: Numa quarta-feira, eu acho que era o dia dois de abril de 2008, eu e mais um colega aqui da fazenda. Sim... Esta!... Esta fazenda!... Esta aqui mesmo! Nos dois estávamos marcando o gado e brincando. Tinha um menino que ficava nos olhando marcar o gado. Marcávamos o gado e riamos, porque eles reclamavam pra diabo. O menino nos olhava marcar o gado e corria naquele descampado. Nós marcávamos o gado e o menino corria. Quando nós estávamos prestes a terminar, o meu camarada me olhou de canto de olho, olhou pro menino e deu uma risada. Entendi de cara. O safado estava me falando que faltava marcar mais um. Era só mais um. O meu camarada era danado mesmo. Eu olhei e corri até ele. Peguei-o num pulo e agarrei com bastante força... O bicho esperneava, esperneava, esperneava e chiava que só. Mas não tinha ninguém naquele descampado. Meu camarada ria demais. Eu prendi ele bem forte e o arrastei até onde meu camarada estava. Meu camarada se acabava de tanto rir. Nós dois sustentamos firme, eu peguei o ferro quente com as letras HL e grudei na pele dele. Ouvi o barulho e senti o cheiro da carne queimando. E nós só rindo. Aquele menino quando sentiu o ferro em brasa encostar na perna deu um grito que partiu meu coração. Ele era o último bezerrinho que marcamos. Acho que deve ter doído demais. Não!  Não mesmo. É verdade. Juro por Deus. Juro de pé junto. Eu ainda não sabia dessa idéia ótima. Claro... Claro... Se eu soubesse eu não teria feito aquilo. Quem teve essa grande idéia está de parabéns. É uma idéia brilhante. Por que eu não a tive antes. Grande idéia.

(Silêncio.)

TRÊS: Era terça-feira, isso mesmo: Era uma terça feira. Numa terça feira eu resolvi adotar aquela menina. Ela era tão linda. Levei-a pra morar comigo. Era minha filhinha.  Mas uns três meses depois que eu adotei, eu percebi que não tinha nascido para ser mãe. Não. Não é que eu não servia pra ser mãe. A menina é que não servia pra ser minha filha. Acho que é porque ela já tinha doze anos. A personalidade já estava formada. É isso. Ela tinha o gene formado já.  Percebendo que a personalidade dela não batia com a minha, eu resolvi amarrá-la na área de serviço. Ela não era tão forte. Essas crianças de abrigo são assim mesmo: Fraquinhas. Eu ergui os dois braços dela com força e acorrentei a uma escada de ferro que tem na minha área de serviço. Seus pés mal tocavam o chão, de tão pequeninha que ela era. Ela começou a chorar muito, fiquei irritada e tampei a boca dela com uma gaze embebida em pimenta. Ela começou a se debater... Eu fiquei só olhando, mas aquilo me incomodou demais, resolvi então quebrar oito dedos das mãos dela e aproveitei e arranquei as unhas também. Eu a deixei amarrada ali por uns seis meses. Sim dava comida e ela se virava pra comer. Ela era uma menina de abrigo. Estava acostumada com isso. Ela mora comigo tem dois anos e nesse tempo eu já queimei duas vezes as costas dela com ferro quente... Ah eu também esmaguei uns dedinhos dela em dobradiças de portas e também quebrei uns dentes com marteladas. Não sei dizer se ela está bem. Nós moramos nessa cobertura dúplex de duzentos metros quadrados por dois anos, mas ela se foi. Ela partiu. Sim partiu. Ela era muito fraquinha. Não agüentou. Agora eu me sinto muito só. Não!... Eu nunca soube!  Ninguém me falou dessa idéia antes. Nunca. Jamais. Puta idéia. Se eu soubesse dela antes as coisas teriam sido diferentes. Essa é a melhor idéia que eu já vi. É uma grande idéia.

Sentam-se e começam a interagir

UM: Foi muito boa essa idéia...
DOIS: Uma idéia brilhante...
TRÊS: Uma idéia muito bacana mesmo...
UM: Que idéia!
DOIS: Brilhante...
TRÊS: O máximo.
UM, DOIS e TRÊS: Tomar sorvete num dia de sol, é uma grande idéia.

terça-feira, 26 de julho de 2011

O REGISTRO de Marcus Di Bello

TEMA: GRANDES IDEIAS

(Escritório da idade da pedra. REGISTRADOR atrás da mesa. Placa com a frase “Registro de Ideias e Invenções”. INVENTOR entra)

INVENTOR
Bom dia. Gostaria de registrar uma ideia.

REGISTRADOR
Espera só um segundo.
(Tempo)
Obrigado por esperar. Estava testando a invenção do sistema de medidas de tempo. Acredito que ainda não pode ser validada. Está durando mais do que deveria. Enfim, o que o senhor deseja?

INVENTOR
Eu gostaria de registrar uma ideia.

REGISTRADOR
Certo, e qual é a ideia?

INVENTOR
Eu inventei a roda.

REGISTRADOR
O senhor trouxe as três vias autenticadas?

INVENTOR
Três vias autenticadas?

REGISTRADOR
Para registrar uma ideia precisamos das três vias autenticadas comprovando todo o processo de criação.

INVENTOR
Desculpa, eu não sabia que era necessário esse tipo de documento. Não é possível registrar sem isso?

REGISTRADOR
Infelizmente não, a menos que o senhor tenha uma procuração do presidente da república.

INVENTOR
Procuração do presidente da república? Mas estamos na idade da pedra! Como isso seria possível? Não existe nem feudalismo, quem dirá uma república.

REGISTRADOR
Então acredito que o senhor tem duas opções: dar entrada nas três vias autenticadas ou esperar a proclamação da república.

INVENTOR
A proclamação da república deve demorar um pouco. Gostaria de dar entrada nas três vias autenticadas.

REGISTRADOR
Está certo, senhor. Para dar entrada nas três vias autenticadas basta apresentar xerox do seu comprovante de renda, documentação de moradia em caverna, registro de nascimento com carimbo do hospital, alvará que comprove, no mínimo, três anos de atividade na área inventiva e duas fotos 3x4.

INVENTOR
Que absurdo! Não existem hospitais ainda. E acredito que a xerox não foi inventada. Muito menos a fotografia.

REGISTRADOR
A falta de hospital é problema do governo, meu senhor, não nosso. Quanto às outras invenções, aconselho registrá-las juntamente à invenção da roda. Gostaria de dar entrada nos registros?

INVENTOR
Mas eu só quero registrar a minha ideia da roda, como eu posso proceder sem muitos transtornos?

REGISTRADOR
Senhor, sinto certo ar de suborno, atitude condenável de acordo com a lei número 2118 de 15 de março de 8012 antes de Cristo.

INVENTOR
Por Deus! Não existe nem calendário ainda. E como pode existir uma lei? E eu não estou subornando ninguém, você está inventando isso.

REGISTRADOR
Não estou inventando. Na verdade, já foi inventado. Aqui está o registro.
(Mostrando papeis)
Homo Neanderthalensis, registo de 13 de julho de 30 mil antes de Cristo. E veja só, as três vias autenticadas, do jeito que deve ser. Se ele conseguiu, tenho certeza que o senhor, um homo sapiens, consegue.

INVENTOR
Quanta besteira.

REGISTRADOR
Não diga que é besteira. Besteira é essa sua invenção.

INVENTOR
Como é? Eu criei a roda. É o maior invento de todos os tempos. É o principio de todos os dispositivos mecânicos. Uma invenção que mudará a história da humanidade!

REGISTRADOR
Bla, bla, bla. Aquele maluco que inventou a clave disse a mesma coisa. Hoje em dia só usamos para bater em nossas mulheres. Puro lixo.

INVENTOR
Não acredito que não vou poder registrar a minha ideia. Juro que não escrevo para as autoridades falando sobre esse caso somente porque a escrita ainda não foi inventada. E nem poderia, com tanta burocracia. Por isso esse planeta não vai para frente! Minha vontade é de botar fogo nisso tudo.

REGISTRADOR
Creio não ser possível. A invenção do fogo foi patenteada semana passada por um grande empresário da Mesopotâmia. Ele proibiu o uso sem o devido recolhimento dos direitos autorais.
(Inventor sai furioso)
E com isso acabo de inventar o sistema público.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A SÍNDICA de Kadu Veríssimo

Personagem

A Síndica

( Estamos em um Teatro, a platéia esta a espera do início do espetáculo, ouve-se vozes ao fundo, e passos de salto na madeira, no proscênio mal iluminado vê-se a figura de uma mulher bem arrumada, com uma maquiagem um tanto exagerada)

Síndica

Onde é que eu sento? alguém pode me dizer? Ilumina aí pra mim por favor...eu preciso de uma luz...

(jogam um foco)  

ah sim...aqui...mas precisa  essa luz forte na minha cara? vai derreter a maquiagem, e esses cílios são novos...os meus caíram de tanto remédio e creme na cara que eu tava passando

( com falsa intimidade)

bem, eu vou ser rápida , eu vou ser breve...diminui essa luz por favor, gente como esses artistas conseguem...põe um azul

( a luz muda)

...isso melhorou...adoro a cor azul, assim como meu sapato...gosto assim alto, não me venha com chinelo pro meu lado, não sou uma pessoa que gosta de ver dedos...e nem de tênis...que coisa mais cafona, o tênis...nem na academia, na academia só de salto também...que se dane a coluna, quero estar bonita hoje, que se dane o amanhã...

(se empolga, fala com vigor)

Sempre inventam coisas, essa modernidade ta uma loucura...logo vão inventar algo que solucione meu problema de coluna, e estarei curada, curada e linda...alias linda sempre...acredito na beleza, essa mesmo a exterior, gosto da interior também, mas como é difícil achar essa perfeição...acho que nem Jesus Cristo...

(pausa - pensa)

ele andava descalço?  tenho pavor de quem anda descalço, ou era de sandalinha? Não importa, do que Jesus andava, importa o lugar que conquistei hoje pra minha vida, sim, com essas pernas lindas, esse cabelo , essa coxa, esse olhar , esse sorriso.Eu sou  bonita, sou ou não sou minha gente?

( a platéia permanece calada , passada com a situação, ela também não espera uma resposta, emenda em uma só respiração)

...sem essa de que estou aqui pra fazer média, fazendo a gostosa , burra , putona que subiu na vida...nada disso, tenho pavor desses conceitos idiotas que pra ser inteligente tem que ser pobre, feio, descabelado...andar bem maloca tipo esse povo da filosofia, sim, porque eu fiz filosofia e discordo de muita coisa, eu fiz arte e discordo de muita coisa, até administração eu fiz e também discordo de muitas coisas...porque para ser inteligente você tem que discordar , mas com argumento, quem não argumenta é ignorante, e eu argumento a vida inteira e (enfática)  por isso subi na vida ...mas não quero fazer disso aqui meu depoimento porque não vim aqui pra isso, acho muito estranho estar aqui no palco, com essa luz azul que adoro falando um pouco de mim...alias fui eu que pedi para falar aqui, e me deixaram...eu tenho muito a falar, sim porque eu sempre tenho Grandes Idéias, coisas geniais mesmo, e ontem eu tive uma luz, uma idéia genial que não podia ficar guardada só pra mim, eu crio muito, criei novos métodos de como administrar condomínio...

( sem falsa modéstia)

...eu sempre fui síndica dos prédios que moro, isso te dá status, poder em relação aos outros, e eu gosto de poder...quem não gosta?

(platéia em silencio, alguns dormem, alguns levantam reclamando, alguns acham que o espetáculo já começou e é uma encenação pós-moderna, outros olham concordando, outros fingem que entendem)

...Falei, (reproduz) me deixa subir e falar umas coisas...eles deixaram e eu subi...tenho coisas muito mais interessantes pra falar do que eles aposto, esses atores medíocres ...

(alguém da platéia ri)

Tudo gente que não venceu na vida, claro que não, tá na cara né? Um bando de gente que não trabalha, eu  confesso que  só venho ao teatro por isso, sentava aí  na platéia e sonhava em subir aqui e falar sobre meus métodos de administração , nunca escutei bulhufas do que esses atores falavam, desde criancinha eu vinha ver a branca de neve e pensava,  gente se ela botasse aqueles anões pra trabalhar ela enriqueceria...desiste da mina de carvão , vá procurar diamante...eu gritava pros anões....na chapeuzinho também, aquela boba fugindo do lobo...ele querendo comer os doces da cestinha, querendo, querendo...eu gritava...

(reproduz a ação)

... vende pra ele, vende pra ele...mas elas nunca me escutavam, mas eu vinha , insistia, subia no palco... até que um dia parei de escutar as histórias que eles contavam, e ficava me imaginando aqui, dizendo o que interessa realmente as pessoas , chega de problema de relacionamento, tudo é coisa de casal apaixonado, de traição, de sexo, é muito sexo, tudo é por causa do sexo, maldito Freud, maldito todos...eu quero saber é de dinheiro, nós vivemos no capitalismo ...

(eufórica)

CHEGA! Vamos dar um Basta! Basta! Basta! Basta! O problema hoje é financeiro...o problema é como fazer bem uma feira, como pagar o condomínio, como ser esperto e tirar proveito das coisas nessa vida... é o que nos interessa, como subir na vida gente...Eu sei , Eu tenho a resposta, eu tenho grandes idéias...quero também lançar uns livros, pra aumentar o orçamento,gravarei cd’s , disponibilizarei para downloads , isso que eu quero escutar quando sento aí nessa cadeira desconfortável...essas lições práticas da vida...nunca escutei realmente o que eles, esses atores falavam aqui....nunca...mas de certo não me interessava, será que perdi alguma coisa? não acho que não...certamente que não...mas agora sim...chegou o meu momento...falarei TUDO prestem atenção...

(black-out)

sábado, 23 de julho de 2011

PRATO CHEIO de Betinho Neto

Vamos jantar. Eu e você. Prometo que será breve. Eu e você comendo ou você e eu comendo. Para de me comer com esse olhar. Que merda, não tenho nem cartas na manga. Odeio saber que você já entende e sabe tudo sobre mim. Quer vinho? Claro que não, você detesta vinho, só falei isso para você pensar que eu não sei mais nada sobre ti. Pura covardia. Ridículo eu sei, mas eu sou assim, sirvo esse tipo de prato por que sei que você ama. É lógico que você sabe. Meu jogo absoluto do amor parece damas, come, come, come e vira dama real. Sou bicho, ogro, nada comercial. Sou apenas criatura do jantar. Pedinte de atenção. Mas calme não se zangue, somos todos farinha, bolinhos de arroz perdidos na noite e talvez a ultima azeitona do macarrão. E voce? Não tem nada , eu acho que você não suga nada, não encorpa. Porém, fazer o que? Eu te amo. E eu fico sim, com medo da noite e sem medo do que to comendo. Mas você quando me olha nos olhos não tem fome, não tem nada... Pelo menos tem apenas eu. Enfim, vamos comer. Para de me olhar, meus olhos estão calejados. Não tem mais alma não, só tem isso. Droga, tristeza da vida, por que o caminho de pedras amarelas foi confiscado? Para. Tem muita dor aqui. Não te interessa, te chamei pra jantar e não para sofrer. Quem sou eu? Sou alguém que te ama, apenas isso. Alguém que te ama.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

LUIZA de Betinho Neto

(Presente na casa de Luiza)
Luiza: Eu sou aquele tipo de mulher que não gosta de receber visitas, ainda mais na hora do jantar e da novela, ninguém respeita minha novela? Que saco! Sabe o que eu faço com as minhas visitinhas queridas? Eu mato. Simples assim. Mato.  Eu? Mato sim, mato a tia, a vizinha e até o gato que aparece aqui por engano, para roubar meus lindos peixes dourados do aquário. Então depois de todos mortos, eu ponho tudo no freezer para depois servir para algumas pessoas amigáveis do meu viver... (Indignada) Como? Eu preciso além de tudo ter uma vida social ativa, não é mesmo? Não posso sair matando todo mundo sem critério... Assim parece que fica feito eliminação de reality show.
Quero saber o porquê essa gente vem aqui em casa! Só isso! Você deve tá ai pensando que eu sou maluca? Maluco é você que atura esse bando de gente que não sabe o que está fazendo no mundo e que vai na sua casa, come sua comida e ainda por cima usa seu banheiro e deixa a tabua da privada suja. Continua me achando maluca? Tenho minhas dúvidas se você que ta ai, me olhando torto não faz isso.
Vassoura atrás da porta? Pra que? Saio dando porrada mesmo, facada, tiro, soco, voadora. A polícia nem desconfia de nada, faço uma boa torta humana para todo mundo, e fica tudo certo. Deixa eu contar para vocês o dia que a Suzana Marcela, olha no nome da criatura de Deus Pai, veio aqui em casa filar meu jantar, acho que fiz um bem para a humanidade de acabar com essa mulherzinha.

(Passado na casa. Suzana Marcela está sentada e Luiza deitada no sofá vendo televisão)

Suzana: Então Luiza, eu te disse, não podia ser coisa boa.
Luiza: (Pensando): Que maldita, bem na hora que essa droga de vilã vai matar esse peste de mocinho, essa mulher não para de falar..
Suzana: Você tá ouvindo?
Luiza: Tô ouvindo querida, estou. Deixa eu ver, quem sabe que você veio aqui?
Suzana: Minha mãe e o Neco meu namorado
Luiza: Neco, isso lá é nome de gente Suzana Marcela, larga esse homem, arruma coisa melhor pra ti.
Suzana: Poxa...
Luiza: Vamos jantar querida? Ando tão sozinha nessa vida... Uma companhia sempre faz bem.
Suzana: Vamos querida, vamos! Adoro sua comida.
 Luiza: (Pensando) Aposto que essa mulher veio aqui para isso, ela vai ver.
(Luiza se levanta e chama Suzana para ir até a cozinha. Na cozinha saca uma arma e aponta para a amiga)
Suzana: O que é isso?
Luiza: Vou te mostrar como vai ser teu jantar e vai ser bom tu comer desgraçada, para aprender a nunca mais vir na casa dos outros filar bóia, maldita (Começa a gritar e se descabelar) Anota a receita, meu benzinho lindo! Anota bem nessa cabecinha Necada... “Neco”... Por favor.

(Ela começa a receita, pega os ingredientes no freezer e vai colocar tudo no liquidificador, Suzana Marcela a cada cena fica com mais nojo)

Luiza:  1 copo (americano) e 1/2 de sangue humano.
1 colher de dedos polegares picados
1 colher de nariz.
2 ovos (testículos)
1 xícara de olhos não muito cheia
1/2 pacote de pé ralado parmesão
2 xícaras de farinha de trigo
Recheio:
Lingua e bunda ao molho.

Luiza: Viu que fácil? Uma delicia! Você vai provar demonia!
Suzana: Não, por favor, tudo menos isso!
Luiza: Então vai virar ingrediente..
Suzana: Não (gritando loucamente)
Luiza: (Colocando a torta no forno) Querida, você acha que a menina da novela vai ficar com o mocinho?
(Ela fica muda)
Luiza: Você acha ou quer morrer mesmo?
Suzana: Acho.
Luiza: Eu chorei esses dias, gente do céu, quanta maldade não é nessas novelas? Um mata o outro mata... nem parece vida real...
(Ficam conversando sobre a novela, ela prepara uma mesa maravilhosa e as duas jantam, Suzana Marcela come a torta e toma vinho)
Luiza: Gostoso né?
Suzana: Você não vai comer?
Luiza: Eu não, não gosto de carne humana, come você, quero ver.

(Volta para Luiza no presente)

Luiza: E foi isso, até parece mentira né? Mas eu sou assim, veio para jantar, já tem o seu lugar, e vocês? Querem um pouco de macarronada de Suzana Marcela?

A GORDA de Kadu Verissimo


Personagens

A Gorda
Xaninho - seu gato

( A cena inicia iluminada, como se estivesse banhada pelo sol)
(A gorda dança animada na cozinha de sua casa, entre sacolas, fala em alto e bom som animadamente, conversa com seu gato de estimação)


A Gorda 

Três sacos de rosquinhas, cinco pacotes de bisnaga, três potes de maionese, meio kilo de presunto, vinte latas de refrigerante,sete  engradados de cerveja, quatro kilos de picanha, batata, cenoura, milho...linguiça toscana, lingüiça calabresa, arroz e farofa...acho que ta bom...não vai ser nenhum super churrasco mas acho que tá bom pra uma reuniãozinha a dois, o que você acha Xaninho?...Carlos disse que nunca viu fazer churrasco a noite, que churrasco é comida de dia, com futebol, pagode, que tem cara de domingo...eu sinceramente  não acho...churrasco pra mim pode ser a qualquer hora, então  resolvi fazer esse churrasquinho no nosso primeiro jantar...nem acredito que tô saindo com o Carlos, parece um sonho... 

 (Começa a picar a cenoura e descascar a batata)

Lá na firma eu sempre fiquei de olho no Carlos, mas nunca reparei que ele me olhava também , ele sempre disfarçou tão bem...é muito tímido ele...nunca percebi que gostava de mim...não sabia que gostava de gordinha...nunca tinha me dado atenção,nem falava comigo direito, ele é um  moleque alto, bonito...forte , sabe assim de academia, daqueles que a gente vê pela televisão, com tudo no lugar...aí outro dia percebi que ele começou a me olhar de rabo de olho...via ele falando com os amigos e rindo pra mim...cochichando com os outros....cheguei  até a pensar que estavam tirando sarro, sabe como é? Complexo de gorda...até que um dia, assim do nada e de repente ...

(Emocionada) (Quebra) 

Xaninho sai de cima dessa carne que ela não é pro teu bico...saí pra lá xaninho...mas que gato esfomeado nunca vi, sai Xaninho, sai...nem sei onde estava...ah sim...de repente...

(Volta a emoção)

Ele me beijou...foi assim lá na repartição, ele esperou todo mundo sair e me beijou...

(Leva as mãos ao lábio, já aproveita e mastiga alguma coisa)

Eu não acreditei, aliás  eu não acredito até agora que ele vem aqui na minha casa, nem acredito que to preparando um jantarzinho pra ele...

 (Durante toda a cena ela prepara o jantar, belisca algumas coisas e da algumas sobras para Xaninho)

Eu falei que ia preparar minha especialidade...churrasco...ele riu...até brincou, mas vê se não vai comer tudo antes deu chegar hein...bobo, que espirituoso, se fosse em outro tempo eu mandava ele a merda, e ficaria ofendida, mas foi um jeito carinhoso dele me agradar...quis logo contar pra todo mundo, mas ele pediu segredo...pensei que era por vergonha de mim, mas ele disse que teria o tempo certo...mas eu não segurei e contei pra Lílian, minha amiga, trabalha na mesa do lado...ela não acreditou, achou que eu estava mentindo...percebi que era inveja dela Xaninho, veio com um papo que ele queria tirar uma com a minha cara, briguei com ela na hora , disse umas boas na cara dela , e pedi transferência de setor, deus me livre ficar do lado de mulher invejosa, é um atraso na vida da gente, a seca pimenteira botando seca na minha vida e no meu namorado, só porque sou gorda não posso ter namorado gato, o mundo tá cheio de gente preconceituosa, o mundo ta perdido né Xaninho?

(Desliga o som, em tom de confidência)

Ela mal sabe que ontem nós fomos ao motel, ...fomos sim, e foi uma experiência divina...ele é muito louco, tirou foto minha e tudo...eu nuazinha só pra ele naquela cama redonda...nem sei como tive coragem, mas tava tão louca de tesão, que faria tudo por ele, e tirei toda minha roupa, me senti linda, nua, enquanto ele me fotografava,foi maravilhoso, acho que estou apaixonada...ontem foi motel, e hoje vai ser na minha casa...ele acendeu a chama que tava apagada aqui dentro, meus deus do céu, e como acendeu...mas tá demorando...tá atrasado demais...ele me disse que chegaria mais cedo pra me ajudar...

(Tempo) (Toca a campainha)

Flores? E um cartão...é dele...(ri) nossa, meu Deus não acredito (ri, nervosa) é minha foto nua...que maluco 

(Toda animada e feliz cheira as flores cheia de afeto)

Tem coisa escrita aqui atrás... “Oi , te mando a foto e 200 reais"

(Mexe no envelope e acha o dinheiro)

...Nada mais justo te dar uma pequena grana pela bolada que eu ganhei...duvidavam que te levaria a um motel e nós transaríamos,aí está a prova... fiz um puta esfor...

(Ela pára de ler a carta, bota a carta em cima da mesa, está em estado de choque...senta em um banquinho...passa a mão pelos cabelos...e chora, levanta vai até a cozinha , aos prantos começa a fatiar a carne, de repente se cala...decidida pega sua bolsa, a faca que cortava o bife e sai) 

(Tempo)
(Xaninho sobe em cima da pia e come um pedaço da carne) 
(Tempo) 

(Ela volta com um sorriso nos lábios) (Liga o som, feliz) (A mão toda suja de sangue)

Cheguei Xaninho...vem cá bebê, mamãe foi buscar mais carne pro nosso churrasco...
Mas esse aqui é só meu...linguiça!

(Joga em cima da pia, Xaninho corre de susto, ela ri e chora ao mesmo tempo)
(A cena toma uma outra cor)

(Trevas)


quarta-feira, 20 de julho de 2011

SAL de Betinho Neto

Avô: Passa o sal?
Isabel: Já te disse que não pode comer muito sal, faz mal e essa sua...
Avô: Eu não quero saber...
Isabel: Não quer agora, depois fica pelos quatro cantos da casa reclamando, eu to avisando.
Avô: Eu quero comer essa droga de comida com sal e com bastante sal
Isabel: Se o senhor comer essa (Imitando)” comida com bastante sal” (Pára) e morrer não me venha falar que...
Avô: (Cortando) Depois de morto?
Isabel: Do jeito da praga que você é, não duvido que reclame depois de morto, e até coloque processo encima de mim por causa de um sal.
Avô: (Mexendo na comida) Essa almôndega ta parecendo meu saco direito, olha a cara dela, que desgraça.
Isabel: Se o meu testículo...
Avô: (Cortando) Testículo? Testículo? Desde quando mulher tem testículo? E por que fala ”testículo”? Que coisa mais antiquada
Isabel: Quem ouve parece que você tem menos de trinta anos né? E você é meu avó devo respeito aos mais velhos... (Ele pegando o sal) Eu já disse, que coisa infernal, sem sal (Pausa) Sem o sal.
Avô: Com sal, com o sal
Isabel: Uma pessoa de 89 anos como o senhor deveria ter mais vergonha na cara.
Avô: Olha Isabel, vou te falar uma coisa, já vivi tanto e hoje morrer ou viver vai dar na mesmo. Você acha que o meu Palmeiras vai ser campeão? Eu acho que não. E também se não for, o que tem? Viva o hoje e o amanhã, que se dane...
Isabel: Bonito isso, da até para refletir... (Ela olha e ele está pegando o sal) Larga isso.
Avô: Como eu posso ter uma neta tão chata? Sua mentecapta.
Isabel: Para de falar palavrão
Avô: Ai Senhor...Por que então me convidou para jantar? Não se fala nada, não se come nada, não...
Isabel: Vô, preciso que você pague...
Avô: Não pago nada e você sabe muito bem, e o futuro? Como faremos? Não...
Isabel: Voce acabou de dizer...
Avô: Verbos são verbos e...
Isabel: Tá bom vô, esperava por isso, seu velho babão desgraçado, come logo esse sal e me deixa acabar de comer em paz...
Avô: So por curiosidade para que é o dinheiro?
Isabel: Para meu casamento, você sabe que vou...
Avô:...Casar e se separar daqui a um ano, dinheiro jogado (Coloca sal) no lixo...
Isabel: Minha vida...
Avô: Sua... (Tosse) O que? (Morre)
Isabel: Minha vida agora com o dinheiro da herança, sal faz mal vovô mentecapto e eu ainda vou terminar meu... (Vê o garçom) Garçom, por favor, me traz o melhor vinho da casa e não liga, meu avô anda doente, dorme ate nas mesas.

JANTAR PARA DOIS de Ronaldo Fernandes

Uma grande metrópole. Apartamentos.  Sala de jantar.  Mesa. Amélia está sorridente.  Pedro um pouco mais sério. Ela está do lado de cá. Do lado de lá está Pedro.

AMÉLIA: (Fala com clareza) Que bom jantar com você.
PEDRO: (Sem ouvir direito) Oi?
AMÉLIA: (Um pouco mais alto) Eu disse que é bom jantar com você.
PEDRO: (Meio sem graça) Que é isso?  Eu é que gosto de jantar com você.
AMÉLIA: (Com carinho) Nossa, que gentil da sua parte... Assim eu até fico sem graça. (Rir)
PEDRO: Não foi minha intenção deixá-la sem graça.
AMÉLIA: Será que fiquei vermelha?
PEDRO: Não dá pra ver. Chega um pouco mais perto.
AMÉLIA: (Se aproximando) E agora? Vê?
PEDRO: (Olhando com atenção) Não dá pra ver.
AMÉLIA: (Rindo) É a luz.  Sabe... Eu espero que você goste do prato.
PEDRO: Posso ver?
AMÉLIA: Claro.
PEDRO: (Aproximando-se) É suficiente?
AMÉLIA: São porções individuais.
PEDRO: Vendo assim está muito bonito. Colorido.  Deve estar uma delicia.
AMÉLIA: (Rindo) Obrigado.
PEDRO: O que é mesmo?
AMÉLIA: É risoto de camarão.
PEDRO: Nossa. Adoro risoto de camarão.
AMÉLIA: É simples, mas está gostoso.
PEDRO: Imagino.
AMÉLIA: É rápido e prático de fazer.
PEDRO: Sabe de uma coisa?
AMÉLIA: O que foi?
PEDRO: Acho que vou pegar um vinho.
AMÉLIA: Ótima idéia.
PEDRO: Um vinho será ótimo.
AMÉLIA: Acho que vou pegar...
Pedro Sai. Um tempo.  Amélia fica sozinha.
PEDRO: (Voltando) Aqui está.  (Mostra a Amélia) Este é um Château Mouton-Rothschild.
AMÉLIA: Não estou vendo bem. Pode aproximar?
PEDRO: Claro que sim. Olha bem.  Safra 1945. É uma raridade. Só em ocasiões especiais heim?
AMÉLIA: Só você mesmo. É uma lisonja pra mim.
PEDRO: Lison... O que?
AMÉLIA: (Rindo) Lisonja... (Rindo) Eu fico lisonjeada.  Orgulhosa.
PEDRO: (Rindo) Ah sim. Entendi. Que bom que ficou assim... Assim... Como é mesmo?
AMÉLIA: Lisonjeada.
PEDRO: Isso... Isso... Lisonjeada.
AMÉLIA: Você é muito bacana.
PEDRO: Obrigado. E você é linda.
AMELIA: Obrigada.
PEDRO: Posso te pedir uma coisa?
AMÉLIA: Claro. Mas cuidado com a garrafa de vinho... Assim vai derrubá-la.
PEDRO: (Rindo) É que quando olho pra você, esqueço de tudo. (Coloca a garrafa de vinho a um canto)
AMÉLIA: Mas o que você queria mesmo?
PEDRO: Posso olhar pra você?
AMÉLIA: (Sem graça) Claro.  (Mostra-se)
PEDRO: Você é muito linda mesmo.
AMÉLIA: (Sem graça) Obrigado. É melhor abrir o vinho...
PEDRO: (Pegando o vinho) Nossa que cabeça. Fiquei te olhando e até esqueci.  Espero que você sinta lisonja...
AMÉLIA: (Rindo) Metido.
PEDRO: Agora esta palavra fará parte do meu vocabulário. (Os dois riem) Faltou o saca-rolha.
AMÉLIA: Pega lá!
PEDRO: Vou pegar. (Sai)
AMÉLIA: (Num tom mais alto) Assim o risoto vai esfriar.  É bom começar a comer.
PEDRO: (De fora) Vamos sim. Espera só um minuto pra abrir o vinho. (Voltando) Achei o saca rolha.
AMÉLIA: Então abre.
PEDRO: (Abrindo o vinho) Opa. Agora é só servir.
AMÉLIA: (Batendo palmas como uma criança) Que lindo. Vamos brindar?
PEDRO: Vamos sim. Deixa-me pegar a taça. (Sai)
AMELIA: Vou pegar a minha também (Sai)
PEDRO: (Num tom mais alto) Eu vou pegar a melhor que tenho.
AMÉLIA: (Voltando) Eu já estou com a minha.
PEDRO: (Voltando) Agora é só brindar.
AMÉLIA: É só brindar...
Os dois param por um tempo.  Ocorre um pequeno silêncio.
PEDRO: Que pena...
AMÉLIA: É mesmo. Como fazer um brinde assim?
PEDRO: Assim nesta distancia não dá.
AMÉLIA: Não dá mesmo. Se pelo menos estivéssemos mais próximos...
Os dois param novamente e há outro pequeno silêncio.
PEDRO: Mas não vamos estragar o jantar por causa disso.
AMÉLIA: Temos o risoto, o vinho...
PEDRO: Vamos sentar?
AMÉLIA: Claro. Mas e o brinde?
PEDRO: Fica pra próxima.
AMÉLIA: (Com tristeza) É mesmo.
PEDRO: É uma pena, mas... (ELE DESAPARECE DA TELA)
AMÉLIA: (Brava) Caiu a conexão.  A net é uma merda mesmo.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

SALLE À MANGER de Marcus Di Bello

TEMA: JANTAR

(Mesa de jantar muito bem arrumada. Martha é uma mulher elegante, doce e simpática. Seu olhar tem um quê de ternura. Paulo usa camisa social e gravata. Seu cabelo é dividido e ele carrega óculos de bom moço no rosto. Possui gestos curtos e calculados. Martha e Paulo estão sentados. Trocam sorrisos. Martha sempre muito atenciosa)

MARTHA
Guardanapo?

PAULO
Sim, muito obrigado.
(Limpando a boca)
Sua casa é muito bonita.

MARTHA
(Sorri)
Obrigada. Papai tem bom gosto.

PAULO
Uma decoração fascinante. De verdade.
(Olhando Martha. Sentindo-se desconcertado)
Muito legal da sua parte me convidar para jantar hoje.

MARTHA
Achei que seria interessante.

PAULO
E seus pais, onde estão?

MARTHA
Viajando.

PAULO
Interessante.

MARTHA
Bem interessante.
(Enche um copo com suco)
Aceita?

PAULO
Qual é o sabor?

MARTHA
Abacaxi.

PAULO
O meu preferido.
(Bebe um gole)
Foi realmente muito legal da sua parte me fazer esse convite. Ninguém nunca me fez um convite assim.

MARTHA
Nunca jantou na casa de alguém?

PAULO
(Tímido)
Nunca estive com uma menina. Assim, sozinho.

MARTHA
Sempre tem uma primeira vez.

PAULO
Obrigado.

MARTHA
Por quê?

PAULO
Pelo convite.

MARTHA
Não precisa agradecer.

PAULO
(Bebendo o suco)
Desculpa.

MARTHA
E nem se desculpar.

PAULO
(Ri)
Martha, eu sempre me senti muito bem ao seu lado. É um sentimento que não consigo explicar. É de um jeito bom, até inocente eu diria. Sabe o que é estar bem só de estar ao lado de uma pessoa? Eu me sinto tão leve contigo. Eu sei que não devia ser tão direto assim, desculpa, às vezes eu falo demais.

MARTHA
Não se preocupa. Isso é bom.

PAULO
(Sorri. Olham-se por alguns segundos)
E qual é o prato da noite?

MARTHA
Você.

PAULO
Como?

MARTHA
Você é o prato da noite.

PAULO
(Ri)
Você é canibal?

MARTHA
(Séria)
Sou.

PAULO
Como é?

MARTHA
É isso mesmo. Eu vou te comer hoje. Na verdade, eu vou começar a te comer essa noite. É um processo lento, envolve muitas etapas. Começo hoje, com um beijo apaixonado, temperado com muito azeite, vinagre e sal. Repetiremos o prato por alguns dias. Será o nosso preferido. Em duas semanas vamos começar a namorar. Ainda estarei abrindo o meu apetite. No final do mês transaremos e então o nosso tormento começará. Eu serei muito ciumenta e brigaremos por isso, depois vamos brigar por causa da briga e então estaremos numa terceira briga sem nem lembrar o motivo. Eu vou me magoar. Vou ficar brava quando você falar que não tem motivos para eu me magoar. Você vai ficar bravo por eu estar brava. Vamos ver muitos filmes, tanto no cinema quanto em casa. Comeremos em muitos restaurantes. O nosso preferido será aquele japonês.Passaremos horas conversando, até o momento que não teremos mais assunto e isso vai me incomodar profundamente. Você se sentirá incomodado com o meu incômodo e passaremos a brigar somente pelo fato de que assim teremos assunto. Você conhecerá os meus pais. Eu conhecerei os seus. Eu ficarei muito amiga da sua mãe. O dia que vocês brigarem eu darei razão a ela e então, eu e você, brigaremos por isso. Nós passaremos as férias no litoral e isso será muito bom. Vou começar a entender que é a rotina que desgasta a nossa relação. Iremos ao aquário e desejaremos ter a vida dos peixes, sempre tão calmos e felizes. Iremos ao supermercado várias vezes e isso será um bom passatempo. Iremos patinar no gelo nas férias de verão. Eu vou cair e me machucar e você dirá uma frase que eu nunca vou esquecer. Acharei você o homem mais perfeito do mundo nesse dia. Passaremos a morar juntos quando você conseguir uma promoção no emprego. Eu começarei a trabalhar. Nós nos encontraremos somente de noite, em casa, o que fará com que a nossa relação dure mais. Você vai reclamar de como a política te come vivo. Vai falar que sente falta de um governo que pare de olhar para os interesses da elite. Esses seus papos me deixarão enjoada. Você me convencerá que Cães de Aluguel é o melhor filme de todos os tempos. Iremos nos casar numa igreja muito tradicional da cidade. Sua mãe vai chorar. Eu usarei um vestido belíssimo. Nós não seguiremos a tradição que diz que o marido não pode ver o vestido da esposa. Não ligaremos para isso. No dia do nosso casamento você fará as pazes como seu pai. Será o dia mais feliz das nossas vidas. Anos depois jogarei em você o álbum de fotos. Antes disso teremos um cachorro. Ele se chamará Billy. Teremos uma filha que se chamará Antônia. Você achará Antônia parecida com o Roberto, um amigo nosso do prédio. Isso irá tirar o seu sono. Você passará uma fase difícil no trabalho e será demitido. Passaremos a brigar todo dia, relembrando os tempos de namoro. Eu vou te agredir com uma faca. Quando Antônia completar cinco anos iremos nos separar. Será difícil para você. Eu estarei tranqüila e isso te deixará bravo. Você voltará para a casa da sua mãe. Eu cobrarei uma pensão que você não poderá pagar. Mesmo depois da separação continuarei atormentando você. Vigiarei os seus relacionamentos. Você mal verá Antônia. A sua mãe continuará sendo minha grande amiga. E esse é o jeito que eu comerei você, aos poucos, durante todas as etapas da sua vida. Sua vida será uma mistura de felicidade e tristeza. Momentos bons e momentos ruins. Eu vou te comer até você deixar de existir. A sua vida será minha e eu vou saborear cada pedaço.
(Silêncio)

PAULO
Mas aquilo de me comer agora era mentira, certo?

MARTHA
Não. O suco que eu te dei contém uma poderosa substância que deixará a sua carne macia, perfeita para mastigar. Em poucos segundos você vai desmaiar e então eu aproveitarei.
(Martha sorri)
Guardanapo?

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A MADRASTA de Ronaldo Fernandes

MADRASTA: (Pegando o caldeirão) É hora de começar a preparar o almoço. Hoje vou fazer rabada.
CALDEIRÃO: Adoro.
MADRASTA: (Pegando o fósforo) É só acender o fogo e começar a esquentar o bumbum do caldeirão...
CALDEIRÃO: Gosto que coloquem fogo na minha bunda... Delicia
MADRASTA: (Batendo no caldeirão) Bumbum do neném vai esquentar. (Coloca sobre o fogão)
CALDEIRÃO: (Contente) Eba! Bunda do papai vai pegar fogo!
MADRASTA: (Acedendo o fogo) Olha lá heim? Você tem que ser forte. Ainda to pagando as prestações no Magazine Luiza.
CALDEIRÃO: (Com prazer) Isso. Assim que é bom. Tão quentinho na minha bunda. Aumenta um pouco mais... Vai...
MADRASTA: Vou começar com fogo baixo.
CALDEIRÃO: Que pena.
MADRASTA: Agora vou começa a mistura. Depois aumento o fogo.
CADEIRÃO: Pode começar.
MADRASTA: Uso uma colher de pau.
CALDEIRÃO: Pra mexer gostoso.
MADRASTA: (Pegando uma colher de pau) Acho que essa tá boa.
CADEIRÃO: Essa não. Pega uma maior.
MADRASTA: (Olhando pra colher) Pra rabo essa é pequena! (Pega uma maior)  Vou usar esta.
CALDEIRÃO: Isso mesmo. Usa essa que é bem grande.
MADRASTA: (Deixa a colher do lado) Ainda bem que decidi fazer rabo...
CADEIRÃO: Que delicia.
MADRASTA: É rápido e gostoso.
CADEIRÃO: Concordo.
MADRASTA: La vai meia xícara de óleo...
CADEIRÃO: Usa óleo que desliza melhor.
MADRASTA: Se tivesse manteiga...
CALDERÃO: Deslizava macio.
MADRASTA: Primeiro deixa aquecer o óleo.
CADEIRÃO: Põe mais fogo.
MADRASTA: (Aumentando o fogo) É melhor aumenta o fogo.
CALDEIRÃO: Delicia.
MADRASTA: Agora coloco dois rabos em pedaços...
CALDEIRÃO: Adoro rabo.
MADRASTA: (Suspirando) Como eu gosto de rabo.
CALDEIRÃO: Será que inteiro não seria melhor?
MADRASTA: (Pegando a colher) Vou pegar a colher.
CALDEIRÃO: Isso mesmo, a maior de todas... Pra rabo quanto maior melhor.
MADRASTA: Fica mais fácil de mexer.
CALDEIRÃO: Agora mexe gostoso.
MADRASTA: (Mexendo) Tem que mexer para um lado só, se não desanda.
CALDEIRÃO: Há não! Mexe pros dois lados que é melhor.
MADRASTA: Primeiro mexendo devagar e quando dourar tem que mexer rápido.
CALDEIRÃO: Gosto quando começa a mexer rápido.
MADRASTA: Agora coloco os temperos e verduras: Sal, cebola, pimentão e nabo.
CALDEIRÃO: Nabo no rabo vai ficar ótimo.
MADRASTA: É uma delicia nabo com rabo.
CALDEIRÃO: Quando vai começar mexer rápido?
MADRASTA: Agora é mexer bem rápido.
CALDEIRÃO: Já começou? Nem percebi.
MADRASTA: Esse caldeirão é muito largo, a colher nem alcança direito.
CALDEIRÃO: Não sinto a colher no fundo.
MADRASTA: Nossa, pra chegar no fundo tenho que usar uma colher maior.
CALDEIRÃO: Então pegar uma maior.
MADRASTA: Tem que ser com essa mesmo, não tenho uma colher maior... Será que a vizinha não tem?
CALDEIRÃO: Deve ter.
MADRASTA: Agora jogo duas latas de água.
CALDEIRÃO: Esfriou tudo.
MADRASTA: Daqui a pouco levanta fervura.
CALDEIRÃO: Adoro quando levanta fervura.
MADRASTA: O rabo fica molinho e é mais gostoso de comer.
CALDEIRÃO: Assim é que é bom.
MADRASTA: Dou uma mexida bem rápido.
CALDEIRÃO: Que delicia. Assim não aguento.
MADRASTA: Agora é parar de mexer...
CALDEIRÃO: Porque parou de mexer?
MADRASTA: Tampar... (Tampa o caldeirão)
CALDEIRÃO: (Irritado) Porque parou de mexer?
MADRASTA:  E esperar cozinhar...
CALDEIRÃO: Que sacanagem. Parar de mexer logo agora que tava rapidinho...
MADRASTA: (Olhando a colher com desdenho) Pra rabo, quanto maior o instrumento melhor. (Põe a colher na pia)
CALDEIRÃO: (Decepcionado) Pra rabo, não importa o tamanho do instrumento, é só saber mexer.
MADRASTA: Não é a toa que me chamo madrasta! (Sai rindo)

DONOS DA HISTÓRIA de Betinho Neto

Corcunda: Consegui finalmente minha rainha, consegui.
Rainha: Conseguiu o que corcunda?
Corcunda: Prendi a Princesa na torre mais alta do Castelo, ela nesse momento deve estar prestes a tomar o suco envenenado.
Rainha: (Com voz de narrador de conto de fadas) E o príncipe chega na torre e salva a linda princesa (Volta com a voz normal) Até parece corcunda, onde já se viu, a bruxa no fim se dar bem.
Corcunda: Eu prendi o príncipe dentro da outra torre e joguei a chave fora.
Rainha: Eu não acredito corcunda. Eu não acredito.
Corcunda: Somos somente nós agora Rainha, somos os donos da historia.
Rainha: Os donos da história, gostei disso. Fica melhor “A Rainha é a Dona da História”... Enfim... Aquela princesinha xexelenta presa naquela torre e o príncipe idiota perdido na outra torre. Vamos sair de vassoura e comemorar... Somos únicos e vencedores.
(Uma semana depois)
Rainha: Chega, chega... Já roubei doce de criança, dei surra de pau de sebo em velhinha que estava atravessando a rua, furei olho de sogra, enganei um cego e gritei com um surdo. Não tem mais nada para se fazer Corcunda.
Corcunda: Tá difícil mesmo rainha, eu não sei...
Eu já sei, solta o príncipe.
Corcunda: Como que é?
Isso que você ouviu sua besta, solta o príncipe.
Corcunda: Mas ai...
Rainha: Primeiro, ele salva a princesa. Segundo, ele vêem aqui e bate na gente. Terceiro, nós fugimos e se escondemos e voltamos com outro plano.
Corcunda: Mas isso é passado.
Rainha: Corcunda com eles lá, nem nós e nem eles tem motivos para viver, por que nem eu e nem você vamos “viver felizes para sempre” então pra que ficar aqui?
Corcunda: Para aproveitar?
Rainha: Vai logo tirar eles de lá, quero um pouco de aventura...
Corcunda: Estou indo, você que manda afinal...
(Corcunda sai reclamando e a Rainha esta eufórica)
Rainha: Deixa eu ir preparado a poção transformadora em dragão, hoje a briga vai ser boa.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

ESPELHO, ESPELHO MEU de Ronaldo Fernandes

PRINCIPE: Espelho, espelho meu, há alguém mais lindo do que eu?
ESPELHO: Bem vejamos... Deixa eu ver aqui no meu HD.
PRINCIPE: Já viu?
ESPELHO: Espera que estou reinicializando os dados.
PRINCIPE: E ae?
ESPELHO: Pode fazer a pergunta de novo?
PRINCIPE: Espelho, espelho meu, há alguém mais lindo do que eu?
ESPELHO: Sim.
PRINCIPE: Heim? Não entendi.
ESPELHO: Claro que entendeu. Eu disse que tem homem mais lindo que você.
PRINCIPE: Talvez você não tenha ouvido bem.
ESPELHO: Ouvi bem sim senhor.
PRINCIPE: Tenho certeza que você não ouviu bem.  Por isso vou perguntar de novo, e é bom você tomar cuidado com a resposta.
ESPELHO: Manda.
PRINCIPE: Espelho, espelho meu, há alguém mais lindo do que eu?
ESPELHO: Sim.
PRINCIPE: Que porra espelho! Eu fico puto com essa resposta do cacete.
ESPELHO: Nossa linda, que violência.
PRINCIPE: Eu malho todo dia, só como frutas, faço reposição hormonal...
ESPELHO: E o que eu tenho com isso?
PRINCIPE: Faço preenchimento, uso chrono noite e dia, tomo anabolizante...
ESPELHO: Tá vendo no que dá né?
PRINCIPE: Faço drenagem linfática, escova de açúcar e a inda por cima preenchimento labial...
ESPELHO: Agora entendi essa boca de Angelina Jolie...
PRINCIPE: Cala a boca filho da puta. (Pega um machado que acabou de surgir)
ESPELHO: Olha só, é um machado em suas mãos...
PRINCIPE: Sim. Acabou de chegar por sedex dez.
ESPELHO: E pra que server?
PRINCIPE: Pra quebrar espelhos em mil pedaços.
ESPELHO: Nossa... Entendi. Quer fazer a pergunta novamente?
PRINCIPE: Claro meu bem.
ESPELHO: Manda.
PRINCIPE: Espelho, espelho meu, há alguém mais lindo do que eu? (Mostra o machado)
ESPELHO: Não. Você é lindas!

LIGAÇÃO A COBRAR de Betinho Neto

Bruna do Norte: Espelho Mágico, liga a cobrar para a Bruxa do Oeste.
Espelho: Sim Senhora
(No outro castelo)
Espelho: Ligação a cobrar da Bruxa do Norte.
Bruxa do Oeste: Essa praga não para de me ligar a cobrar, não acredito nisso. Cadê o dinheiro que ela recebe da INSS? Ta gastando tudo em bebida, desgraçada, vai... Eu aceito.
(Aparece a Bruxa do Norte no Espelho após a chamada a cobrar)
Bruxa do Norte: Já ta sabendo?
Bruxa do Oeste: O que? Não vem me dizer que as maças aumentaram de preço de novo, por favor...
Bruxa do Norte: Não é isso, sabe aquele príncipe?
Bruxa do Oeste: (Gargalhando) Príncipe? Que príncipe? Todos são príncipes, as únicas coisas velhas e enrugadas somos nós.
Bruxa do Norte: Menina, aquele que tinha um caso com a Cinderela.
Bruxa do Oeste: Eu sei bem quem é, aquele meio...
Bruxa do Norte: Estranho, isso mesmo. Parece que ele virou gay.
Bruxa do Oeste: Gay? Eu sabia, apareci outro dia pelada na frente dele e ele não fez nada.
Bruxa do Norte: Também não é menina? Teu peito ta caindo nos teus pés, tem que tomar cuidado para que ninguém pise neles.
Bruxa do Oeste: Que absurdo, olha como você fala comigo, sua bruxa...
Bruxa do Norte: Amiga, somos amigas. Devia fazer igual a Pocahontas que colocou um belo silicone com o pajé da Floresta.
Bruxa do Oeste: Ela era traveca? Que medo. E com silicone? Eu não acredito.
Bruxa do Norte: É... Depois nos que somos as ruins, nós que não prestamos, nós isso...
Bruxa do Oeste: Para com isso, você me liga a cobrar para dizer que a Pocahontas é travesti e que o príncipe é gay? Por favor.
Bruxa do Norte: Mas essa historia do príncipe ser gay é muito grave, como a historia vai ter continuação?
Bruxa do Oeste: Ele vai ficar enrustido não é? Claro...
Bruxa do Norte: Igual essa pouca vergonha da Pocahontas, que absurdo. Por isso me aposentei viu amiga... Hoje em dia príncipe é bruxa, princesa é caminhoneiro e rei é cantor.
Bruxa do Oeste: E ainda nos chamam de velha guarda das historias só por que não somos em 3D, eu vou mostrar meu poder para elas verem...
Bruxa do Norte: Complicado mesmo, amiga segredo viu? Segredo.
Bruxa do Oeste: Pode confiar, minha boca e um tumulo.
Bruxa do Norte: Adeus.
Bruxa do Oeste: Adeus
(Desliga o espelho)
Bruxa do Oeste: Fofoqueira desgraçada, vou ser obrigada a mandar um email bruxa para toda a comunidade bruxa com essas novidades as leis da moral e bons costumes estão sendo destruídas, que coisa mais medonha, preciso falar com Merlin...
(Sai gritando)

CONTRATA- SE de Betinho Neto

Na Torre do Castelo conversam a Princesa e a Rainha Mãe, a princesa está agitada e na adolescência e a sua paciente mãe explica os contos de fadas ou pelo menos tenta:

Princesa: Eu não pedi para ser princesa.
Rainha Mãe: Mas é... É princesa e pronto.
Princesa: Mamãe, será que eu realmente sou uma princesa dessas de conto de fadas? E se eu gostar de mulher? Se eu quiser ser uma profissional liberal?
Rainha Mãe: Filha, você esta em um conto de fadas, não pode sair por ai fumando maconha e beijando mulher...
Princesa: Tá vendo que coisa horrível, eu não tenho escolha das minhas ações, isso é um absurdo.
Rainha Mãe: Minha pequena princesa, é lógico que você tem escolhas, vai poder escolher a cor do seu vestido que tem ser branco, escolher as flores do casamento, que terão que ser rosas...
Princesa: (Debochando) E meu vestido será levado por animais da floresta...
Rainha Mãe: Como você sabe disso?
Princesa: Por que só eu que ouço essas pragas falando? Outro dia ouvi a rata dizendo que estava traindo o rato, a pomba dizendo que ia passar doença para uma guarda do castelo e ouvi um esquilo dizendo que a senhora canta mal.
Rainha Mãe: Que horror filha, qual esquilo foi esse?
Princesa: Sei lá, são sempre todos iguais.
Rainha Mãe: Filha, você tem um dom, deve aceita-lo.
Princesa: Tomo LCD todos os dias e ouço animais falando, não tenho escolha de fazer nada e ainda por cima vou ter que me casar com o primeiro que me salvar, pois isso é o amor verdadeiro. Mamãe, por favor...
Rainha Mãe: Filha, não fale assim, não renegue seu destino, coisas ruins podem acontecer...
Princesa: Coisas ruins? Eu aposto que daqui a pouco aparece uma velha maluca se titulando a mais linda do reino e ainda por cima vai querer me matar...
Rainha Mãe: Isso jamais vai acontecer minha filha. Você esta bem protegida aqui nesse castelo.
Princesa: Mas ela já deve morar nesse castelo, deve ser essa empregada com cara de bruxa que não para de me olhar, deve ter um esconderijo e um cúmplice de magia negra.
Rainha Mãe: Filha bate na madeira, que horror (mãe começa a chorar) o que eu fiz da minha vida.
Princesa: O que você fez? Simplesmente ficou maluca, decidiu casar com um príncipe que virou rei, engravidou de mim e eu nasci.
Rainha Mãe: Pare com isso, pare com isso. O que a sua fada madrinha vai pensar?
Princesa: Nossa, ainda tem essa velha macumbeira, tinha esquecido ela.
Rainha Mãe: Macumbeira?
Princesa: Isso, essas coisas... Vem aqui faz uma palhaçada com uma varinha que nem ela sabe da onde tirou e faz tudo mudar... E o que acontece?
Rainha Mãe: Não sei...
Princesa: O encanto dura até meia noite e depois você volta a ser a mesma desgraça de sempre.
Rainha Mãe: Nossa filha, isso é um conto de fadas é para ser...
Princesa: Mãe, eu quero ser política, quero declarar a republica por aqui e me tornar presidenta
Rainha Mãe: Minha filha, você está muito estranha, acho que preciso te mandar para dar uma volta na floresta, por ai...
Princesa: Agora que eu me encontro com sete anões tarados e vou ficar perdida e acho...
(A mãe pega a princesa e joga pela janela)
Rainha Mãe: Não se fazem mais princesas como antigamente, já é a terceira que eu atiro essa semana por essa janela... (Olhando pela janela) Bruxa, já pode levar essa para o dragão, já estão chegando mais três para entrevista hoje. (Pensando para si) Tão achando que eu sou parideira. Ai de mim...

EU PODIA TA MATANDO - O QUE NÃO FOI CONTATO - A BRUXA DE RAPUNZEL de Kadu Verissimo

EU PODIA TA MATANDO

Personagem : Bruxa velha do João e Maria

Semáforo, calor, buzina...ao longe avista-se uma figura estranha, da cintura pra cima está torrada, cabelo queimado, fuligem, fumaça e um forte cheiro de enxofre, no rosto da velha uma grossa camada de creme e em suas mãos uma caixa de doces bem vagabundos.

Velha
(entre os carros)

Olha o doce
Olha o bolo, o pão de mel
Tem jujuba , caramelo, doce de batata doce...
Olha o doce...
Ô moço ce podia comprar um doce aí pra ajudar, é dois reais cada um?
Faz esse favor pra me ajudar...Eu podia ta matando, eu podia ta roubando, mas to aqui vendendo o que restou da minha casa pra ver se arrumo um barraquinho novo, num quer não? Desgraçado...
Olha o doce,olha o doce... você quer ? E você  meu Sr ? Quer um doce, pra adoça sua vida que pela sua cara deve ta bem da  amarga...
Mas que cambada de filho da puta, não me compram um doce, levaram susto foi com a aparência não é?
É a apresentação, que assusta eu até entendo...to toda fodida da minha vida, minha cara ta que é só creme, e é assim que tenho que ficar, sofri queimadura grave na cara, nem sei quantos graus...e tudo por causa daqueles dois demônios, criançada filha de uma puta...
Vai um doce aí...não?
Sempre fui uma doceira de mão cheia, sempre cozinhei muito bem né? Minha especialidade é Supremê á criança...eu pego a carna de criança bem novinha, com carninha cheirando a leite e zap, passo a faca, pico toda em partes bem pequenas, e jogo na minha panela com molho branco e queijo...é uma delícia...a quanto tempo eu não como uma...não precisa correr não peraí, compra aqui um docinho , uma jujuba..
 Pra quem não me conhece, ou quem é burro e ainda não percebeu, eu sou a velha da história do João e Maria...
(fala com ódio, entre dentes) 
João e Maria...ai, que  só de falar o nome desses putos já me dá coceira...numa história dizem que eu sou velha, em outra que eu sou casada com o demônio, em outra que uso um chicote, contam tantas versões dessa história, mas eu só sei uma, a minha...e não sei quem foi o pau no cú que disse que é história pra criança, não posso falar nem um palavrão, que faz parte dos contos de fadas... contos de fadas
(fala com ódio, entre dentes) 
contos de fadas é o caralho, fadas pra quem não sabe são aquelas putinhas que voam peladas, não é nada disso , ta tudo errado...tá tudo errado...
Eu tinha uma casa grande, bonita, toda marrom chocolate, toda de glacê, trabalhada no açúcar mascavo, agora to praticamente numa kit net ,um barraco feio, todo de bolacha maisena, um horror, um horror...
Uma depressão...
Ai cacete, abriu o sinal, eu  fiquei falando e não vendi um doce, olha o doce...olha o doce...olha o AAAAAAAAAAAA !!!
(é atropelada)

Fim
O QUE NÃO FOI CONTADO

Personagens

Malévola
Rainha


(na casa de Malévola)

Malévola

Gente do céu, preciso parar de comprar Tuperware, não sei mais onde por tanta tuperware, sempre que vou numa festinha eu carrego umas três, claro né, pra garantir a semana, puta merda como eu adoro uma festinha, muitas vezes vou de penetra mesmo, mas gosto de ser convidada...
(tempo)
ultimamente não andam me convidando logo agora que tenho esse modelo duplo novíssimo de tuperware, tem dois compartimentos, muito prático, assim o doce não mistura com o salgado....trago bolo e coxinha e como tudo no outro dia, AHAHAHAHAHAHAHHA !
To sabendo que vai rolar o maior festão que essa terra já viu, a princesa acaba de nascer e vai rolar o maior rega bofe que essa terra já viu, aluguei uma van pra levar meus tuperware , essa eu não posso perder, por nada, por nada...

No Castelo da Rainha

( A Rainha confere a lista de convidados)

Rainha

- Amor, tem muita gente nessa lista, assim o Buffet vai ficar pela hora da morte...acho bom não esbanjar né? eu detesto fazer festa e encher a barriga desse povo, que depois ainda saem falando mal...só vou fazer mesmo porque é o nascimento de nossa filha aurora, vou cortar uns nomes que acha? Tem gente que não necessita vir né mesmo?quero é economizar pra uma plástica.. essa bebê me arranca os bicos de tanto mamar, meu peito esta pelo chão de tanto que ela mama...vou cortar esse, esse e esse nome.


Na casa da Fada Má

(Malévola esta no telefone)
Tu já recebeu o convite? Mas como assim , não chegou nada pra mim...o que? já faz uma semana, e a festa é HOJE??? Mas....
(bate o telefone)
ESQUECERAM DE MIM, desgraçados, não me convidaram pra essa festa pobre, mas isto não vai ficar assim...eu vou me vingar!
EU VOU ME VINGAR !

 
A BRUXA DE RAPUNZEL

Rapunzel encontrava-se perdida no deserto, o príncipe acabara de ser empurrado pela bruxa do alto da torre caindo em um monte de espinhos ficando cego e a bruxa lá em cima da torre diz:
- Caralho, e  agora como eu desço daqui?

ROTEIRO DE SUCESSO de Marcus Di Bello

TEMA: CONTO DE FADAS

(Mesa de um café do centro de Los Angeles. Mick espera e, entre um gole e outro de café, confere o seu relógio de pulso. Está cuidadosamente arrumado. Seu terno parece ter saído da loja nessa exata manhã. Depois de certa espera chega Walt. Despenteado, roupas amassadas e levemente com sono.)

MICK
(Animado)
Walt, meu bom e velho Walt! Achei que havia desistido do encontro.

WALT
Desculpe o atraso. Eu dormi muito pouco essa noite. Foi muito difícil acordar cedo.

MICK
Sem problemas, Walt. Marcamos dez horas e agora são, veja só...
(Confere o relógio)
Onze e quinze. Mas não se preocupe, realmente não há problemas. Estou sempre disponível para encontrar um grande amigo. Gostaria de um café?

WALT
Por favor.

MICK
(Faz sinal ao garçom)
Quanto desleixo, meu velho. Olha para esse seu terno.

WALT
Não está tão mal assim.

MICK
Parece que veio de uma guerra. Que horror! Saímos da guerra há dez anos, Walt. Tenha dó! Você precisa cuidar do visual. Hollywood é cruel, meu caro. Importam-se mais com a aparência do que com o talento.

WALT
Estou assim porque passei a noite inteira tentando escrever novos roteiros.

MICK
Errata, Walt. Passou metade da noite tentando escrever novos roteiros. A outra metade passou bebendo. Eu sinto o cheiro daqui.

WALT
Não posso negar que ela é minha companheira nas noites de inspiração.

MICK
Assim você não chegará a lugar nenhum. Ouça o que digo! É preciso focar, meu velho. Tenho até medo desses seus roteiros.

WALT
(Chega a xícara de café)
Pois ficaram ótimos.

MICK
Iguais aquele seu último?
(Ri enquanto Walt bebe café)
Como era o nome mesmo, Walt?

WALT
Tango Tango no Morango.
(Mick cai na gargalhada)
Não ri, era uma boa ideia. As crianças iriam adorar.

MICK
Uma bactéria argentina que começa a viver com a família dentro de uma salada de frutas. Quem você quer enganar?

WALT
Era um desenho experimental. O piloto ficou ótimo, mas não quiseram produzir. E a trilha era muito boa.

MICK
Você é muito engraçado, Walt.

WALT
Eu preciso de ajuda, Mick.

MICK
Percebe-se.

WALT
Falo sério. Estou sem grana. Preciso emplacar um bom roteiro. Não agüento mais ganhar duzentos dólares por pilotos que nunca são produzidos.

MICK
Arruma essa gravata!

WALT
(Arrumando)
Por favor, estou implorando ajuda.

MICK
Está bem, está bem. Sabe que sou seu grande amigo. Como posso ajudar?

WALT
(Retira anotações do bolso do paletó)
Preciso que avalie os meus roteiros.

MICK
Conte-me detalhes.

WALT
Está certo.
(Bebe o resto do café num gole só)
O primeiro desenho é sobre um coelho. Um coelho com habilidades humanas. O nome dele é Oswaldo.
(Mick rindo)
Posso saber o motivo da risada?

MICK
Certo, Walt. Um coelho chamado Oswaldo. As crianças certamente vão gostar muito disso. Que tal colocar uma menina chamada Alice para seguir o Oswaldo até a toca dele?

WALT
Não é nada parecido com Alice no País das Maravilhas, não diga o que não sabe!
(Coçando o queixo)
E eu tenho um desenho sobre uma Alice também.

MICK
Viu só!

WALT
Não é parecido!

MICK
Conte-me detalhes sobre a Alice, Walt. O coelho Oswaldo é pouco simpático e não agradou muito.

WALT
Bom, a minha Alice é uma pessoa real que convive com desenhos animados.

MICK
Pessoa real?

WALT
Isso. Filmada e inserida no desenho.

MICK
Uma atriz?

WALT
Exatamente.

MICK
Assustador, Walt. Muito assustador.

WALT
É fantástico, Mick. Toda criança vai querer ser a Alice. O sonho de estar num desenho animado.

MICK
É um pesadelo, Walt. Pessoas de verdade são vistas em filmes, não em desenhos. Esse foi o motivo do encontro? Se eu soubesse que ouviria essas ideias nem teria saído de casa.

WALT
É experimental.

MICK
Então sugiro que experimente de novo.

WALT
Eu desisto. Não consigo escrever um bom roteiro.

MICK
Não fica assim, meu velho. Estou só brincando com você. Desculpe seu bom e velho amigo. Eu quero te ajudar. Eu vou ajudá-lo!

WALT
Como?

MICK
Tenho aqui um bom roteiro. Gostaria de ouvir?

WALT
À vontade.

MICK
(Retirando anotações do bolso)
É uma adaptação do conto de fadas da Cinderela. Conhece?

WALT
Nunca ouvi falar.

MICK
Vou resumir a história. Cinderela vive com a madrasta, que a obriga a realizar serviços domésticos. Então o rei anuncia que haverá um baile no castelo, onde o príncipe escolherá a sua esposa dentre todas as mulheres do reino. A madrasta proíbe Cinderela de ir, alegando que a moça não possuí vestido para a ocasião. Cinderela faz um vestido de retalhos, mas horas antes do baile as filhas da madrasta o rasgam. Cinderela chora, e das suas lágrimas surge uma fada madrinha. Apressando um pouco a história, a fada madrinha dá um belo vestido para Cinderela e ela consegue, assim, ir ao baile do castelo.

WALT
Parece interessante.

MICK
Claro que é interessante, Walt. É disso que as crianças gostam. Tem ação! Não é um coelho chamado Oswaldo e nem uma mulher drogada que acha que está num desenho animado. É vida. É romance. O príncipe escolhe a Cinderela no final. Eles se casam. É disso que o público gosta. É uma grande produção, Walt, você não está entendendo. Não é só um mero desenho. Renderá milhões.

WALT
Talvez seja a minha salvação.

MICK
Claro! E eu estou compartilhando com você.

WALT
Mas acho a história um pouco sem graça.

MICK
Como sem graça? Meu velho, a história é perfeita. A fada madrinha transforma abóbora em carruagem. Criança adora mágica. A Cinderela é alertada que precisa voltar a meia-noite, que é quando o feitiço se desfaz. São os valores sociais sendo ensinados.

WALT
Voltar meia-noite? Que festa é essa, Mick? Olha, com o trânsito de Los Angeles eu mal conseguiria chegar na festa nesse horário, imagina voltar dela!

MICK
Eu estou querendo te ajudar, Walt, e você está zombando do roteiro.

WALT
Não estou zombando, mas não faz muito o meu estilo do jeito que está.

MICK
E como você faria?

WALT
Eu estou brincando, Mick. Acho um bom roteiro. Alteraria pouca coisa. Talvez o primeiro vestido da Cinderela, aquele que as filhas da madrasta rasgaram, seria feito com a ajuda dos animais do bosque.

MICK
Pare de pensar em animais, Walt. Essa época passou. Foca na madrasta, na maldade, nos valores humanos. É isso que as crianças precisam hoje em dia. Está tudo muito parado. Animalzinho não diverte mais.

WALT
E a carruagem precisa se movimentar. A fada madrinha poderia transformar dois ratos em dois lindos cavalos.

MICK
Você é doente, Walt. Um amante dos animais.

WALT
Gostei do roteiro, Mick. Infelizmente é uma grande produção. Como arranjar dinheiro para isso?

MICK
São detalhes, meu bom e velho Walt.
(Abre a carteira e coloca sobre a mesa algumas moedas)
Aqui está o preço do café, Walt. Hoje o seu é por minha conta. Por favor, acerte a nossa conta lá dentro que depois iremos ao estúdio para trabalhar em cima da ideia da Cinderela.
(Antes de Walt levantar Mick coloca a mão sobre o ombro dele)
Ganharemos muito dinheiro, Walt. E lembre-se: continue seguindo em frente.

WALT
(Com as moedas em mão)
Obrigado, Mick. Volto já com a conta paga.
(Sai de cena)

MICK
Esse idiota. Como é influenciável. Cinderela nunca seria um sucesso. Uma história antiga e cheia de maldades, além do alto custo para produzir.
(Revirando os papéis que Walt deixou sobre a mesa)
Alice. Muito interessante. Esse Oswaldo também não é nada mal. Oswaldo, seu coelho sortudo. Você me dará fama.
(Percebendo que Walt está voltando, Mick coloca no bolso as anotações e corre, deixando um pé do sapato pelo caminho)

WALT
Mick? Mick, onde você está indo?
(Gritando)
Mick! Mick!
(Senta)
Droga, maldito! Sabia que não deveria confiar nesse ordinário.
(Percebe que as anotações não estão ali)
Onde estão os meus roteiros? Onde estão Oswaldo e Alice? O desgraçado levou tudo! E ainda deixou um sapato para trás. Fugiu feito um rato. Covarde! Rato Mick.
(Anotação de Cinderela em mãos)
Ele esqueceu o roteiro dele. Cinderela. É uma produção muito grande. Preciso de dinheiro para isso. Mas como, depois que aquele rato levou os meus dois melhores roteiros?
(Dobra o papel de uma forma que fica parecendo duas orelhas)
Preciso de um roteiro de sucesso.

FIM