domingo, 22 de janeiro de 2012

“UM ESPIRITO BAIXOU EM NÓS”, de Junior Texaco


Tema: Traição
Personagens : Nivaldo, o marido
                           Dagmar, a esposa
                           Claudio, o amante/anjo
                            Clorinda, a traida

(Dagmar e o amante Claudio, estão na maior farra na cama, quando entra Nivaldo , o marido)
Nivaldo – Daguinha meu bem, tive que vir antes do fim da missa, você nem sabe, começou a me dar uma dor de barriga e ei, mas o que é isso?
Dagmar – Calma Nivaldo, não é nada disso que você esta pensando meu amor.
Nivaldo – Mas eu não estou pensando nada eu estou vendo, está aqui na minha cara pra eu ver. Você com esse cara na nossa cama Dagmar, que que é isso? Vai dizer o que?
Dagmar – Anjo Nivaldo. Ele é um anjo
 Nivaldo – Como é que é?
Claudio (Enrolado no lençol como que uma roupa de anjo e fazendo uma voz angelical)– Sim irmão sou seu anjo da guarda e estou aqui, porque és um católico bom, puro e fervoroso.
Nivaldo – Anjo?
Dagmar – É Nivaldo, anjo . Sabe aquele centro espírita que eu tenho ido? Aquele lá na encruzilhada, lembra? Então…
Claudio – E então que eu atendi as suas preces. As suas orações não foram em vão meu irmão…
Nivaldo – Mas…é fascinante! Um anjo na minha casa! Um anjo! E tão nítido, tão…físico.
Dagmar – Você vê Nivaldo, que coisa? Ele estava me explicando justamente isso quando você chegou. Vê se você entende, os meus fluidos espirituais, sabe, fazem com que ele se materialize assim tão perfeito. É cientifico. Meus fluidos são poderosissimos Nivaldo, muito, mas muito magnetizantes. Por isso que ele é tão perfeito. Parece gente de carne e osso.
Claudio – Pois é irmão, fico igual a vocês. Até pra me locomover, saca? Abrir e fechar as portas, tocar nas coisas, beber cerveja, tudo humano, tá ligado?
Nivaldo – Deus seja louvado! É um milagre Um anjo na minha casa! Um anjo. (e cai de joelhos e começa a rezar baixinho)  
(Dagmar tentar se recompôr, veste qualquer coisa e Claudio faz o mesmo)
Claudio – É isso aí, irmão. Estou aqui pra trazer muito amor pra sua Daguinha. Muita luz e muita paz pro casamento de vocês é claro. Muitas bençãos, tá ligado?   
Nivaldo – Amem seu anjo.
Claudio – Claudio, me chamo Claudio terceiro ancanjo da arcada superior.
Nivaldo – Sabe Claudio, ando precisando de uns conselhos… (e saem os dois)
Dagmar – Como tem homem trouxa nesse mundo meu Deus.
(outro dia qualquer – o anjo agora mora com o casal, esta vendo novela e tomando cerveja, Dagmar preparando o jantar la dentro. Nivaldo chega do trabalho)
Claudio – Grande Nivaldino, como é que foi o seu trabalho hoje?
Nivaldo – Foi meio estressante viu?
Claudio – Mas porque, irmão? Que houve? Meus conselhos deram certo, você melhorou de vida.
Nivaldo – Sim, sim mas não é isso, é outra coisa que está me incomodando muito
(entra Dagmar)
Dagmar – Oi o jantar está pronto.
Claudio – Um momento irmã, estou ouvindo o irmão Nivaldo que tem o coração oprimido…
Dagmar (de saco cheio) Tá.
( Dagmar sai)
Nivaldo – É que eu comentei com meus amigos lá no escritório essa estória de ter um anjo morando aqui em casa sabe? E eles acabaram me irritando. Disseram (fica nervoso) me disseram um monte de besteiras (olha meio sem jeito) de você estar comendo minha mulher (e levanta rápido) mas eu sei que não verdade eu sei que você é anjo não é? (se aproxima e senta ao lado de Claudio encarando-o nos olhos) você é anjo não é?
(Claudio levanta e se aproxima por trás de Nivaldo, e pega em seus ombros)
Claudio – Irmão, não se deixe levar por comentários maldosos, o demônio tem muitas línguas.
Nivaldo – Ah, mas as pessoas quando querem são muito maldosas, sabe que disseram? Que tiveram a coragem de dizer? Que o anjo comia minha mulher ia acabar me comendo também, me deu ódio pensei que ia matar um. Já se viu me dizer uma coisa dessas na minha cara (vai se deixando abraçar e fica nas mãos do anjo) vou a missa todo domingo de manhã e de tarde, cumpro minhas obrigações de marido, ai que massagem boa, to relaxando, sabe? Estava tão tenso… vem cá vamos conversar lá dentro, quero conhecer mais seus poderes de anjo.
(Entra Dagmar)
Dagmar – Mas e o jantar…
Claudio – Depois irmã, agora preciso resolver uma importante questão luminosa e transcendental…
(Entram os dois para o quarto)
Claudio – Vou te ensinar os misterios sagrados da masculinidade…o relax sagrado dos homens espiritualizados e conectados com as forças masculinas, saca…vamos nessa Nivaldino, que a vida é uma só.
(Dagmar fica desconfiada)
Outro dia:
(Nivaldo está sentado lendo o jornal – entra Dagmar)
Dagmar – Vamos ter uma conversinha?
Nivaldo – Algum problema, meu bem?
Dagmar – Que historia é essa de ficar pra cima e pra baixo com o anjo hein? E eu?
Nivaldo – Você o que?
Dagmar – Se faça de besta que eu…nem sei, viu?
Nivaldo – Que é isso? porque está assim?
Dagmar – Estou assim porque vocês agora não desgrudam. Primeiro você sempre ia à feira comigo no sábado, agora se arranca com ele lá pra ilha das palmas e só volta na segunda feira!
Nivaldo – Daguinha não precisa ficar assim meu anjo, olha eu não fiz por mal.
Dagmar – (alterada) Ah vá, não fez por mal, né Nivaldino? Não é assim que ele te chama?
Nivaldo – (Alterado)Não precisa gritar! Pra que tanta histeria por causa de um anjo que é meu amigo.
Dagmar- Olha, a gente tem que resolver essa estória, porque sabe, esse anjo me cansou a beleza, parece até que eu estou sobrando nessa casa, minha vida ficou vazia, Nivaldo (abana-se entre as pernas) vazia, eu sinto um oco por dentro, tá me entendendo?
(Entra Claudio de cerveja na mão)
Claudio – Opa, mas porque tanto stress, olhem a aura de vocês, ficou toda cinza de repente, vamos clarear isso aqui, que está acontecendo?
Nivaldo – (sério) O negócio é o seguinte, Claudio, nossa relação chegou num impasse, eu queria permissão celeste para te fazer uma proposta, por mim continuava tudo como está, mas, já que ela faz questão.
Claudio – (sempre angelical) Pode dizer irmão sou todo ouvido, manda aí, papo reto.
Nivaldo – (abraça a esposa) Eu e a Daguinha queremos que você seja (pausa) nosso marido.
(Claudio toma um susto, mas logo se recupera e solta: )
Claudio – Aceito sim, irmão, os céus não condenam o amor livre saca? E a missão de um anjo é sempre acompanhar os seus protegidos, tá ligado?
(Toca a campainha)
Dagmar – Mas quem será justo agora…(e vai a abrir a porta. Abre. Entra Clorinda disfarçada de peruca loura e oculos escuros)
Clorinda – Sai da frente que eu sei que ele está aqui…
Dagmar – Mas o que é isso?
Clorinda (para ao ver Claudio) Seu maldito! Peguei você no pulo. É aqui que você trabalha agora? É aqui que você fica quando está muito ocupado e sem tempo pra mim?
Dagmar e Nivaldo assistem a cena espantados
Claudio – Meu amor deixa eu te explicar…
Clorinda – Explica isso seu cachorro traidor de uma figa…(e chora) me fez trair o meu marido, me deixou louca por e você e você aqui na casa dessa vagabunda enganando o marido dela também…não. Para. Não adianta mais me enrolar eu estou sabendo tintin por tintin o que está rolando aqui (puxa um revolver) vou acabar com a sua raça.
(Clorinda dispara o revolver e sai correndo nem dá tempo de prestarem atenção na perua de peruca loura e oculos escuros)
Dagmar chora abraçada ao corpo de Claudio, ao longe ouve-se uma sirene.
Nivaldo abraça Dagmar junto ao corpo.
Dagmar – Maldita. Assassina…fugiu… (e soluça).
Nivaldo – (abraçado à esposa) Não fica assim minha flor. Aquela moça é materialista. Atéia. Não acredita em anjo.

E a luz vai se apagando.

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