quarta-feira, 20 de julho de 2011

JANTAR PARA DOIS de Ronaldo Fernandes

Uma grande metrópole. Apartamentos.  Sala de jantar.  Mesa. Amélia está sorridente.  Pedro um pouco mais sério. Ela está do lado de cá. Do lado de lá está Pedro.

AMÉLIA: (Fala com clareza) Que bom jantar com você.
PEDRO: (Sem ouvir direito) Oi?
AMÉLIA: (Um pouco mais alto) Eu disse que é bom jantar com você.
PEDRO: (Meio sem graça) Que é isso?  Eu é que gosto de jantar com você.
AMÉLIA: (Com carinho) Nossa, que gentil da sua parte... Assim eu até fico sem graça. (Rir)
PEDRO: Não foi minha intenção deixá-la sem graça.
AMÉLIA: Será que fiquei vermelha?
PEDRO: Não dá pra ver. Chega um pouco mais perto.
AMÉLIA: (Se aproximando) E agora? Vê?
PEDRO: (Olhando com atenção) Não dá pra ver.
AMÉLIA: (Rindo) É a luz.  Sabe... Eu espero que você goste do prato.
PEDRO: Posso ver?
AMÉLIA: Claro.
PEDRO: (Aproximando-se) É suficiente?
AMÉLIA: São porções individuais.
PEDRO: Vendo assim está muito bonito. Colorido.  Deve estar uma delicia.
AMÉLIA: (Rindo) Obrigado.
PEDRO: O que é mesmo?
AMÉLIA: É risoto de camarão.
PEDRO: Nossa. Adoro risoto de camarão.
AMÉLIA: É simples, mas está gostoso.
PEDRO: Imagino.
AMÉLIA: É rápido e prático de fazer.
PEDRO: Sabe de uma coisa?
AMÉLIA: O que foi?
PEDRO: Acho que vou pegar um vinho.
AMÉLIA: Ótima idéia.
PEDRO: Um vinho será ótimo.
AMÉLIA: Acho que vou pegar...
Pedro Sai. Um tempo.  Amélia fica sozinha.
PEDRO: (Voltando) Aqui está.  (Mostra a Amélia) Este é um Château Mouton-Rothschild.
AMÉLIA: Não estou vendo bem. Pode aproximar?
PEDRO: Claro que sim. Olha bem.  Safra 1945. É uma raridade. Só em ocasiões especiais heim?
AMÉLIA: Só você mesmo. É uma lisonja pra mim.
PEDRO: Lison... O que?
AMÉLIA: (Rindo) Lisonja... (Rindo) Eu fico lisonjeada.  Orgulhosa.
PEDRO: (Rindo) Ah sim. Entendi. Que bom que ficou assim... Assim... Como é mesmo?
AMÉLIA: Lisonjeada.
PEDRO: Isso... Isso... Lisonjeada.
AMÉLIA: Você é muito bacana.
PEDRO: Obrigado. E você é linda.
AMELIA: Obrigada.
PEDRO: Posso te pedir uma coisa?
AMÉLIA: Claro. Mas cuidado com a garrafa de vinho... Assim vai derrubá-la.
PEDRO: (Rindo) É que quando olho pra você, esqueço de tudo. (Coloca a garrafa de vinho a um canto)
AMÉLIA: Mas o que você queria mesmo?
PEDRO: Posso olhar pra você?
AMÉLIA: (Sem graça) Claro.  (Mostra-se)
PEDRO: Você é muito linda mesmo.
AMÉLIA: (Sem graça) Obrigado. É melhor abrir o vinho...
PEDRO: (Pegando o vinho) Nossa que cabeça. Fiquei te olhando e até esqueci.  Espero que você sinta lisonja...
AMÉLIA: (Rindo) Metido.
PEDRO: Agora esta palavra fará parte do meu vocabulário. (Os dois riem) Faltou o saca-rolha.
AMÉLIA: Pega lá!
PEDRO: Vou pegar. (Sai)
AMÉLIA: (Num tom mais alto) Assim o risoto vai esfriar.  É bom começar a comer.
PEDRO: (De fora) Vamos sim. Espera só um minuto pra abrir o vinho. (Voltando) Achei o saca rolha.
AMÉLIA: Então abre.
PEDRO: (Abrindo o vinho) Opa. Agora é só servir.
AMÉLIA: (Batendo palmas como uma criança) Que lindo. Vamos brindar?
PEDRO: Vamos sim. Deixa-me pegar a taça. (Sai)
AMELIA: Vou pegar a minha também (Sai)
PEDRO: (Num tom mais alto) Eu vou pegar a melhor que tenho.
AMÉLIA: (Voltando) Eu já estou com a minha.
PEDRO: (Voltando) Agora é só brindar.
AMÉLIA: É só brindar...
Os dois param por um tempo.  Ocorre um pequeno silêncio.
PEDRO: Que pena...
AMÉLIA: É mesmo. Como fazer um brinde assim?
PEDRO: Assim nesta distancia não dá.
AMÉLIA: Não dá mesmo. Se pelo menos estivéssemos mais próximos...
Os dois param novamente e há outro pequeno silêncio.
PEDRO: Mas não vamos estragar o jantar por causa disso.
AMÉLIA: Temos o risoto, o vinho...
PEDRO: Vamos sentar?
AMÉLIA: Claro. Mas e o brinde?
PEDRO: Fica pra próxima.
AMÉLIA: (Com tristeza) É mesmo.
PEDRO: É uma pena, mas... (ELE DESAPARECE DA TELA)
AMÉLIA: (Brava) Caiu a conexão.  A net é uma merda mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário