Uma grande metrópole. Apartamentos. Sala de jantar. Mesa. Amélia está sorridente. Pedro um pouco mais sério. Ela está do lado de cá. Do lado de lá está Pedro.
AMÉLIA: (Fala com clareza) Que bom jantar com você.
PEDRO: (Sem ouvir direito) Oi?
AMÉLIA: (Um pouco mais alto) Eu disse que é bom jantar com você.
PEDRO: (Meio sem graça) Que é isso? Eu é que gosto de jantar com você.
AMÉLIA: (Com carinho) Nossa, que gentil da sua parte... Assim eu até fico sem graça. (Rir)
PEDRO: Não foi minha intenção deixá-la sem graça.
AMÉLIA: Será que fiquei vermelha?
PEDRO: Não dá pra ver. Chega um pouco mais perto.
AMÉLIA: (Se aproximando) E agora? Vê?
PEDRO: (Olhando com atenção) Não dá pra ver.
AMÉLIA: (Rindo) É a luz. Sabe... Eu espero que você goste do prato.
PEDRO: Posso ver?
AMÉLIA: Claro.
PEDRO: (Aproximando-se) É suficiente?
AMÉLIA: São porções individuais.
PEDRO: Vendo assim está muito bonito. Colorido. Deve estar uma delicia.
AMÉLIA: (Rindo) Obrigado.
PEDRO: O que é mesmo?
AMÉLIA: É risoto de camarão.
PEDRO: Nossa. Adoro risoto de camarão.
AMÉLIA: É simples, mas está gostoso.
PEDRO: Imagino.
AMÉLIA: É rápido e prático de fazer.
PEDRO: Sabe de uma coisa?
AMÉLIA: O que foi?
PEDRO: Acho que vou pegar um vinho.
AMÉLIA: Ótima idéia.
PEDRO: Um vinho será ótimo.
AMÉLIA: Acho que vou pegar...
Pedro Sai. Um tempo. Amélia fica sozinha.
PEDRO: (Voltando) Aqui está. (Mostra a Amélia) Este é um Château Mouton-Rothschild.
AMÉLIA: Não estou vendo bem. Pode aproximar?
PEDRO: Claro que sim. Olha bem. Safra 1945. É uma raridade. Só em ocasiões especiais heim?
AMÉLIA: Só você mesmo. É uma lisonja pra mim.
PEDRO: Lison... O que?
AMÉLIA: (Rindo) Lisonja... (Rindo) Eu fico lisonjeada. Orgulhosa.
PEDRO: (Rindo) Ah sim. Entendi. Que bom que ficou assim... Assim... Como é mesmo?
AMÉLIA: Lisonjeada.
PEDRO: Isso... Isso... Lisonjeada.
AMÉLIA: Você é muito bacana.
PEDRO: Obrigado. E você é linda.
AMELIA: Obrigada.
PEDRO: Posso te pedir uma coisa?
AMÉLIA: Claro. Mas cuidado com a garrafa de vinho... Assim vai derrubá-la.
PEDRO: (Rindo) É que quando olho pra você, esqueço de tudo. (Coloca a garrafa de vinho a um canto)
AMÉLIA: Mas o que você queria mesmo?
PEDRO: Posso olhar pra você?
AMÉLIA: (Sem graça) Claro. (Mostra-se)
PEDRO: Você é muito linda mesmo.
AMÉLIA: (Sem graça) Obrigado. É melhor abrir o vinho...
PEDRO: (Pegando o vinho) Nossa que cabeça. Fiquei te olhando e até esqueci. Espero que você sinta lisonja...
AMÉLIA: (Rindo) Metido.
PEDRO: Agora esta palavra fará parte do meu vocabulário. (Os dois riem) Faltou o saca-rolha.
AMÉLIA: Pega lá!
PEDRO: Vou pegar. (Sai)
AMÉLIA: (Num tom mais alto) Assim o risoto vai esfriar. É bom começar a comer.
PEDRO: (De fora) Vamos sim. Espera só um minuto pra abrir o vinho. (Voltando) Achei o saca rolha.
AMÉLIA: Então abre.
PEDRO: (Abrindo o vinho) Opa. Agora é só servir.
AMÉLIA: (Batendo palmas como uma criança) Que lindo. Vamos brindar?
PEDRO: Vamos sim. Deixa-me pegar a taça. (Sai)
AMELIA: Vou pegar a minha também (Sai)
PEDRO: (Num tom mais alto) Eu vou pegar a melhor que tenho.
AMÉLIA: (Voltando) Eu já estou com a minha.
PEDRO: (Voltando) Agora é só brindar.
AMÉLIA: É só brindar...
Os dois param por um tempo. Ocorre um pequeno silêncio.
PEDRO: Que pena...
AMÉLIA: É mesmo. Como fazer um brinde assim?
PEDRO: Assim nesta distancia não dá.
AMÉLIA: Não dá mesmo. Se pelo menos estivéssemos mais próximos...
Os dois param novamente e há outro pequeno silêncio.
PEDRO: Mas não vamos estragar o jantar por causa disso.
AMÉLIA: Temos o risoto, o vinho...
PEDRO: Vamos sentar?
AMÉLIA: Claro. Mas e o brinde?
PEDRO: Fica pra próxima.
AMÉLIA: (Com tristeza) É mesmo.
PEDRO: É uma pena, mas... (ELE DESAPARECE DA TELA)
AMÉLIA: (Brava) Caiu a conexão. A net é uma merda mesmo.
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