domingo, 26 de fevereiro de 2012

O CARNAVAL DA POMPIS de Ronaldo Fernandes

TEMA: CARNAVAL
Pompis, Vóz, Valéria, Crooner, Coro e Batalhão. (Coro e Batalhão devem ser feito pelos mesmos atores) 


QUADRO I

POMPIS: Adoro o carnaval. Amo! Amo! Amo muito mesmo. É sempre assim, chegando o carnaval preparo as minhas malas em Santos e corro para o Rio de Janeiro e me hospedo no maravilhoso hotel pombal. O pombal é o reduto de todas. Todas dormem e acordam montadas. Já estou no pombal há dois dias e hoje é sábado de carnaval e daqui a pouco vamos todas para o cine Iris, curti o maravilho baile onde todas brilham e procuram um amor. Isso mesmo: Um amor. E que seja um amor de carnaval. Não tem problema. Que dure o que tiver que durar. (Batem na porta) Quem é?
VÓZ: Sou eu Pompis. Estamos todas quase prontas para o baile.
POMPIS: Eu ainda não estou toda montada. Falta colocar o cabelo.
VÓZ: Nós também ainda não estamos. Na verdade estamos todas na janela olhando uma cena ótima. Corre para janela do pombal e olhe lá pra rua da carioca que você verá.
POMPIS: Vou lá pra janela. O que será que essas loucas estão vendo? (Corre pra janela do pombal) Meu Deus olha só que louca... Mamando ali na rua. Gente como essas loucas ficam mais loucas no carnaval. Sabe, vou gritar. (Grita da janela) Isso. Mexe gostoso que ela gosta. Ela gosta bem forte. Deixa ela mamar. Ela quer mamar. (Rindo) Gente eles não param. Mesmo a gente gritando eles não param. Como ela é louca. (Clama pelas outras) Gente, tá todo mundo vendo?
CORO: Claro que estamos.
POMPIS: Só a Valéria mesmo para fazer isso. Ela é louca.
CORO: Louca. Louca é pouco.
POMPIS: Vamos reverenciar então?
CORO: Vamos!
CORO E POMPIS: (Cantam) Mamãe eu quero. Mamãe eu quero. Mamãe eu quero mamar. Dá a chupeta. Dá a chupeta pro beber não chorar.

Coro continua cantando mamãe eu quero.

POMPIS: Aplausos para a nossa maravilhosa e louca Valéria. (O pombal inteiro explode em palmas)

Coro continua cantando mamãe eu quero.

VALÉRIA: (Gritando da rua) Suas vacas, a gente não pode nem mamar em paz. É carnaval.
POMPIS: (Gritando) Toma vergonha Valéria.
VALÉRIA: (Gritando) O que eu posso fazer? Estava passando aqui na rua e me pedirem uma mamada. Você sabe que eu não nego um carinho a ninguém.

Coro continua cantando mamãe eu quero.

POMPIS: (Gritando) Todas nós aqui do pombal assistimos.
VALÉRIA: (Gritando) E todas querendo estar no meu lugar.
POMPIS: (Gritando) Quer saber? É carnaval. Vamos todas cantar a mamada da Valéria.
VALÉRIA, POMPIS e CORO: Mamãe eu quero. Mamãe eu quero. Mamãe eu quero mamar. Dá a chupeta. Dá a chupeta pro beber não chorar.
POMPIS: (Saindo da janela. Voz do coro vai sumindo ao longe até acabar) Deixa eu terminar de me arrumar. Vou prender a peruca. E ir pro baile. Nem vou ficar esperando essas loucas. (Olhando-se no espelho) Nossa como estou simplesinha: Mini saia branca, blusinha top também branca, cabelos negros até o ombro, sandália de salto médio, também branca, maquiagem leve e um lenço no pescoço, também branco. Sou praticamente uma enfermeira. Gostei. (Risos) Que louca. Agora é pegar a grande amiga de uma mulher (Pega uma bolsinha branca) e ir ao baile no cine Iris. (Sai)


QUADRO II

POMPIS: (Parada admirando) O fantástico Cine Iris, em outros tempos teve o nome de Cine Soberano, local das soberanas como eu. Na maravilhosa época de ouro da Praça Tiradentes, aqui teve grandes espetáculos do famoso Teatro de Revista. E eu se tivesse nascido naquela época, seria a maior vedete de todas as vedetes. Mas hoje tem o baile de carnaval e eu vou abalar Paris em chamas vestida de enfermeira. Algo me diz que hoje encontro meu homem.

Entra um homem negro. Alto e forte. É o crooner da orquestra.

CROONER: Boa noite moça.
POMPIS: Muito boa noite meu senhor.
CROONER: O que faz parada aqui na porta?
POMPIS: Sou enfermeira, mas estou um pouco perdida. Hoje era dia do meu plantão, mas não resistir e vim aqui pra o baile do cine Iris.
CROONER: Eu sou o crooner da orquestra.
POMPIS: Um crooner muito bem apessoado. Gostei.  Eu sempre quis conhecer um crooner. Gostei muito.
CROONER: Que bom que gostou. Estou com uma pequena dor aqui no peito. (Pega a mão da Pompis e colocar sobre o seu peito) Você me pode me examinar?
POMPIS: Estou sem os meus equipamentos, mas posso dar uma rápida examinada.
CROONER: Vamos entrar então. Lá no camarim a moça me examina.
POMPIS: Claro meu senhor. Sou uma enfermeira e tenho que honrar o meu juramento.
CROONER: Posso pegar na sua mão?
POMPIS: Pois não.
CROONER: Hoje preciso de uma enfermeira em tempo integral.
POMPIS: E eu, por ter faltado ao plantão, tenho todo o tempo do mundo.
CROONER: Hoje você fica do meu lado, sentada lá no palco, durante todo o baile tudo bem? Caso a dor se agrave, você poderá me dar toda a assistência.
POMPIS: Claro que sim. Uma enfermeira não pode fugir das suas obrigações e além do mais, eu adoro ficar sentada num palco.
CROONER: Então vamos entrar.
POMPIS: Mas uma enfermeira precisa ser paga por seu trabalho. O que tem lá dentro?
 CROONER: Lá dentro nós temos bananas.
POMPIS: (Dando a mão ao Crooner) Ai. Adoro bananas.
CROONER: Banana tem vitamina...
POMPIS: Engorda e faz crescer.
CROONER: Vamos entrar?
POMPIS: Claro que sim.
CORO: (Gritando) Por onde anda a Pompis?

Pompis ao ouvir olha para o coro e acena

CORO: Olha só quem vai lá de braços dados com o Crooner? É a nossa enfermeira Pompis.
POMPIS: (Para o coro) Lá dentro, nós temos bananas.
CORO: Que delicia! (Canta) Yes, nós temos bananas, bananas pra dar e vender, banana menina tem vitamina, banana engorda e faz crescer...
POMPIS: Pois é... (Canta) Yes, nós temos bananasbananas pra dar e vender, banana menina tem vitamina, banana engorda e faz crescer...

Coro continua cantando.

POMPIS: Adoro bananas. (Sai de braços dados com o Crooner  e a voz do coro vai sumindo ao longe).


QUADRO III


POMPIS: (Acordando toda desmontada) Ai meu Deus olha só pra mim. Estou toda desmontada.  Como vou fazer para sair desse quarto de hotel?  A noite com o Crooner foi perfeita. Fiquei o tempo inteiro sentada lá no palco sendo comida pelos olhos de inveja das outras e de vez em quando dando assistência ao microfone dele. (Risos) Que louca! A Valéria não agüentou de tanta raiva que até foi embora pro pombal antes do baile esquentar. Mas agora eu tenho que ir embora. Vou ver o que dar pra arrumar e vou assim mesmo. (Vai se montando com o que tem) Está aqui a mini saia branca, a blusinha top também branca, apenas uma sandália de salto médio... Nossa senhora, onde está a outra? (Procura o outro pé e não acha). Bom, vou fazer a enfermeira manca, vou só com um. Os cabelos negros já não estão até o ombro... Precisa escovar. Mas e term escova? (Risos) Que louca! Maquiagem não tem. Só um borrão. E a minha bolsa? Nem a minha bolsa está aqui. O crooner levou a minha bolsa. Filho da puta. Também, lá só tinha maquiagem.  Bom deixa eu ir. (Liga pra recepção do hotel) Meu amor eu quero acertar... Ele já acertou? Está tudo pago? Está bem. Obrigada. (Desliga o fone) Que homem tão maravilhoso. Levou a minha bolsa, mas acertou a conta do hotel. Vamos lá.

Faz com o corpo a saída do quarto do hotel e chega a rua. Ela está apenas com um sapato.

POMPIS: Devo está uma monstra. Mas vou fazer de conta que sou manca. Chegando ao pombal eu me arrumo toda. Espero que as meninas estejam dormindo. (Andando) Não acredito que vou ter que passar ali. Gente, o batalhão está sem apresentando e vou ter que passar na frente deles.  Mas logo assim? Já sei. Vou tirar o sapato e passar lá em frente correndo...
BATALHÃO: Marcha! Apresentar continência. (Cantam) Marcha soldado, cabeça de papel, quem não marchar direito vai preso pro quartel...

Pompis preparando-se para correr e passar em frente ao batalhão.

BATALHÃO: Marchando! Apresentar armas!  (Cantam) Marcha soldado, cabeça de papel, quem não marchar direito vai preso pro quartel...

Pompis corre, mas ao passar em frente ao batalhão eles param de cantar e ela olha pra trás.

BATALHÃO: (Começa a aplaudir e gritar) Eh! Eh! Eh!  (Cantam) Mulata bossa nova, caiu na Hully Gully, e só dá ela. Ê!Ê!Ê!Ê!Ê!Ê!Ê!Ê!Ê!Ê! Na passarela.
POMPIS: Por que vocês estão cantando essa? Eu não sou mulata!
BATALHÃO: Ei, você aí! Me dá um dinheiro aí! Me dá um dinheiro aí! Não vai dar?
Não vai dar não? Você vai ver a grande confusão, que eu vou fazer bebendo até cair
Me dá me dá me dá, ô! Me dá um dinheiro aí!
POMPIS: Estou lisa.
BATALHÃO: Você pensa que cachaça é água? Cachaça não é água não. Cachaça vem do alambique e água vem do ribeirão.
POMPIS: Pode me faltar tudo na vida, arroz, feijão e pão. Pode me faltar manteiga. E tudo mais não faz falta não.
BATALHÃO: Pode me faltar o amor, (Disto até acho graça). Só não quero que me falte
A danada da cachaça.
POMPIS: E quer saber? Vão tomar tudo no olho do cú!
BATALHÃO: Mas é Carnaval! Não me diga mais quem é você! Amanhã tudo volta ao normal. Deixa a festa acabar, deixa o barco correr.  Deixa o dia raiar, que hoje eu sou, da maneira que você me quer. O que você pedir eu lhe dou, seja você quem for, seja o que Deus quiser!Seja você quem for, seja o que Deus quiser!

FIM

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