Personagens: Noêmia
Marilu
Carne Seca
Santo Antonio
Noêmia – Eu
odeio festa junina!
Marilu – Mas
porque?
Noêmia –
Acho uma chatice! Coisa mais sem motivo.
Marilu – Não
entendi.
Noêmia (mais
irritada) – Porque festa
junina? Pra quê? Coisa mais idiota!
Marilu – Mas
foi você quem quis vir e agora está reclamando dessa bosta de festa, devia ter
ficado em casa vendo a minha novela,viu. Já vi que vou me aborrecer.
Noêmia –
Veio porque quis.
Marilu – Vim
porque você me encheu tanto que nem sei. Está uma merda essa festa só tem gente
bêbada.
Noêmia – Mas
então pra você está ótimo daqui a pouco você começa a encher a lata também.
Marilu –
Melhor do que ficar com essa cara, reclamando, xingando e dizendo eu odeio.
Noêmia – Ah,
mas claro né, você faz o tipo arroz de festa, se tiver bebida e homem, você
está dentro.
Marilu – Mas
o que é isso? Sou casada me respeite. Está com raiva de estar aqui e ainda desconta
de mim, eu hein. Vou pegar mais vinho quente quer?
Noêmia – Não
quero nada, quero é que essa merda acabe logo, já me arrependi de vir aqui,
odeio Santo Antonio, odeio dia dos namorados!
Marilu –
Então porque veio?
Noêmia –
Porque também não queria ficar sozinha.
Marilu –
Olha dá uma animadinha vai, dá uma olhada nos bofes menina, olha só o volumão
daquele ali olhando pra cá.
Noêmia –
Está louca se acha que vou ficar olhando pro meio das pernas dos homens.
Marilu –
Pois devia. Aquele ali promete. Olha o tamanho da pistola.
Noêmia –
Quer parar‼
Marilu – Mas
é pistola mesmo agora que vi. Ele está armado, e os outros com ele também.
Noêmia – Era
só o que me faltava meu Deus! Festa junina com bandido, onde é que vamos parar!
Marilu –
Olha, vou buscar vinho quente, vamos beber que é pra ver se acontece alguma
coisa. Fui. (e vai)
(Carne
Seca se aproxima)
Carne Seca –
Peitinho solitário está sozinha? Sua amiga fugiu?
Noêmia –
Peitinho solitário é a puta que te pariu, respeite meu problema. Queria ver se
fosse a sua mãe que tivesse um peito só e um cafajeste falasse assim com ela.
Carne Seca –
Corta essa de problema. Não vejo problema nenhum, mas sim inúmeras
possibilidades.
Noêmia – A
única possibilidade nesse momento é de eu meter a mão na sua cara. Te furo um
olho, olha só o tamanho da minha unha.
Carne Seca –
Adoro unha de piranha. Quer fumar um?
Noêmia – Vou
estar aceitando. (e
saem os dois)
(Marilu
volta com as bebidas)
Marilu – Ué!
Mas quedê? (olha e não vê Noêmia em lugar nenhum) Bom, vou beber os dois (e
bebe os dois copos) e
agora? O que faço da minha vida? Essa festa está uma merda e esse forró me
dando nos nervos ai ai se eu te pego eu te mato desgraçado, você nunca mais
canta essa música. (e ri alto)
(aparece
Santo Antonio)
Santo
Antonio – Oi
(Marilu
olha, dá um oi e
cai na gargalhada)
Santo
Antonio – Ria. Pode rir. Sou eu mesmo.
Marilu –
Santo Antonio! Tua festa tá uma merda!
Santo
Antonio – Pois é filha, o que vale é a intenção de comemorar.
Marilu – Intenção
de encher a cara, e nem assim melhora.
Santo
Antonio – Exato. Veja você por exemplo. Já está bêbada e o que acontece? Quem
apareceu pra você?
Marilu –
Quem?
Santo
Antonio – Eu. Seu santo protetor.
Marilu –
Meu? Mas quem disse que eu preciso de santo protetor? Nem acredito nessas coisas.
Que porra de colocação é essa? Chispa vai! Suma e desapareça!
Santo
Antonio – Olha, não faz assim. Que coisa feia, só quero conversar. Te ajudar. Santo serve pra
isso.
Marilu –
Podia começar arrumando uma comidinha porque nessa porra dessa festa não tem
nada. Nadica. Tem um cuzcuzico muito xoxo, uma carne moida gordurenta e um
monte de pão. Pão até dizer chega. E cachaça né porque cachaça não pode faltar,
Santo Antonio, disso todo mundo gosta.
Pode se comer mal, mas deixar de beber ninguem deixa viu? É fato. Aprende
uma coisa, Santo Antonio, chega um momento na vida que as pessoas não te
enxergam mais. Te olham, olham pra você
assim como eu estou te olhando agora, mas não te enxergam. As pessoas enxergam
só o que querem ver, que nem essas bandeirinhas, olha que horror, tudo feito de
jornal, não tiveram a decência nem de fazer umas bandeirinhas coloridas e sabe
porque? Porque sabiam que ninguem ia reparar. Não reparam. Ninguem olha essas coisas,
não estão nem ai Santo Antonio, ninguem nem lembra que você existe, ninguem te
respeita. Você acha que isso aqui é festa junina de verdade? Afinal, que que você veio fazer aqui? Passar
vexame?
Santo
Antonio – Vim constatar o que eu já sabia e você acabou de me dizer tão
delicadamente.
Marilu – Eu?
Santo
Antonio – Ninguem mais lembra de Santo Antonio, nem das festas tradicionais de
junho. Acho que nem as velhas beatas não lembram mais.
Marilu –
Acho que não existem mais.
Santo
Antonio – Umas chatas as velhas beatas, faziam umas trezenas monótonas, um saco.
Marilu –
Estou boiando. Mas gente velha é chata mesmo. Não suporto gente velha. Atrasam
a vida. E se forem crentes pior ainda. Não vê os do governo? Só gente velha. E
crente o que é pior. Será que é por causa dos crentes?
Santo
Antonio - O que?
Marilu –
Essa falta de fé. Nos Santos.
Santo
Antonio – A falta de fé minha filha, é característica dos egoístas, tomados
pela sensualidade das coisas materiais.
Marilu – Ih
Santo Antonio, eu então já nasci sensualizada nem me fale nisso, eu mal queria
vir pra essa festa, eu vim mais porque minha amiga me encheu o saco. Maior
baixo astral isso aqui viu? Eu odeio o dia dos namorados. Essa festa junina não
tá com nada, tá uma merda. Eu já falei da carne moída gordurenta? Pior é ficar
bêbada num canto sem saber onde a sua amiga se enfiou e ficar conversando as
frustrações com uma alucinação fantasiada de Santo Antonio.
Santo
Antonio – E o pior é dar ouvidos a essa alucinação. Mas escuta minha filha, a
falta de fé a gente pode observar aqui mesmo no comportamento das pessoas nesta
festa.
Marilu – Que
está uma porcaria.
Santo
Antonio – Houve uma época em que as crianças sabiam as cantigas juninas. Sabiam
o significado de pular a fogueira ou soltar balões que eram pequenininhos
feitos de papel marchê não grandões e exagerados como hoje que põem em risco a
vida das pessoas quando incendeiam algum lugar onde caem.
Marilu – E
qual é o significado?
Santo
Antonio – Nem eu lembro mais. E as simpatias então? A mais conhecida era a de um
bolo que tinha uma aliança dentro e a menina que achasse a aliança iria se
casar em breve.
Marilu –
Nunca ouvi tanta besteira dita por um santo.
Santo
Antonio – Mas a fé era forte e muitas vezes funcionava. Mas isso foi num tempo
onde ainda existiam corações puros. Hoje é coisa muito rara. Eu me sentia tão
bem com as preces de agradecimento. E olha que eu nunca fui Santo casamenteiro!
Marilu –
Como é que é? Que novidade é essa?
Santo
Antonio – É verdade.
(voltam
Noêmia e Carne Seca rindo)
Noêmia –
Conhecem o Carne Seca? Ele estava me mostrando seus domínios. É dono de tudo aqui. Olha só (apresenta) Marilu, Carne Seca, Carne Seca,
Marilu.
Marilu –
Prazer.
Carne Seca –
Prazer.
Noêmia – E o
teu padre ai? Quem é? Vai ter casamento? Quadrilha? Não apresenta?
Carne Seca –
Quadrilha só a minha hehehehe!
Marilu – Que
padre?
Noêmia –
Esse aí do teu lado, tá louca?
Marilu – Não
tem padre nenhum.
Noêmia –
Como não tem? E eu não estou vendo?
Carne Seca –
Eu também vejo.
Marilu –
Pensei que estivesse louca, mas estou vendo que a alucinação continua aqui.
Noêmia – Oi?
Marilu (apresenta) – Santo Antonio, Marilu, Carne
Seca, Carne Seca, Marilu, Santo Antonio.
Santo
Antonio – Oi. Tudo bem?
(Carne
Seca olha o baseado e cai na risada)
Noêmia – Mas
é Santo Antonio mesmo, igualzinho. Aceita um baseado Santo Antonio?
Santo
Antonio – Vou estar aceitando.
Noêmia (se
aproximando mais) – Me
diga Santo Antonio, é ele o homem da minha vida com quem vou casar? Vou ser a
rainha do crime? Você me acha louca?
Santo
Antonio – É justamente sobre isso que eu estava falando quando vocês chegaram.
Na verdade nunca fui Santo casamenteiro.
Noêmia –
Como é que é?
Marilu –
Pois eu perguntei a mesmíssima coisa!
Carne Seca –
Mas então você trabalha de quê?
Santo
Antonio – Pouca gente se lembra hoje em dia que Santo Antonio é o santo dos
objetos perdidos. Só porque uma doida no século dezoito arrumou um marido
depois que rezou pra mim, me arrumaram esse posto de casamenteiro e inventaram
um tal de São Longuinho que eu nunca ouvi falar que pra achar os objetos
perdidos tem que dar três pulinhos, onde já se viu?
Marilu – Mas
olha, sempre que fiz pedido pra São Longuinho logo eu consegui a o que pedi.
Noêmia –
Pois eu não lembro de nada. Nunca liguei pra festa Junina, a única musiquinha
que sei é da capelinha de melão é de são João. De Santo Antonio não sei nada.
Só sei que serve pra arrumar marido. E esse troço de São Longuinho ai não lembro se conheço ou não. Estou louca.
Carne Seca –
Pô Santo Antonio você podia achar uma coisa pra mim que eu perdi. Você acha?
Santo
Antonio – O quê?
Carne Seca –
Uma arma. Uma metralhadora UZI – k 47 ganhei de um amigão meu do exército
israelense, cem tiros por minuto, faz uma desgraça. Sumiu assim do nada. Não sei
onde larguei.
Santo
Antonio ( tira a arma não sei de onde) Pois aqui está. Viu como acho?
Carne Seca –
Show de bola meu camarada e quer saber? Fica pra você. De presente.
Santo
Antonio – Tá aí gostei. Sempre ganhei muita vela, preces, festa celebrada com
missa diária, barracas com comidas típicas, quadrilha, shows ruins mas
metralhadora nunca. Gostei.
Carne Seca –
Valeu.
Marilu –
Então Santo Antonio acaba logo com esse maldito dia dos namorados! Acaba com essa
festa!
Santo
Antonio – E olha só, é tão leve que parece de brinquedo, se eu quisesse acaba
com essa festa mesmo, festa junina ruim dos diabos. É aqui que destrava?
(e
dispara a arma ferindo muitas pessoas, acerta sem querer um botijão de gás e
vai toda a casa pelos ares numa forte explosão)
(trevas)
F I M
Nenhum comentário:
Postar um comentário